sábado, 14 de julho de 2012

13,7 BILHÕES DE ANOS DEPOIS


artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo
jornal o Estado do Maranhão, hoje , sábado


13,7 bilhões de anos atrás a temperatura desse troço aqui ( estamos falando do Universo em que vivemos) era de lascar. Bote bilhões de graus nisso! O único bebê capaz de nascer numa fornalha  dessas  era mesmo o Universo, ainda assim porque era filho único do seu pai que, por via das dúvidas, vamos chamar de Deus. E que era mesmo um pai caloroso – e bote calor nisso!
                        Parece que o bebê – como todo filho único – era cheio de manias. A primeira brincadeira que esse bebê complicado teve foi  um  tal de big-bang. Como todos sabem tem bebê que brinca de bola, outros brincam de boneca, outros de berrar para aporrinhar os pais.. Pois Universo entendeu de brincar de big-bang tão logo deu seu primeiro berro. E que ninguém ouviu - felizmente para os tímpanos.
                        Certo de que seu pai, Deus, lhe faria todas  as suas vontades Universo cedo enjoou de brincar de big-bang (numa fração de segundos) e, irado porque não tinha mais outro brinquedo à sua disposição, logo começou a estufar de raiva. Voluntarioso e sem motivo algum - ou por isso mesmo - Universo continuou a estufar e se expandir,  a estufar e se expandir. Quando nasceu era menos do que  uma bolinha pequenina,  mas no instante seguinte já tinha inchado mais do que corintiano quando ganha uma taça internacional. Hoje Universo já tem praticamente 13,7 bilhões de anos-luz, só de barriga.

                                                                               
                                                                      

                        2. Entender uma criança difícil assim como Universo requer um pouco de paciência. Um bom psiquiatra logo diria que o bebê nasceu estressado por ser único e sozinho. Além do mais, seu pai parece que nunca se importou muito com ele e, desde o começo, deixou-o por conta das forças do universo o que, convenhamos, é muita coisa para uma criança: ficar por conta de si, desde o começo. Sem contar que Universo é órfão de mãe e nunca teve um irmãozinho. Embora muita gente espalhe por aí  que existem universos paralelos o coitado do Universo nunca viu um mais gordo.  
                        Ora, some-se a tudo isso o fato de até hoje Universo não saber se é criança, jovem, coroa ou idoso, embora tenha certeza de  que nunca será vovô. (Que bom seria se ele um dia fosse parar numa fila de anciões da loteria, pelo menos teria certeza de alguma coisa!) O tempo nada significa para ele, assim como a  eternidade e a morte: ele sequer tem a bendita  (ou maldita?)  certeza de que vai morrer um dia. A verdade é que embora não seja um pai desnaturado Deus deixou esse filho abandonado por aí, e Universo continua bufando e inchando nem ele mesmo sabe por que, como se tivesse culpa por ter nascido, perdido na sua própria imensidão sem fim.


                                                               

                        3. Essas considerações  servem para explicar porque um belo dia, Universo, farto de tanta grandiosidade, pediu  a seu pai, que o permitisse inventar  um minúsculo ser lá para os lados de um minúsculo planetinha de uma galáxia mais vagabunda ainda. Deus o atendeu, meio a contragosto...  E não é que a tal criaturinha começou a viver e a pensar?
                        Pois bem, semana passada, 13,7 bilhões de anos  depois, Universo acordou cutucado por uma dúvida. Andaram lhe dizendo que justamente naquele planetinha haviam  descoberto que a transformação da energia inicial em matéria  – dele, do Universo -  havia passado por um tal de bóson de Higgs, a quem chamaram partícula de Deus.
                         “Já estão querendo mexer com  minha biografia”  pensou Universo e lá se foi se queixar a seu pai.
                        - Pai, já  estão falando de minha infância.
                        -  Quem?
                        - Os seres humanos.
                        - Seres humanos? Quem são?
                        - Aquelas criaturinhas que você me deu para brincar e que vivem  naquele  planetinha chamado Terra.
                        - Não lembro,  meu filho.
                        - Aqueles que tiveram um dia o desplante de dizer que eram à sua imagem e semelhança. Será verdade o que eles estão dizendo agora?
                        - O que desta vez?
                        - Que descobriram sua partícula e que agora sabem quase tudo a meu respeito. Pai, eu nunca soube de onde vim o que eu sou nem para onde vou. Como é que eles...?
                        -   O que é isso agora, Universo meu?
                        - Pai,  não quero ter a minha infância devassada por seres assim. Queria que você me autorizasse a destruí-los.
                        - Ora, para que se preocupar com criaturinhas tão pequenas? Não perca seu tempo Universo, deixe-os para lá. Eles mesmos se  matarão.
                                               ewerton.neto@hotmail.com                                                                                              http://www.joseewertonneto.blogspot.com

                                                            

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