artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado
Isso mesmo, leitor, nem pense que houve erro de revisão. Hoje, terceiro
dia depois da quarta-feira de cinzas, o carnaval agora é que está começando.
Afinal de contas, esse é o país do carnaval. Senão, vejamos:
1. Blocos. Blocos não são exclusividades dos dias de Carnaval, muito
pelo contrário. Na Assembléia Legislativa do nosso Estado, por exemplo, a
julgar pelo que repete a imprensa, o que
não falta é bloco. Bloco disso, bloco daquilo e, como se isso não fosse
suficiente, ainda tem Bloquinho e Blocão. Só falta criarem o Monobloco.
2. Entrudo. O entrudo, que pouca gente ainda chama assim, é aquela
brincadeira carnavalesca de origem portuguesa em que se joga farinha, água e
pó, nos outros. Com o tempo evoluiu para
Entratudo e, como todo mundo sabe, isso
é o que não falta o resto do ano no do
brasileiro onde tudo entra, ao gosto dos seus representantes: multas
extorsivas, Leis ‘ressequidas’, mensalão, IPVA, custo de vida, etc. etc.
3. Escola de Samba. As escolas de verdade não estão ao alcance da
maioria do povo. Nestas se paga desde livro até papel higiênico. Qualquer dia, na lista de material escolar vão aparecer calcinhas e cuecas - para os donos
das escolas. (Tem uma escola de inglês pros lados do Calhau que inventou até
uma caríssima caneta que fala inglês – ou seja, o aluno nunca vai sair falando
inglês, mas pode deixar que a caneta vai
falar por ele.). Enquanto isso, nas escolas que o governo oferece o aluno tem que ser muito valente para não
“sambar” diante dos traficantes e pedófilos. Quer escola de samba melhor do que
essas?
4. Assalto. O assalto é aquela antiga brincadeira carnavalesca em que
um grupo de mascarados irrompia na casa de algum aniversariante para comer e
beber do que houvesse. Ora, assalto faz tão parte do dia a dia do brasileiro
que já nem se chama mais de assalto ao ato corriqueiro de ter a carteira
surripiada por um ladrão – isso se tornou participação ‘conjunta’ pela
sobrevivência. Assalto de verdade são os
cinco meses de trabalho de cada trabalhador sugados pelo governo por conta do imposto de
renda e repassados para os corruptos dos
mensalões, etc. nos meses restantes.
5. Máscara. Enquanto o povo costuma usar máscara apenas durante os
cinco dias da folia, os poderosos usam-na o resto do ano para melhor
desempenhar a profissão de aumentar os próprios salários; seja à custa das leis
que eles mesmos inventam seja através de propinas recebidas. Na hora de apertar
a mão do povo para pedir voto, alguns retiram a máscara, outros já nem se dão a
esse trabalho.
6. Trio Elétrico. Bons tempos aqueles, coisa de cinqüenta anos atrás,
em que um trio elétrico era um trio formado por uma corrente elétrica - vá lá!
- constituída por um baiano meio idiota pulando, cinco mulatas rebolando em cima de um
caminhão e trinta mil fardados de abadá em curto-circuito. E que só se
eletrificava no carnaval. Hoje, como todos sabem, o trio evoluiu tanto que já
existe até o xixi-elétrico, trio que se move às custas da energia proveniente da urina depositada nos vasos públicos da
prefeitura ( Bloco Afro-Reggae que desfilou no Rio). Pelo andar da carruagem teremos
em breve o cocô- elétrico, para cuja garantia bastarão as músicas que cantam.
7. Serpentina. De fato, depois do Carnaval não se vê mais serpentina
para tudo quanto é lado. Em compensação o que não falta é serpente pronta para
dar o bote no bolso do trabalhador honesto: se você escapa das cobras criadas
que são os guardadores de carro se defronta com as cascavéis do serviço
público.
8. Rei Momo. Rei Momo para o resto do ano é o que não falta. Segundo
Ruth de Aquino, colunista da revista Època, o Rei Momo do Brasil este ano vai ser o
Rei-Nan Calheiros. Deve ter razão pelas características semelhantes: Rei-Nan é
gordinho como todo Rei Momo tem que ser (segundo Mônica, amante do
senador, em seu livro, Renan é um
“docinho, meigo e meio gordinho); gosta muito de Carnaval (ainda segundo ela
“Rei-Nan queria pular o carnaval de rua em sua companhia, na Bahia). Por fim, como
todo Rei Momo, ninguém sabe que diabos faz
o resto do ano. Ou sabe?
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