segunda-feira, 14 de setembro de 2009

UM RIO EM SÃO LUIS

Artigo publicado na seção Hoje em dia
de O estado do maranhão, sábado passado


UM RIO EM SÃO LUIS

José Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com





Não, não estamos falando do Rio Anil ou do Rio Bacanga, mas do Rio de Janeiro, Fevereiro e Março, como dizia Gilberto Gil. Basta refletir um pouco para constatar que as duas cidades se encontram em muitos pontos
Comecemos pelos times de futebol. Se os do Rio começaram a ter especial atração pela segunda divisão, os daqui começaram a ter pela terceira. Pelas cores rubro-negras o Moto teria tudo para ser o Flamengo daqui (como se parecem no futebol que têm jogado, com a vantagem de que, para isso, o Moto nem precisa de imperador). Neste caso, o Sampaio Correia seria o Vasco e o Maranhão o Fluminense, justamente porque O Maranhão ninguém sabe mais se existe, enquanto que o outro - o Fluminense - está se esforçando para isso.
O Rio, como todos sabem, tem como cartão-postal a estátua do Cristo Redentor. Já, São Luis, tem sua equivalente na estátua de Gonçalves Dias. Os dois contemplam o mar lá de cima; um como nosso salvador, o outro, como nosso grande poeta.
Em termos de praias, a do Olho D`Água tem tudo para ser a nossa Copacabana , como, aliás, já foi chamada. Parecem-se desde a poluição, passando pelos “points” e invasões: lá, de morros, aqui de terrenos. O declínio do Olho D`Agua como referência da “juventude dourada” aconteceu quase ao mesmo tempo da outra. Hoje, a tal “gente bonita” parece se concentrar mais na praias do Caolho e Calhau, que seriam as nossas Ipanema e Leblon. O Araçagi, então, seria a Barra da Tijuca, inclusive porque a cidade está se esticando práquelas bandas à semelhança do que aconteceu no Rio. Lá, os arrastões, por aqui o Manzuá.
A Ponta d`Areia com a sua proximidade do centro, e pela poluição visual e arquitetônica, seria equivalente à do Flamengo (ou do Botafogo) com a diferença de que, no Rio, os prédios têm a educação de ficar do outro lado da Avenida. Em São Luis, como todos sabem, ficam por cima da areia, quase invadindo o oceano. (Aliás, como existe em Fortaleza uma praia chamada do Futuro, o mais certo seria mudar o nome da Ponta D`Areia para Praia do Passado, porque um dia já foi ponta e agora não passa de uma pontinha d`água, cercada de edifícios por todos os lados)
Quanto aos bairros, enquanto os do Rio têm nomes exóticos e sonoramente bonitos, como Flamengo, Copacabana, Ipanema, Tijuca, os daqui têm nome de gente, João Paulo, Pantaleão e Filipinho. Se lá tem Santa Teresa aqui tem o Anjo da Guarda. Se lá tem Nossa Senhora de Copacabana aqui vive a Madre Deus (não seria a mesma?). São Cristóvão e Jardim América existem lá e cá. O que no Rio é um estádio de futebol, Maracanã, por aqui virou bairro e o que lá é bairro (Castelo) por aqui virou estádio de futebol.
Poucas são as capitais que se dão ao luxo de invadir suas marés com caminhões de terras, e por aí se vê que até nisso se equivalem. No Rio fica o Aterro do Flamengo, onde construíram um túmulo para homenagear o soldado desconhecido, mas que hoje teria muito mais utilidade se homenageasse os que morrem de bala perdida. Por sua vez São Luis também tem o seu aterro, igualmente grandioso: o do Bacanga. Embora o daqui não tenha túmulo, o que existe de idéia enterrada para tentarem descobrir nele alguma serventia não está escrito!
De santo padroeiro as duas cidades estão bem servidas, embora São Luis leve uma pequena vantagem. Enquanto o único padroeiro do Rio é o que deu nome à cidade: São Sebastião, nossa cidade, tem São Luis, seu santo fundador, e, de quebra, São José de Ribamar. Como a violência carioca está chegando rapidamente por aqui em breve nosso santo protetor terá que pedir ajuda à vasta experiência de São Sebastião: primeiro com flechas, agora com balas.
Se o Rio tem o samba, São Luis tem o bumba-boi. Se o Rio teve Nelson Cavaquinho, São Luis teve João do Vale. Para o pianista Artur Moreira Lima, o violonista Turíbio Santos, para a sambista Beth Carvalho a igualmente sambista Alcione. Para Machado de Assis, Aluízio Azevedo, e para Nelson Rodrigues, Artur Azevedo. Até para as tendências musicais de início-de-século há equivalências, desta vez terríveis: lá, o funk, aqui o forró eletrônico.

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