artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo,jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado
A MURIÇOCOLOGIA
Definição: MURIÇOCOLOGIA é a ciência que estuda as muriçocas
e suas interações com o elemento humano. Ou seja, ao invés de estudar a origem, as características do
espécimen em si, seu habitat etc. , objeto de outro ramo de ciência, o estudo
da Muriçocologia se direciona, sobretudo, à interpretação da realidade do ponto de vista
da reação humana a elas e vice-versa.
A muriçoca é
comumente chamada de praga ou mosquito, além de outras variações. Pode ser chamada
também de: peste!, ou desgraça!, no auge da dor consequente da picada.
A
ciência escolheu nomeá-la Muriçoca, por considerar este termo, mais apropriado à
sua natureza provocadora, irreverente, cruel, suicida, sádica, vingativa, tragicômica,
torturadora etc., como parece ser próprio
de um inseto que até antes de atacar, canta.
Eis um breve
resumo de aspectos fundamentais do aprendizado:
POSTULADO
ZERO DA MURIÇOCOLOGIA
“Atrás de uma
muriçoca vem sempre outra”.
Corolário 1:
“E depois dessa outra, mais outra, enfim centenas de muriçocas surgem do inferno, apenas raia sanguínea e fresca a madrugada”.
Obs. (O
corolário acima é de autoria de Chico Mosquito, o primeiro estudioso da matéria,
e seu enunciado foi uma adaptação consciente do poema As Pombas. É que ele estava lendo justamente o poema de Raimundo
Correia, quando levou a primeira picada e não mais conseguiu pensar em outra coisa, enquanto durou o massacre. )
LEIS DA MURIÇOCOLOGIA
1.”A
muriçoca tem predileção especial pelo seu tipo de sangue, seja ele qual for”.
Isso
significa que se você estiver em algum lugar ( num churrasco ao luar, por
exemplo), rodeado de vários colegas cujos
tipos de sangue variam de a a z o sangue
que ela escolherá será precisamente o seu, por razões que a ciência até hoje não conseguiu explicar.
2.”A
muriçoca não se assusta com tamanho, nem
cara feia”.
É isso aí. Apesar
do seu tamanho minúsculo, uma muriçoca bebe com igual sofreguidão tanto o
sangue de um pinto, como o de um elefante. O que faz dissipar em definitivo as dúvidas
quanto à coragem da espécie.
3.”Toda
muriçoca é camicase”.
Por
definição toda muriçoca é camicase, ou
seja, suicida-se com imenso prazer, desde que esteja sugando, no
instante final, sangue humano. Com isso, a Muriçocologia conseguiu esclarecer o
traço mais notável de sua personalidade: ‘A maior glória de uma muriçoca é
morrer chupando o sangue de um’.
4.”Uma
muriçoca não se mede pelo tamanho”.
Isso seria impossível. Não dá para observá-la direito
durante o ataque, já que a vítima estará mais preocupada com a picada. Se conseguir, num golpe de sorte, atingi-la, sua visão não será verdadeira: mais da metade do
volume do corpo da muriçoca, agora, é constituída do sangue da vítima.
Quanto as armas usadas para enfrenta-la:
1.O berro. Na
pré-história os homens usavam esse recurso para tentar espantá-las, mas isso só as deliciavam. Segundo Darwin elas o
adaptaram tão bem que deu no seu canto agudo de guerra, hoje.
2.Tapas para
abatê-las. Sempre saiu mais caro aos homens que às muriçocas. Já houve muita
gente cega de um olho ou com o dente quebrado por causa disso.
3.Fogo e
fumaça. Era usado pelos índios com relativo sucesso. Embriagados pela fumaça conseguiam
dormir, mas acordavam se coçando pelo
resto do dia até outra jornada. Não deixava de ser uma espécie de transfusão de
sangue aborígene.
4. Inseticidas.
Ainda de acordo com Darwin as muriçocas se saíram vitoriosas, como sempre, adaptando-se
rapidamente ao cheiro. Hoje há muito mais humanos do que muriçocas mortos em
consequência do uso de inseticidas.
Encerrando o
resumo por falta por absoluta falta de espaço é imperioso lembrar desta preciosa
revelação da MURIÇOCOLOGIA em relação ao futuro:
“Ao final dos tempos, muito depois
que a raça humana se extinguir ainda sobreviverão
os ratos, as baratas e as muriçocas”. Como as baratas são cascudas, coitados
dos ratos!
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