artigo publicado no jornal O estado do Maranhão
Recebi de
presente do confrade Benedito Buzar o livro As Sete Vidas de Nelson Motta. Possuidor
de multifacetado talento, o jornalista,
compositor, escritor, empresário e apresentador de tevê traça, nesta espécie de autobiografia
comentada, um rico painel da vida cultural brasileira onde pontuam personalidades
marcantes da vida artística e intelectual - nacional e internacional - de Paulo
Francis a Rolling Stones. Alguns momentos do prazeroso livro:
Sobre
Rolling Stones
(...) Sem
que ninguém soubesse Mike Jagger esteve no Rio na casa de Fernando Sabino. Edu
Lobo e Luiz Eça foram também convidados por Fernando para mostrar um pouco de
música brasileira para o agitado Mike que, no entanto, não mostrou interesse
por música de qualquer tipo e preferiu falar o tempo inteiro sobre filosofias
indianas, LSD e outras “descobertas do espírito”.
Sobre Elis
Regina
(...) Sem
ser uma comediante ela consegue ser engraçada, sem ser bailarina consegue
dançar bem, sem ser americana canta muito bem em inglês, sem ser da jovem guarda
interpreta muito bem Roberto Carlos. Por ser uma extraordinária cantora e uma
rara personalidade artística, ela consegue
fazer tudo isso com talento ao longo de duas horas de show.”
Sobre
Lampião e a moda Hippie
(...) Lampião o rei de cangaço, se não foi um hippie na
filosofia de vida o era na moda. Cabelo grande? Basta olhar as fotos onde
qualquer Mike Jagger seria considerado um Yul Brinner diante de sua cabeleira
lampiônica. John Lennon foi um beatle plagiário ao copiar sua moda de óculos
redondos de aro bem fininho, que o cangaceiro usava não porque precisava deles,
mas porque achava bonito.
Sobre
Clarice Lispector. Obs (Durante a
célebre passeata dos cem mil)
(..) Eu me
sentara ao lado de Vinícius de Moraes com sua clássica camisa preta de banlon e
não tirava os olhos de Clarice Lispector. A escritora era uma mulher alta, alva
e belíssima. Vestida com discreta elegância e sentada no asfalto quente, gritava
slogans e se desmanchava em elogios calorosos ao charme de Chico Buarque que
não estava à vista.
Sobre Raul
Seixas
(...) Por
meio de rock e baladas, xaxados e baiões, Raul vai passando a sua visão do
mundo, à qual não faltam humor e irreverência, por mais duros que estejam os
tempos. São raros os autores musicais que tenham fustigado tanto e tão
ferozmente o establishment, como Raul, à sua maneira – uma maneira muito
brasileira de criticar o que incomoda,
restringe e aprisiona.
Sobre
cocaína
(...) “Está
nevando no Rio de Janeiro”. A frase era ouvida com frequência entre gargalhadas
e intenso júbilo nas noites cariocas do início dos anos 80. Como uma neve
química a cocaína se espalhava pela cidade, não só entre artistas, festeiros e
criaturas da madrugada, mas seduzindo políticos, médicos, grã-finos e donas de
casa, todo mundo estava caindo de nariz no pó branco que dava instantânea
sensação de poder e alegria. Irresponsáveis dirigiam enlouquecidos pela cidade.
Homens que cheiravam muito ficavam loucos de tesão, mas completamente brochas.
Depois de 5
anos de dependência decidi parar e me mudei para Roma. Dependeria mais de mim
do que dos outros me livrar do que, 30 anos depois, Paulo Coelho, que na época
cheirava como um tamanduá e apresentou a
cocaína a Raul Seixas, chamaria de “
droga do demônio”.
Etc.etc.
José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas
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