artigo publicado no jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado,
caderno Alternativo, seção Hoje é dia de...
Responda
depressa, quem é torcedor mais autêntico: aquele que, Maria vai com as outras,
torce pelos times preferidos da mídia (do time que merece o grito mais extenso
do locutor da Globo; do time para quem os árbitros tendem a manipular
resultados; do time por quem até os presidentes da república torcem e que recebe
do governo estádios de futebol de graça ) ou aquele que torce por um time
fadado ao fracasso, por não ter – e nem almejar - todas essas regalias?
Nada de querer ser mais
um, querendo dar uma de louco para pertencer a um ‘bando de loucos’. Esse verdadeiro torcedor que não é, nunca foi e nem se pretende louco, esse que é
o grande torcedor, torce mesmo é pela Portuguesa de Desportos.
Você, por acaso, torce
pela Portuguesa, a Lusa do Canindé? Não. Você tem simpatia por esse time? Mais
ou menos. É um time bom? Não. É um time ruim? Também não. Tem torcida grande?
Não. Então deve ser um time pequeno? Também não. Mas afinal de contas o que é a
Portuguesa Desportos, em que categoria
de time de futebol se classifica? Bem...
...Você sequer sabe se a
Portuguesa, contra o qual seu time preferido já jogou ou vai jogar, está na
primeira divisão ou na segunda. Assim é a Portuguesa, um time estranho na falta
de outra coisa para se dizer dela porque não é simplesmente estranho ou
esquisito. (Sua estranheza começa aqui, nessa dificuldade em chamá-lo (a), se
no masculino ou no feminino. Em qual outro time esse problema existe?) Só que
de estranhos a gente se lembra e da
Portuguesa ninguém embora se saiba que ela existe e que disputa todos os
campeonatos importantes deste país.
Minto. A rigor, vez por
outra, alguém se lembra da mesma. Isso acontece quando um dos times muito
badalados ( Coríntians, Vasco, Flamengo ou São Paulo) perde para ela. Então
vira manchete, fugaz como as notícias de diminuição no preço da gasolina, mas
com uma característica que honra a sua ambigüidade: ninguém coloca em letras
garrafais Portuguesa vence Coríntians,
por exemplo, mas sempre Coríntians perde
para a Portuguesa, ou seja o outro time, mesmo perdendo, vem sempre em
primeiro lugar. Porque da uma derrota para a Portuguesa o torcedor comum se
lembra como de uma topada, um ato fortuito e sem relevância, algo fácil de
esquecer, que nem chega a afeta-lo a ponto de
ficar com raiva. Isso porque a Portuguesa Desportos não desperta ódio
nem amor. Diante de uma topada numa pedra sente-se dor e vergonha, mas prossegue-se
de cabeça erguida, sem ódio da pedra, dá-se a ela o valor de um acidente
vulgar, nada mais e a vida continua. E a
melhor definição da Portuguesa talvez seja essa mesma; um acidente fortuito na
vida de qualquer outro time, essencial para que a epopéia deles continue e o
campeonato siga. A Portuguesa está aí para isso mesmo: ativar as emoções que
ela nunca será capaz de usufruir.
Jamais ganhou nem jamais
ganhará qualquer campeonato relevante. Certo, hão de dizer que há uns trinta ou
quarenta anos venceu um campeonato paulista depois de uma eternidade de espera.
Ganhou? O certo seria dizer que venceu pela metade, pois teve de dividir com o
Santos de Pelé e somente às custas de um
erro do juiz. Hão de lembrar também que o time foi vice-campeão brasileiro há
coisa de dez anos, mas alguém duvida de que jamais ganharia o título fosse com
quem fosse? Não é questão de qualidade técnica, nem de azar, talvez nem mesmo
dos erros do juiz tão freqüentes contra ela, mas de destino absorvido por
vocação, quase sina: é um time cujo propósito embutido na camisa não são as
grandes glórias, mas o cumprimento do cotidiano vulgar, sem alarde. Se jamais
foi a primeira, em compensação, jamais fracassou ou fracassará completamente.
Nunca cai pelas tabelas, jamais tomba de um pedestal justamente porque nunca
chegou lá.
Comparando-se a um ser humano talvez fosse da classe dos
mornos, de quem Jesus Cristo disse um dia: prefiro os quentes e os frios,
porque os mornos eu os vomitarei. Mas que seria dos fortes ou dos fracos, sem
times como a Portuguesa para servir-lhes de referência e balizar suas jornadas?
A Portuguesa se assemelha àquela classe dos seres humanos, anônimos,
esquecidos, nada brilhantes, mas que têm o seu valor porque nunca tombam. Tem o
heroísmo dos que não estão aí para perder ou para ganhar, mas para cumprir. A
nenhum time talvez se aplique a máxima de que o importante não é vencer, mas competir, fazendo da própria
existência sem ilusões o objetivo maior. É um time que não se pretende religião
ou nação, basta-se à função de time e ponto final..
Feliz em seu destino invariável e regular, mas perene,
deveria causar muito mais admiração, torcida e reverência de todos já que ao
seu destino se aplica o que está escrito em um livro maranhense de poesias, Cidade Aritmética, numa breve reflexão sobre
o destino humano: “Os homens deveriam ser como os elevadores: que nunca sobem
até o céu, porém, jamais se eternizam, debaixo do chão.”
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