artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo,
jornal O Estado do Maranhão, hoje, sábado
Passa ano sai ano ressurge o velho debate carnaval tradicional x carnaval atual cujo ápice é a disputa marchinhas carnavalescas x música baiana. Sem saudosismo, as marchinhas dão de dez a zero, até mesmo porque, além de melodia, têm letras que eternizam uma época bem mais que a mera excitação momentânea dos trios elétricos, causada pelo som ensurdecedor e convidativo ( vá lá ), necessariamente movido a álcool e - talvez -, alegria.
São tão eternas essas marchinhas expressando sentimentos universais e atemporais que ao invés de terem ficado datadas expressam , com pequenas adaptações a vida atual. Como é fácil comprovar:
1. “Pode me faltar tudo na vida, arroz feijão e pão Pode me faltar manteiga e tudo mais não faz falta não. Pode me faltar o amor Há, há, há, há!Isto até acho graça Só não quero que me falte A danada da cachaça.”
Essa marcha celebrava a cachaça como instrumento de escapismo. E se antecipa aos conselhos de auto-ajuda de hoje com uma pérola da sabedoria: “Pode me faltar amor! E isso até acho graça.” A tecnologia, contudo, descobriu matérias primas mais eficazes – e mais nocivas - como estimuladoras da fuga da realidade. Bastaria então, na letra, substituir cachaça por televisão.
2. “Solteira eu não quero, casada traz complicação. A viúva tem saudades, a desquitada é a minha solução”.
As opções parecem ultrapassadas diante das centenas de alternativas surgidas em termos de sexo e relacionamento. Mas a mensagem de busca, por uma solução, continua perene.
3. “Ei, você aí! Me dá um dinheiro aí! Me dá um dinheiro aí!Não vai dar? Não vai dar não?Você vai ver a grande confusão que eu vou fazer bebendo até cair. Me dá me dá me dá, ô!Me dá um dinheiro aí!”
A letra da marcha referia-se a mendigos. Hoje continua atual - já que tanto pedem dinheiro os pobres como os ricos - se prestando até para hino da equipe do ministério de Dilma. Como todo mundo sabe já caíram mais de seis, bebendo ou não, querendo mais dinheiro e fazendo confusão.
4. “Mamãe eu quero, mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar Dá a chupeta, dá a chupeta, dá a chupeta pro bebê não chorar. Dorme filhinho do meu coração, pega a mamadeira e vem entrar pro meu cordão Eu tenho uma irmã que se chama Ana de piscar o olho já ficou sem a pestana (...)Eu tenho uma irmã que é fenomenal Ela é da bossa e o marido é um boçal”
Não parece o nosso vice-presidente Michel Temer, brandindo um cartão de crédito na mão diante da esposa-gata, trinta anos mais nova e pedindo uma chupetinha? E ela, respondendo no mesmo tom, dizendo, para provoca-lo, que tem uma irmã fenomenal. Só que o nome da mana, ao invés de Ana é Michelle. Quanto ao boçal... Bem.
5. “O teu cabelo não nega mulata porque és mulata na cor Mas como a cor não pega mulata eu quero o teu amor. Tens um sabor bem do Brasil, tens a alma cor de anil! Mulata mulatinha meu amor, fui nomeado teu tenente interventor”
Bastaria substituir o teu cabelo não nega por “tua chapinha não nega” Quanto ao sabor bem do Brasil e a alma cor de anil, que ninguém se preocupe com isso pois ninguém jamais entenderá ( Teria o sabor bem do Brasil a ver com grana na mão?).
6. “Ó abre alas que eu quero passar Ó abre alas que eu quero passar Eu sou da lira não posso negar Eu sou da lira não posso negar Ó abre alas que eu quero passar Ó abre alas que eu quero passar Rosa de ouro é que vai ganhar.”
Existe hino mais apropriado para as mil e uma paradas GLS existentes por esse Brasil afora? Certo, ninguém fora do Maranhão sabe que eu sou da lira pode perfeitamente ser “travestido” para eu sou qua... É só divulgar.
7. “Se você fosse sincera Ô ô ô ô Aurora Veja só que bom que era Ô ô ô ô Aurora
Um lindo apartamento com porteiro e elevador e ar refrigerado para os dias de calor. Madame antes do nome você teria agora Ô ô ô ô Aurora!”
Um lindo apartamento com porteiro e elevador e ar refrigerado para os dias de calor. Madame antes do nome você teria agora Ô ô ô ô Aurora!”
Todo mundo sabe que esta letra refere-se à mágoa de alguém que doou tanta coisa a uma mulher e levou chifres. Ou seja, nada mudou. Pensando bem, para os dias atuais, talvez se devesse acrescentar ao porteiro - e ao elevador - um negão como personal trainner.
8. “Eu só me caso com mulher rica, amor de rica sempre fica. A rica quando morre deixa sempre um milhão, rádio, geladeira. Deixa até televisão.”
Toda mulher rica e perua ( e quanto mais rica mais perua ) continua adorando um gigolô. A única diferença é que atualmente elas, ao invés de darem uma televisão para o “namorado”, o põem para trabalhar na televisão. Não é mesmo, Suzana Vieira?
9. “Tava jogando sinuca uma nega maluca me apareceu. Vinha com um filho no colo e dizia pro povo que o filho era meu, não senhor! Tome que o filho é seu, não senhor. Pegue o que Deus lhe deu, não senhor!”
Atualíssima. Mais dia menos dia o desavisado “paisão” Joel Santana, técnico do Flamengo estará cantando esta marchinha para a presidente Patrícia Amorim, ou vice-versa. . O filho sem pai, alguém duvida que será o Ronaldinho Gaúcho?.
10. “ Oh, jardineira por que estás tão triste? Mas o que foi que te aconteceu? Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu.”
Essa sim, para se modernizar ficaria muito melhor assim:
“Oh, trepadeira por que estás tão triste? Mas o que foi que te aconteceu? Foi o coroa que quebrava o teu galho deu dois suspiros, depois morreu!
ewerton.neto@hotmail.com
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