sábado, 18 de setembro de 2010

NOVOS MANÍACOS DO VOLANTE

Texto publicado em O Estado do Maranhão,
caderno Alternativo, seção Hoje é dia de...hoje, sábado


NOVOS MANÍACOS DO VOLANTE

José Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com




Coisa de 7 anos atrás, baseado numa seleção de um amigo psiquiatra, descrevi, numa crônica, os tipos de desajustados mais comuns que se viam – e ouviam – pelas ruas e avenidas das capitais brasileiras. Nessa ocasião foram listados alguns desses maníacos crônicos, ao qual se adicionou o título mais apropriado a cada patologia. Complexo de Ayrton Sena ( ao obsessivo por velocidade) ; Complexo de Imperador da Avenida ( ao viciado em obstruir avenidas) ; Complexo de Mike Tysson ( ao xingador do motorista vizinho) etc. etc.
Mas a insanidade, por incrível que pareça, evoluiu mais ainda nestes últimos anos e - pasmem! - novos maníacos surgiram. Vamos a eles:

1. Complexo de Raposa do Deserto.
Dias atrás, o cronista Ruy Castro lamentou , numa crônica, que as avenidas e ruas das cidades tenham deixado de ser vias de acesso para se transformarem em desfiles de tanques de guerra. É isso! De alguns anos para cá, uma horda de maníacos, quase sempre sozinhos, passaram a dirigir veículos que mais parecem tanques de guerra: enormes, incômodos, horríveis e pouco práticos, tornando o ato de locomoção automotora , agora sim, uma verdadeira batalha. Por que razão um ser humano, se prestaria a tanto constrangimento, num trânsito tão congestionado?
Para o amigo psiquiatra tais seres são desprovidos do mínimo senso de apreço ao bem-estar comunitário. Por um desvio de personalidade, carecem se impor a qualquer custo, acreditando piamente que dirigir um veículo imponente o tornará alguém digno de ser admirado. O título de Raposa do Deserto (como era cognominado Rommel, o general alemão) lhes é apropriado, ironicamente, primeiro porque assumem a pose de generais e, segundo, porque agem com seus “tanques de guerra” como se estivessem num deserto, ao invés de numa via pública.
Uma segunda razão, menos psicológica, é a da falta de dinheiro, mesmo. Só a penúria financeira explica que um sujeito se sacrifique com uma picape enorme pelas ruas estreitas da cidade quando o mais viável – se tivesse dinheiro – seria possuir, além desse, um carro menor e confortável, para melhor se locomover pelas ruas apertadas de sua cidade.

2. Complexo de Fantasma das Avenidas.
É o sujeito que acredita que basta tomar posse do volante do seu carro para se transformar num fantasma. Vidros totalmente obscurecidos, a meta principal desse novo tipo de maníaco é agir como se, a salvo de olhares, ninguém desse conta de sua presença. Estacionam nos locais mais improváveis e incômodos e param para conversar, desde com o carona do lado até com cachorro que late ao longe ou com a pulga que o está incomodando. Enquanto isso...
O pior desse tipo de mania é que ela tornou-se epidemia e, contagiados, os guardas de trânsito deram também para agir como se fossem fantasmas. Se um sinal enguiça, ou acontece um acidente, eles, viram fantasmas e nunca aparecem. Só deixam de serem visagens, na hora de bater papo ou de multar carros nos raros estacionamentos. É quando surgem, de cinco a seis, aos trambolhões.

3. Complexo de Motoqueiro Kamikaze.
Acredite ou não em espiritismo, tudo leva a crer que os trágicos japoneses, que se mataram na ultima grande guerra, estão reencarnando no Brasil, na forma de motoqueiros kamikases. Sobre suas motos eles se jogam de frente, de lado e de costas. Às vezes, tem-se a impressão de que eles querem atravessar a carcaça do automóvel, do ônibus ou do trem que se atravessar no caminho já que não existe, para eles, quebra-mola impossível, calçada intransponível, jardim a ser respeitado. Têm especial predileção por valas e crateras o que indica que já estariam enxergando, provavelmente, o próprio túmulo.
Com tanta vocação suicida à solta, o cuidado de todo motorista tem de ser redobrado para não tornar-se, ele também, o ator coadjuvante de mais um “haraquiri”, sem direito à segunda sessão. Como todos sabem, quando um suicida morre sempre sobra para um culpado vivo.


4. Complexo de Masturbador de Buzina
Trata-se do psicopata que não pode ver uma buzina de carro à sua frente que já começa a aperta-la freneticamente, como se estivesse querendo ter um orgasmo com a mesma. Tudo é motivo para esse tresloucado apertar a buzina do seu veículo: uma mosca no pára-brisa do carro, o sinal de uma barreira eletrônica, o berro de um cantor, no som do carro. Quando retido num sinal, por mais de dois segundos, o maníaco fica em polvorosa e, antes mesmo de o sinal abrir já está ele, apitando feito um desesperado como se o carro à sua frente, não estivesse submetido também à lei física da inércia, que o impede de sair voando como o maníaco gostaria.
Tanta obsessão da parte do Masturbador... pode provocar danos irreversíveis nas suas esposas ou namoradas que, por precaução, devem procurar manter o bico dos seus seios a salvo das mãos inquietas do psicopata. A solução psiquiátrica para essas pobres mulheres, segundo o meu amigo é simples: dar-lhe uma vuvuzela de presente, ou, melhor ainda, um chifre, para que ele pense duas vezes, antes de ser tão estúpido.

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