artigo publicado na sessão Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão,
hoje, sábado
Praga
ou vírus? Nem um nem outro: essa perturbação de praga, essa contaminação de
vírus, não passa de larva. Segundo cientistas, que pesquisam a memória humana, guardar
um som torturante, que fica em sua mente como uma melodia presa no cérebro, é um fenômeno recorrente chamado earworms - literalmente, larvas de ouvido. (Já sentiu
um mosquito enfiado em seu nariz? Recorda sua sofreguidão ao tentar ejetá-lo
sem conseguir? É mais ou menos assim )
Portanto, aquela
sensação angustiante que alguém sente quando escuta o refrão de qualquer música
sertaneja, ou de forró eletrônico, por exemplo, tem o efeito de larva se arrastando pelo seu cérebro.
Quantas
vezes por dia você já sonhou em expulsar um som desses de sua mente, sem
conseguir? Quantas vezes por dia você já quis implodir quem passa defronte à
sua casa zoando esse tipo de chacoalhar repetitivo bem perto do seu ouvido? Quantas
vezes você não desejou que houvesse uma lei que defendesse sua paz e
tranqüilidade contra disseminadores de larvas?
Tais pragas melódicas, dizem os
cientistas - se alimentam da própria
memória para infectar o pensamento (90%
da população). Tanto é assim que, conforme é facilmente constatável pelo que
‘bomba’ na rede cada um se esmera em se garantir (ou seja, em ganhar milhões de
reais) aprimorando sua melhor larva no seu jardim de ‘talentos’. Um dia já foi
o Rebolation, depois Michel Teló, hoje estamos com Anitta e Naldo e haja larva!
Sua “contaminação” , segundo os cientistas é devida , principalmente à repetição.
Os earworms começaram a ser estudados no
fim do século XIX.
Nessa
época a invasão sonora não causava tanto transtorno, porque não era tão
freqüente, não havia a explosão musical que existe hoje. Não havia celulares, nem
havia trios elétricos: nem carros imitando trios elétricos, nem bicicletas
imitando trios elétricos nem o mundo havia se transformado num gigantesco trio elétrico. Segundo
a ciência, o problema é a repetição , esta
é que causa a larva e somente um trabalho de proteção muito eficiente pode evitar que você seja contaminado. Como solução
para evitar o contágio algumas alternativas foram sugeridas por Philip Bearman. Tentemos avaliar sua eficácia:
1. “Tente não pensar no assunto” Os earworms são como
chicletes
e sua definição é a mesma da piada: quanto mais você pisa mais gruda.
Seria cômico se não fosse trágico. Como não pensar no assunto se a
música sequer tem assunto – como no caso das músicas de Naldo e Luan Santana?
2.
“Coloque para tocar outra música.” Segundo
o cientista cantar uma canção diferente pode neutralizar o efeito
virótico.
Certo,
mas que vantagem existe em você substituir uma larva por outra? Que proveito há
em deixar de escutar música sertaneja para ouvir forró, que adianta trocar seis
por meia dúzia se é isso que impõem aos seus ouvidos, mal você circula pela
praia ou adentra num Shopping Center, por exemplo?
3.
Compartilhe a canção com um amigo. Segundo o cientista, ao
compartilhar a
canção, o efeito de larva pode se diluir
com base na matemática da propagação das larvas que diz: larva dividida por dois dá meia larva.
Vá
lá! Mas e se o seu amigo, já contaminado e, infectado, resolver lhe devolver a
música em dobro? Quem vai apanhar primeiro?
O que se percebe é que, apesar de toda boa vontade de
Bearman,
nunca se encontrará uma solução para o earworm. Até mesmo o consolo de que o “fenômeno”
tem duração de 27 minutos e de que se as larvas voltarem, a recorrência é por
apenas mais um dia, resiste à confrontação com a realidade. O problema, na verdade,
não é só a capacidade de a industria
musical produzir pestes sonoras, o problema maior é o de as pestes sonoras produzirem pestes humanas (devidamente disfarçadas , é claro, de motoristas montados em monstrengos
barulhentos)
Contra
estes jamais haverá defesa possível . Quem sabe a epidemia seria amenizada se, um dia, nossos legisladores aceitassem a sugestão
proposta por um amigo meu: a de punir os disseminadores com uma lei
determinando que toda vez que um sujeito contaminar o universo com suas larvas,
deveria ser condenado a passar o dia inteiro escutando Beethoven, Chopin ou
Villa-Lobos, ou, sem precisar ir tão longe, Noel Rosa, Beatles ou Chico Buarque.
Certo, não resolveria o problema, mas, pelo
menos, o criminoso iria sofrer prá burro! Muito mais que nós sofremos.
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