terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

UMA QUESTÃO PESSOAL

Artigo publicado na seção Hoje é dia de...
sábado passado em O estado do Maranhão

UMA QUESTÃO PESSOAL


Jose Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com






Uma questão pessoal, soberba ou inveja: uma das três, ou as três ao mesmo tempo. Somente assim se explica porque o técnico Dunga, da seleção brasileira de futebol não convoca para a seleção brasileira de futebol o jogador Ronaldinho Gaúcho, um dos melhores do mundo na década e, ainda hoje, o mais talentoso jogador brasileiro em atividade.
A explicação dada pelo técnico não convence ninguém. Não convence os fãs africanos que gostariam de ver de perto seu ídolo, não convence seus admiradores no mundo todo e não convence ex-jogadores da estirpe de Maradona, admirador do seu futebol e incrédulo diante de sua não convocação. Primeiro, o técnico Dunga disse que o jogador precisa mostrar que o seu futebol ainda é o mesmo, para merecer a convocação. Ora, isso Ronaldinho tem mostrado de sobra, como comprovam as manchetes dos jornais europeus diante de suas últimas atuações. Não fosse por isso, porém, bastaria assistir a dois ou três lances do craque para concluir que Ronaldinho nem precisa mostrar todo o seu futebol para ser melhor do que gente do quilate de Julio Batista, Elano, Josuel, Ramires e mais uma penca, habituais “preferidos de Dunga”.

Quando contestado pelos repórteres sobre o porquê dessa fajuta decisão Dunga recorre à sua manjada tese do “amor à camisa”, talvez porque deva a ela a sua ascensão como técnico. Para quem não se lembra, Dunga estava completamente esquecido no cenário futebolístico, quando foi sacado, como um coelho, da cartola do “mágico” Ricardo Teixeira, presidente da CBF, depois do fiasco da última copa. Tentando tirar de cima dos seus ombros a responsabilidade pelos desmandos administrativos ocorridos no transcorrer da competição, Ricardo jogou a culpa nos três jogadores principais ( Ronaldo fenômeno, Ronaldinho e Kaká ) e os acusou de irresponsáveis e inconseqüentes, elegendo como contraponto para isso o burocrático e medíocre, mas esforçado Dunga, como o novo modelo a ser seguido.

Mas o que é mesmo esse tal de amor à camisa de que tanto se fala? Seria o patriotismo, de araque, que irrompe da voz de Galvão Bueno ou o entusiasmo efêmero de brasileiros, que só se lembram de ser patriotas em época de copa do mundo? Ou deveria ser o senso de profissionalismo que todo ser humano deve ter, independente da camisa que veste, a bem de sua própria realização? Ora, se Dunga está falando de profissionalismo então não deveria ter convocado Adriano, do Flamengo, que desapareceu do clube que lhe pagava na Itália para vir jogar no Rio, onde se acostumou a faltar treinos e a aparecer na hora em que bem entende. O que nos leva a concluir que argumento falho é o que não falta à boca de Dunga quando se propõe ao exercício de desprestigiar o craque do Milan, deixando transparecer toda a soberba que o norteia, por trás de sua implicância.
Soberba por quê? Talvez porque seja muito fácil ser arrogante, quando se dirige uma seleção brasileira de futebol. Trata-se, de um plantel que conta sempre com uma infinidade de craques, e que nem precisa dispor do melhor para ganhar uma Copa. Foi assim em 1962 quando nem precisou de Pelé ( havia ainda Garrincha e Amarildo) e foi assim em 2002 quando prescindiu de Romário (havia Rivaldo e Ronaldo, o fenômeno) Enfim, ao contrário do que se anuncia, ser técnico da seleção brasileira de futebol é um dos melhores empregos do mundo: ganha-se rios de dinheiro, adquire-se prestígio internacional e sua única “dificuldade” é justamente a fartura da matéria-prima. Dificuldade? Seria essa a mesma dificuldade a ser enfrentada por alguém, cuja profissão fosse a de ser milionário, e tivesse como único obstáculo o trabalho de conferir o excesso de dinheiro.
Pois Dunga já percebeu isso e, trata com indiferença o jogador do Milan, plenamente convicto de que pode ganhar a copa sem ele, o que é verdade. Para isso basta montar (como ele vem fazendo) uma equipe cheia de cães de guarda na defesa, deixando a coisa lá na frente para Kaká e Luis Fabiano resolverem. Isso, já foi suficiente em 1994 quando, mesmo jogando um futebol medíocre para os padrões brasileiros, o Brasil ganhou uma copa - nos pênaltis. Dunga, não coincidentemente, era um desses cães de guarda da seleção. Nada mais coerente que pretenda reviver, na seleção que dirige, o mesmo estilo “joga feio, mas ganha”, certo de que sua vitória representará a consagração do seu estilo.
O que faz aflorar, além de sua arrogância a sua inveja. Suas contradições mal conseguem disfarçar sua frustração por não ter tido a capacidade de Ronaldinho Gaúcho de fazer do futebol uma obra de arte. (Essa inveja tão própria da natureza humana – a do medíocre pelo talentoso, a do puramente esforçado pelo gênio – já teve sua crônica esmiuçada no filme Amadeus, quando seu diretor inspirou-se no esforçado compositor Salieri para contrapor o drama do medíocre diante do talento que a natureza sobeja a alguns poucos, como Mozart).
Não deveria esquecer, porém, de que a obrigação de qualquer técnico da nossa seleção não é apenas ganhar uma Copa, como também, faze-lo de forma incontestável, jogando bonito, sim. Assim aconteceu nas seleções de 58, 62, 70 e 2002. Ao optar por não convocar um dos melhores jogadores do mundo Dunga joga sua grande cartada, certo de que ganhará a copa jogando burocraticamente, mas dificilmente atingirá, dessa forma, a glória que almeja.
Pode até ganhar, mas não conseguirá acrescentar muita coisa ao seu
currículo. Ao confrontar craques e tentar dilapidar o estilo que fez a glória do futebol brasileiro apenas corre o risco de, como técnico, passar para a história como o jogador medíocre que sempre foi.

2 comentários:

  1. Perfeitas as suas considerações sobre o Dunga, pena que em favor de um Ronaldinho que, exceto por um gol em que foi cruzar e errou e foi gol, e gols contra times mediocres como a Venezuela nunca fez nada na seleção. O outro sim, o verdadeiro Ronaldinho, gordo, com uma perna só um olho só, um braço só ainda é melhor e mais eficiente que todos que estão citados aí.

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  2. Talvez porque exige-se de Ronaldinho Gaucho o futebol sempre à altura do que ele pode oferecer.
    De qualquer forma, sem jogar tudo o que pode, ainda merece uma vaga, não acha? Nem na reserva?
    É aí que entra a contradição DUNGA

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