DE ONDE
VIEMOS? PARA ONDE VAMOS?
A pergunta acima, básica e
inquietante para qualquer ser humano minimamente preocupado com o sentido de
sua própria existência, nomeou uma conhecida obra-prima da pintura, no caso um
trabalho do artista francês Paul Gauguin.
O
que ninguém esperava é que viesse a se tornar o tema principal de um romance de
proposta intrigante, que se tornou best-seller, no caso o policial ORIGEM de Dan
Brown. Classificando-o como policial (e ele o é, sem dúvida, porque encerra crime,
investigação, intriga e mistério) desta vez o objeto de desejo não é um falcão maltês,
como no famoso noir de Dashiel Hammet, nem fortunas em jogo, como na maioria dos
enredos do gênero, mas a solução dessa pergunta.
A curiosidade em resolver essa equação – a maior
e mais indecifrável desde o advento do homo sapiens – é o mote que conduz o
leitor página após página em sua ‘ pra lá de original’ caça ao tesouro. Pois que tesouro pode ser maior que o conhecimento , e que maior mistério existe do
que aquele que busca solucionar a si mesmo (no caso, a humanidade) ?
Dan Brown, o autor não se perde em
piruetas de estilo ao gosto de alguns críticos literários. Seu plano de narrativa é oferecer uma trama, que soa às vezes implausível, mas que carrega o fascínio da perseguição às
grandes descobertas. De quebra, oferece
informações e conhecimentos básicos, mas atualizados, de física e da Teoria da Evolução que compõem
um enriquecedor contraponto ao desenrolar do enredo, onde com frequência pontua
o eterno embate Ciência x Religião. Aqui e ali, o autor evidencia nas
entrelinhas, a sua simpatia pela vitória da primeira, mas de cujo veredito sabiamente se esquiva com falas redentoras e
quase definitivas como a de um de seus personagens, um cientista: “Quando
testemunho a precisão da matemática, a confiabilidade da física e as simetrias
do cosmos, não me sinto observando a ciência fria . Sinto que estou vendo uma
pegada...A sombra de uma força maior que está fora de nosso alcance”.
Enquanto a narrativa se encaminha
para o final apoteótico (a exposição
para todo o planeta do conhecimento adquirido por um gênio da ciência ) um
verdadeiro tour de force acontece com a sina dos protagonistas, na realidade
meros figurantes do personagem principal que é essa grande questão universal.
Diria que caso o leitor, como eu, seja
seduzido mais pela curiosidade em
relação à resposta que pelo enredo em si, a solução
final é apenas parcialmente compensadora. O “De onde viemos” embora
fundamentado numa original e revolucionária teoria científica, carece de maior
embasamento justamente por ter surgido de ousados estudos científicos, carecendo-lhe
rigor e comprovação. Já o “Para onde vamos” anunciado com estardalhaço como
estarrecedor, não chega a esse nível de tensão para quem acabou de ler livros
sobre o tema como os recentes livros de Yuval Harari e, portanto, já concebera algo nesse rumo em termos de previsões.
Lembro um grande autor que, em palestra para estudantes, instado a
explicar o que era necessário para escrever um romance respondeu que essa
tarefa era simples: “Ponha no começo uma letra maiúscula e no final um ponto.
No meio você coloca uma boa ideia.” Foi o que fez Dan Brown com imaginação
e talento.
José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas
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