segunda-feira, 19 de setembro de 2011

TERROR E HORROR, DEZ ANOS DEPOIS

artigo publicado no jornal O estado do Maranhão, seção
Hoje é dia de...Caderno Alternativo, sábado


Terror e Horror. Dez anos  depois da tragédia em Nova Iorque que abalou o mundo, do horror já esquecemos, mas o terror continua assunto do dia. Talvez porque o horror, esta palavra que significa violenta sensação de medo e padecimento atroz, tenha sido vivido apenas pelos milhares de vítimas que há dez anos tiveram suas vidas interrompidas. Para mortos assim, envolvidos em batalhas das quais não participavam, edificamos  monumentos , tomamos uma coca-cola, fazemos discursos, e a vida continua
                   Mesmo que tenham padecido  “o horror, o horror!” de que falava Marlon Brando no filme O coração das trevas   , baseado na obra prima de Joseph Conrad. No caso deles, um horror tão real quanto bestial, tão pouco cinematográfico quanto  demasiadamente humano, porque causado pelo próprio homem.
                  Ora, se  estes (os terroristas ) são especialistas em disseminar o horror, por que continuam à solta, e às vezes chegam a ser venerados pós-morte, como aconteceu com Osama Bin Laden? Por que ainda há quem os defenda em nome de ideologias? Isso nos leva, dez anos após, a refletir sobre a matéria de que são constituídos e que os faz germinar um após  outro, para sempre, infelizmente e indefinidamente.  

                   CRUELDADE – Uma ocasião  perguntaram a Napoleão Bonaparte o que era preciso para ganhar uma guerra. Ele  respondeu: Dinheiro, muito dinheiro, bastante dinheiro! Ao perguntar-se a um aliciador  de terroristas o que seria necessário para formar um exército perfeito ele certamente diria : prometer-lhes crueldade, muita crueldade, bastante crueldade.
                   ESTUPIDEZ – Para um terrorista não pode faltar o tipo de estupidez que não vem da ignorância, mas da incapacidade de refletir. Ao contrário do bom Don Quixote que no afã de defender a nobreza perdida do ser humano se dirigia contra moinhos de vento, o terrorista é capaz de enxergar até torres de concreto como suas inimigas, e de derrubá-las sobre os corpos de milhares de vítimas, curiosamente os mesmos inocentes em defesa dos quais tenta justificar a sua maldade.
                   COVARDIA  Não pode haver terrorista sem elevada dose de covardia: a daquele que se insurge contra pessoas frágeis e indefesas com medo de enfrentar, de igual para igual, militares, Ao se imolarem, fingindo-se de heróis ou patriotas, pretendem que não se reconheça a monumental covardia daquele que se esconde da vocação de monstruosidade, através da própria morte.
                ÓDIO – Um terrorista precisa possuir um ódio  pessoal , imenso, avassalador. Mas, ao contrário do que muitos pensam o grande ódio do terrorista não nasce da revolta contra esse ou aquele, mas contra si mesmo. Com medo e vergonha de se suicidar sozinho e sem justificativa para viver, tenta pelo menos iludir a memória, doando-se uma importância que nunca teve em vida, mesmo que para isso tenha de levar de roldão pessoas inocentes.     

                  
         2. Isto posto, deveria ficar para a humanidade a questão de por que somos eternamente incapazes de isolar a maldade. Em nosso país,  tantas vezes justificamos a violência como tendo por fundo uma causa social quando sabemos que não é isso,  que para contestar essa idéia bastaria apontar a quantidade imensa de pessoas que sendo vítimas da miséria social não escolheram o caminho do crime.
                   Talvez porque, convivendo com o bem e o mal, pela nossa própria natureza humana, sejamos um pouco terroristas também. Quando ameaçamos nossos vizinhos no trânsito por motivo fútil , quando nos solidarizamos com assassinos ao invés de com suas vítimas, ou  quando, possuidores de algum cargo de poder, rugimos contra os subordinados com os quais não simpatizamos.
                   Do meu último romance O infinito em minhas mãos retiro este prólogo:  “A maior arrogância do ser humano não é acreditar que Deus tenha a sua imagem e semelhança, mas imaginar que o Diabo pode ser pior do que ele.” Possuindo a maldade dentro de nós, o que nos distinguirá da perversidade animal será o fato de nos olharmos quotidianamente no espelho e superarmos nossos instintos, exercitando o Conhece-te a ti mesmo, do qual falava Sócrates. Não parando para refletir sobre isso quando, apressados, tentamos justificar e explicar barbaridades contra esse ou aquele, não passamos  de meros simpatizantes de assassinos, terroristas também.

                                                                  ewerton.neto@hotmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário