sábado, 8 de janeiro de 2011

A ARTE DE CRIAR MINISTÉRIOS

artigo publicado na seção Hoje é dia de...
do caderno Alternativo, hoje , sábado

A ARTE DE CRIAR MINISTÉRIOS


José Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com


1. Ninguém entende a necessidade de tanto ministério. Tudo leva a crer que os ministérios são criados, mais ou menos assim:
A presidente, já de saco cheio, põe-se a discutir com seus homens de confiança os nomes para o ministério. No caso (como ela mesmo fala), com seus três porquinhos. Um deles diz:
- Os caras do PC do W continuam aporrinhando muito.
- O que esses imbecis pretendem?
- Um ministério para eles, claro.
- Ora, já dei ministro para tudo que é partido, de tudo quanto é letra do alfabeto. O que eles querem? Que eu invente mais uma letra?
- Eles querem um ministério de qualquer jeito.
- Quantos já existem por aí?
- Acho que trinta e sete.
- Tem certeza?
- Até duas horas atrás eram trinta e seis, lembra? A gente acabou de criar mais um para agradar o PC do Y.
- Qual?
- O ministério de Política para Mulheres.
- Política para mulheres? Quem foi capaz de inventar essa asneira?
- A senhora mesma, presidente. Oh, desculpe, presidenta, esqueci que a senhora prefere ser chamada presidenta. Pois eu juro que foi a senhora mesma, dá para recordar?
- Ah, sim. Mas o ministro escolhido, ao menos foi mulher?
- Sim, foi a Iriny Lopes, lembra?
- Pois então, está resolvida a nossa questão.
- Como? A senhora podia explicar melhor?
- Que tal criarmos mais um ministério: o de Política para Homens? Com isso criaríamos mais um cargo e a turma do PC do W, finalmente calaria a boca.
- Uma brilhante idéia, presidenta, mas tem um inconveniente. O único nome, de nossa confiança que existe no PC do W não pode assumir um ministério com esse nome.
- Por quê?
- Ele é gay declarado. A senhora esqueceu?
...E, assim, evitou-se mais um ministério: o de Política para Homens.


2. O principal problema para quem vai assumir um ministério desses, destinado a ser engolido por outro mais forte, deve ser o de saber o que vai ter de fazer lá. O Governo já deveria ter pensado num manual. Isso mesmo, só um manual para Ministros sem Ministérios solucionaria esse drama, já que poderia explicar, em detalhes, tudo o que o sujeito tem a fazer (na verdade, não fazer) para dar a impressão de que está fazendo alguma coisa.
Uma ministra da igualdade racial, por exemplo, vai levar pelo menos uns dois anos para descobrir o que é de sua alçada e não da Justiça, já que igualdade racial sempre foi um problema de Justiça. O pior é que, depois de descobrir isso vai levar mais dois anos (o resto do seu mandato) para descobrir também o que é de sua alçada e não dos Direitos Humanos, já que igualdade racial, sempre foi uma questão de direitos humanos.
Só mesmo um manual!

3. São tantos os ministérios que a presidenta vai passar seus quatro anos de mandato sem falar com vários ministros. Um belo dia, esquecida completamente deles, será surpreendida.
- Sra. Presidenta, morreu a ministra
- Deus do céu, que ministra?
- A das Comunicações Institucionais.
- Comunicações Institucionais? Que diabo é isso?
- Até hoje ninguém sabe. Nem ela. Mas foi criado para resolver aquele problema da divisão de cargos. Lembra? Já havia um ministro da Segurança Institucional e outro das Relações Institucionais. Na época chegamos à conclusão de que Institucional é uma palavra que serve para tudo e que seria capaz de socorrer a gente em mais esse caso. Então criamos a Comunicação Institucional para ela.
- E quem era a mulher que estava nesse ministério? Diga-me logo, por favor?
- Oh, meu Deus, não é que acabei de esquecer?
- Mande hastear a bandeira, ministro, mande hastear. E divulgue imediatamente o luto oficial. De cinco dias, não. Bote trinta, em memória dessa coitada, de quem nem a gente lembra o nome.

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