artigo publicado hoje na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão,
hoje, sábado
Quando a
mídia esportiva divulgou que o Fluminense ameaçava tirar os pontos, ganhos em
campo pela Portuguesa Desportos, para poder
continuar na primeira divisão, duvidei que
isso fosse dar em alguma coisa. “Eles não chegarão a tanto.” pensei,
referindo-me aos juízes do STJD.Ontem após divulgado o resultado do julgamento a
conclusão foi outra: “ Pois não é que eles chegaram?”
O errado, na
realidade, fora eu na minha primeira impressão, já que estamos no Brasil. Disso
havia esquecido momentaneamente ( talvez por achar que o futebol , pelo menos o futebol, tivesse mantido a
inocência de antes e fosse imune a esse tipo de coisa). Mas, esse era um
raciocínio errôneo. O mais lógico, claro, seria esperar que o futebol , também, já tivesse sido contaminado
pela onda de corrupção e politicagem que impera em todos os níveis da sociedade
brasileira. Nada mais normal, profundamente normal aliás, hoje em dia, que um time mais rico - e
protegido pela CBF ( como tantos já diziam e, que, agora, só resta acreditar) tentasse se beneficiar usando uma artimanha
escusa às custas da desgraça da ‘pequena’ Portuguesa Desportos.
Pequena sim,
mas, nem por isso menos gloriosa. Meses atrás escrevi uma crônica, neste
caderno, a respeito da Portuguesa Desportos quando dizia que vejo muito mais
valor e legitimidade em um torcedor da
Portuguesa de Desportos do que nos de maiores torcidas. Estes, em grande parte, são “Marias vão com as outras”, meros repetidores dos efeitos manipulativos da
grande mídia , efeitos estes que estão por trás dos interesses comerciais que
passaram a existir desde quando as redes de televisão passaram a “construir
torcedores”, após investirem dinheiro em
alguns times, em desfavor de outros.
Entre estes, os
que pouco recebem, está a Portuguesa
Desportos. Quem duvida de que, se fosse
detentora de um grande investimento, esta
jamais seria alijada, do jeito que foi? Tanta desfaçatez camuflada numa hipocrisia
de legalidade e justiça nos faz pensar que as tais teorias da conspiração não
são tão conspiratórias assim e que, o povo aumenta, mas não inventa , quando tece razões ocultas
por trás da campanha vitoriosa de alguns times
privilegiados. Ora, “O dinheiro que se investe é o único animal selvagem
que quanto mais lerdo e gordo sai de casa mais quer voltar correndo, e muito mais gordo” não é assim a Lei do Mercado?
Tempos atrás
um amigo meu, que é palmeirense, insinuou que, por trás do rebaixamento ano passado do seu time
haveria toda uma estratégia de desmoralização e ‘enxugamento’ progressivo de torcedores dessa camisa, para evitar que esta continuasse rivalizando nas competições com o Coríntians , o preferido
paulista da Rede Globo em seus investimentos. Pela mesma razão o Vasco da Gama,
do Rio, sofreria o mesmo tipo de aniquilamento ( entendendo-se como
aniquilamento a propaganda sub-reptícia e desairosa para anulá-lo como agremiação
desportiva e sugar seu poder de sedução e competição) , de forma a haver apenas
duas potências futebolísticas no país, justamente aquelas em que a rede mais
investe. Demorei a aceitar tal idéia porque isso representaria
o desencanto com uma das poucas coisas
pelas quais ainda se encontra prazer em se extasiar diante de um canal
de tevê, ou seja, uma partida de futebol jogada apenas no gramado. Os fatos, porém,
agora expostos nessa bizarra decisão do STJD, como também, por exemplo, na absurda e extrema dificuldade do time carioca
no decorrer deste ano em conseguir um mero atestado liberatório na
justiça para saldar suas dívidas, se sucedem para dar razão ao amigo, e
demonstrar que no Brasil existe alguma
coisa entre o futebol e o resultado, além da mera disputa de 22 jogadores por
uma bola para colocá-la na rede adversária.
Preferiria
que assim não fosse, que todas as teorias da conspiração não existissem e,
principalmente, que jamais se
comprovassem, para não macular a pureza da beleza de um bom futebol, do qual já tanto me empolguei, ao ver, pessoalmente, jogadores como Pelé, Maradona, Zico, Dirceu
Lopes e Romário. Como preferiria também que a lembrança do que já escrevi da Portuguesa de Desportos, uma
agremiação pela qual nutro imensa
simpatia, ficasse apenas no que
escrevi e não nestas frases de decepção
e desgosto.
E que a degradação
do futebol como esporte exclusivamente lúdico , hoje conspurcado por interesses financeiros se sobrepondo a
disputa puramente técnica entre dois times, jamais se anunciasse , como se anuncia previa e infelizmente , a vitória antecipada
do Brasil em mais uma Copa: A DE OPERÁRIOS MORTOS EM ELEFANTES BRANCOS
construídos com dinheiro público. (Já se foram cinco vidas humanas).
Se a
desfaçatez dessa gente ( os que liberam e constroem estádios e lucram com os
mesmos) continuar no mesmo ritmo, arrisca haver em breve, quando se iniciar a
Copa, um morto para cada vitória em potencial do Brasil nessa Copa. Só Deus, então,
poderia salvar nosso país dessa mancha irreparável: A vitória de um time, seja ele qual for, mesmo a seleção brasileira,
é muito ínfima para valer a perda de uma única vida.
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