sábado, 3 de novembro de 2012

OS MAIORES MONSTROS SÃO OS HOMENS



artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal O estado do Maranhão, hoje sábado,
com o título Sobre Monstros e Humanos


“ A maior arrogância do homem não é imaginar-se à imagem e semelhança de Deus, mas acreditar que o diabo pode se pior do que ele.” Do livro O infinito em minhas mãos

                Tenho a impressão de que nós, humanos, fingimos ter medos de monstros, que na maioria das vezes  inventamos, como forma de escaparmos da realidade de que nós somos nossos próprios monstros, mais ou menos como diz a epígrafe da novela acima referida, deste cronista.
                Daí que a maioria dos monstros com que costumamos nos aterrorizar desde os tempos de criança, não  passam de personagens simpáticos - embora bizarros, por vezes até ingênuos na sua incapacidade de nos causar real pavor.  Uma prova disso são os vampiros e sua transformação atual em objetos de desejo sexual,  almejados por  todas as nossas adolescentes. O que, pensando bem, soa plenamente justificável, pois, caso não tivessem sido inventados à sua época, por quem sonhariam nossas garotas, hoje, se a realidade é tão implacável para com elas? Fiuk, Luan Santana, Gusttavo Lima? Todos  são cantores e ídolos  medíocres, tão anódinos quanto bobalhões, a se prestarem, quando muito,  para consumo em histeria coletiva  comandada por qualquer bobo da corte televisiva. Mas, e para sonhar? Muito melhor um vampiro.
Por outra, quem deveria nos aterrorizar mais: uma assombração que nos espanta,  mas que é incapaz de nos causar dano maior, ou um político corrupto, desses que elegemos com freqüência,  a subtrair as verbas destinadas  às escolas e hospitais e condenando milhares, inclusive nossos parentes,  à morte?  Ora, isso apenas reforça a convicção de que o lobo do homem é o próprio homem e, perto dele, qualquer  lobisomem não passa de um cordeirinho.
                Quando me tornei amante, em criança, de histórias em quadrinhos não conseguia me aterrorizar com o que via nas revistas  de terror. Os zumbis, por exemplo,  apareciam como seres assustadores, mas o que me dava era uma imensa pena desses coitados. Que mal podia fazer um zumbi? Sendo  um morto-vivo, era alguém que tendo morrido, sequer tinha o direito de gozar de sua paz definitiva. Embora feios, não distinguia maldade em seus rostos, o que me expressavam era uma imensa tristeza,  bem parecida com aquela  do famoso quadro de Edvard Munch. Eram,  no meu entender, vítimas, não algozes. Igualmente, por mais que tentasse não conseguia entender – isso até hoje - porque pessoas adultas tinham (ou têm) medo de pessoas mortas, muitas vezes queridas, temendo que depois de mortas, estas lhes apareçam como fantasmas. Que poderia haver de melhor na vida do que a visita, pós-morte, de um ente querido, pelo menos para nos dar a certeza de que não se foi, definitiva e implacavelmente, sem retorno?
                Recente publicação da revista Superinteressante traz   uma lista de bestas e feras, desde as  mais conhecidas:  vampiros, zumbis e lobisomens acima referidos, passando pelos monstros poéticos como unicórnios, sereias e hidras até os quase reais como piranhas, tubarões , baleias monstruosas e água-vivas  mortais.  Todos são tão deliciosamente inofensivos quanto as histórias mirabolantes  que são contadas sobre eles, sem contar os simplesmente cômicos como o saci-pererê e a mula sem cabeça.

                                                                      

                A  revista, no entanto, parece ter esquecido da serpente encantada de São Luis – essa que um dia, quando seu rabo encontrar a cabeça vai esmagar a ilha. Ou seja, mais  um monstro que, originado  de uma lenda é igualmente  digno de pena em seu destino inglório de  ilusão descabida.  Pois, como disse a seus amigos que foram visitá-lo em seu  recente aniversário,  o poeta e cronista  José Chagas evocando, de uma de suas crônicas passadas, seu amor à São Luis :  “Esta cidade permanecerá para sempre imorredoura e bela porque resiste aos seres humanos que estando sobre ela fizeram  de tudo para destruí-la, administradores ou não”. Portanto, se a cidade  conseguiu resistir aos homens, que dirá à serpente!
                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com                                                                                                   HTTP://www.joseewertonneto.blogspot.com



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