terça-feira, 24 de maio de 2011

REI É REI, PLEBEU É PLEBEU, BANDIDO É BANDIDO.


ewerton.neto@hotmail.com




1. Para que o esperto exista, é necessário que exista também um otário, é a “lei da esperteza”. Assim também só existem reis porque existem plebeus. No mundo globalizado de hoje em que são insignificantes as diferenças de aparência e comportamento humano, seria válido corrigir: “porque existe gente que gosta de ser plebeu” ou, mais exatamente, “pessoas que precisam de reis para adorar”.
Isso explica porque tanta gente, que vive se queixando do ritmo acelerado da vida cotidiana, tenha se sujeitado, semana retrasada, a prestar tanta atenção a um fato corriqueiro, ou seja: a união de dois mortais, príncipes ou não. Que a mídia disso se ocupe tentando extrair alguma vibração das sensaborias corriqueiras de uma celebração comum, até entende-se, mas a submissão atordoante de toda uma população mundial a esse fato, sem que ninguém tenha se dado conta de sua insignificância é que causa estupefação. Ora, que significa um príncipe e seu casamento, principalmente para um povo que nada tem a ver com isso, como o brasileiro?


2. Talvez porque essa seja mais uma das incoerências, tão características do gênero humano: a de transferir o sentimento de sua insignificância para a idolatria de outro. Quando as diferentes raças humanas criaram seus deuses, segundo os cientistas, a mitificação de um ser superior, abstrato, incorpóreo e absoluto surgiu exatamente para suprir esse tipo de carência, mas, e no caso da adoração a seres humanos iguais, onde e como surgiu?
Recorrendo à teoria da evolução talvez descobríssemos que essa dependência se originou quando éramos animais selvagens e lutávamos nas savanas para sobreviver, direcionada àquele que fosse mais forte fisicamente, para que nos amparasse e protegesse. Essa admiração - e submissão - do mais fraco pelo mais forte, evoluiu ao longo de milênios até se fincar no líder, aquele capaz de conduzir um grupo à subsistência. O líder transformou-se, milênios após, nos reis da era cristã, até chegar aos de hoje, que não governam mas perpetuam os símbolos de nossa reverência imemorial.
Não é à toa que – na falta de reis – os inventamos. Xuxa á rainha dos baixinhos, Pelé é o rei do futebol, Roberto Carlos é o rei da música. Luan Santana é rei sabe-se lá de quê. O culto desenfreado dos brasileiros à celebridades insípidas como os atores das telenovelas e os cantores de terceira categoria , ao fim, não passa disso: da falta de reis a quem adorar.


3. Tanta avalanche dessa aura (de reis e reinados) nos pegou desprevenidos quando, simultaneamente, surgiu, do outro lado do Globo, outro rei onde depositar nossa adoração . O jornal New York Times ao mesmo tempo em que publicava em primeira página o beijo do príncipe em sua graciosa princesa, expunha abaixo da imagem – como se tratasse do mesmo fenômeno - a notícia da morte de Osama Bin Laden.
Outro rei? Sim, o tratamento póstumo dado a Osama pelas comunidades muçulmanas passou a ser digno de grandes heróis e mártires, enfim de deuses ou reis. Pouca gente, porém, percebeu que a reportagem citada, ao relacionar acontecimentos tão díspares, em essência revelava iguais faces da mesma moeda: enquanto o Ocidente se curvava para idolatrar o casamento de dois bobos comuns, o Oriente patrocinava a elevação de um terrorista cruel à categoria de herói. .
Pois que tipo de nobreza pode ser atribuída a um homem que manda matar inocentes, covardemente? Cada horda humana escolhe o rei que quer, quando quer e quando precisa, é essa a sina desse monstro sem rosto e sem cérebro denominado povo. Que um aconteça no ocidente festivo e rico e outro no oriente pobre e carente, nada disfarça a extraordinária semelhança desses fatos no âmago de sua densidade real . Brancos e louros, tatuados feito palhaços, perdendo noites de sono para assistirem a um mero enlace matrimonial, são da mesma natureza dos párias orientais, castigados pelo fanatismo e pela ignorância, transformando sanguinários em heróis.
Reis, de fato, não são reis, mas meras projeções de uma carência coletiva cuja aspiração é ter direito a cinco segundos de fama, terroristas jamais serão heróis, mas covardes traiçoeiros que executam milhares à custa de suicidas. Só a gigantesca e eterna massa de iludidos (seja no Oriente ou no Ocidente) é a mesma em todo lugar.

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