sábado, 12 de maio de 2012

A CENA MAIS BELA

artigo publicado na seção Hoje é dia de...
O estado do Maranhão, hoje, sábado



                                                                                



            Todo brasileiro, mais cedo ou mais tarde, dá uma de entendedor de futebol ou de cinema. Por isso, peço que me perdoem a ousadia de tentar selecionar a mais  bela cena dos filmes que já assisti sem ser crítico de arte ou especialista no assunto.
            Já vi cenas antológicas em cinema, algumas muito conhecidas e compartilhadas com o deslumbramento da maioria, outras, nem tanto, por isso julgo que seja necessário explicar antes de tudo o que, para mim, seria uma bela cena.
            Uma bela cena, certamente, não seria motivada pela paisagem ( porque aí seria fotografia); uma bela frase ( porque aí seria poesia) uma bela mulher ( porque aí seria vida), nem mesmo a junção dessas motivações, porque aí seria apenas o belo, simplesmente. Uma bela cena, sempre difícil de definir, seria aquela que transcendesse a percepção de beleza propriamente dita e que nos remetesse, através da emoção, à sensação de que existe um intraduzível algo mais, um sentimento que extravasasse o aprisionamento aos limites da condição humana para tanger algo de mais além e sublime. 
            A meu ver nenhuma memorável cena de filme, sempre mencionadas pelos críticos e admiradores (a corrida de bigas do filme Bem-Hur, a despedida do E.T. no filme do mesmo nome, etc. etc.) supera em tocante representatividade  a cena fundamental – para mim – passada  no excelente filme do diretor polonês Roman Polanski “ O Bebê de Rosemary” vivida pela atriz Mia Farrow. Tento resumir:


                                                                   

            “A mãe, grávida, tenta livrar seu filho da terrível sina que reservaram para ele: tornar-se a reencarnação do próprio Satanás. De início, a revelação surge como uma pequena suspeita que, aos poucos, vai se avolumando numa seqüência aterrorizante. Ela se descobre vítima de uma conspiração em que estão envolvidas justamente as pessoas em quem ela mais confia e que poderiam ajudá-la. Seus vizinhos, seus amigos, seu médico e, por fim, seu próprio marido e pai da criança. Aniquilada e enfraquecida pela progressão da gravidez, ela se vê cada vez mais impotente para confrontar a dolorosa confirmação da suspeita que a atordoa. Ao final, enfraquecida, tomba no meio da rua e entra em trabalho de parto. Ao despertar, escuta o som do grito de uma criança em meio à noite de trevas. Percebe que é a voz de seu filho, seu primeiro filho. Trôpega e esperançosa caminha até o berço. Com dificuldade dele se acerca até que, quando levanta o véu que o cobre , sofre um impacto. Lá não está uma criança, mas uma horripilante figura: um monstro, uma mistura de lobo e gato; o Satanás. Não pode evitar um gesto de horror enquanto contempla a figura hedionda que se agita e chora no berço clamando pelo seu aconchego de mãe. Apesar de tudo, é seu filho, então, inconsciente e débil, mas seguindo seu impulso toma a decisão. Vence o sentimento de repulsa, segura o pequeno monstro como a qualquer bebê frágil e o  embala. Canta uma canção de ninar que perdura por muito tempo depois em nossos ouvidos como um emblema da vitória da mãe, do sentimento de mãe contra todo o horror que possa existir no destino humano e nos mistérios entre o céu e a terra.”        
            Nesta véspera do Dia das Mães, ao recordar esta cena, recorro ao  talento do cineasta Roman Polanski para homenagear o amor materno: o único capaz de transcender a tudo: desde o mal que existe dentro e fora de nós mesmos, até o silêncio pungente - de ausência - que perdura no coração daqueles que já não as têm.    

        
                                               ewerton.neto@hotmail.com
                                               http://www.joseewertonneto.blogspot.com

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