artigo publicado no jornal O estado do Maranhão
Anos atrás quando se iniciou em
Curitiba a força-tarefa da lava-jato, um sopro de esperança pairou no seio da
sociedade brasileira: a de que, finalmente, a corrupção deslavada e protegida poderia ser combatida, de verdade,
amenizando alguns de seus maléficos efeitos dos quais o maior é o
empobrecimento da população através dos recursos desviados e abocanhados por
facínoras de terno e gravata .
A dissolução anunciada semana passada
da Lava-Jato em Curitiba, pôs água nesse jato e, num trocadilho paradoxal, deixou
de lavar a nossa alma (dos brasileiros que cultivaram a ilusão de que os
eternos corruptos seriam punidos progressivamente).
Infelizmente, era de se esperar. A
corrupção é aderente ao espírito de levar vantagem do ser humano. De fato,
estudo publicado na Revista Super
Interessante feito pela Universidade de Cambridge analisando 166 casos de
suborno em 52 países mostra o quanto a corrupção tornou-se quase uma entidade estabelecida globalmente.
Idem, o resultado da pesquisa adicionou um ingrediente que a torna bastante atraente
para os meliantes que a praticam: as empresas corruptoras recebem de volta 10
vezes o dinheiro em vantagens ilegais. No popular, o crime compensa e muito.
Segundo a pesquisa a ocorrência de
suborno foi maior nos países mais pobres, onde a justiça e as instituições são
mais débeis. Segundo o estudo o valor pago muda de acordo com o cargo.
Funcionários de baixo escalão recebem em média 1,2% do contrato de propina
contra 4,7% pagos a chefes de estado. Todos os casos estudados são escândalos
que chegaram ao conhecimento da população e, em muito deles, as empresas
corruptoras foram processadas. Esse tipo de punição, no entanto, é insuficiente
para conter a prática, porque o risco de ser apanhado e condenado não impede as
empresas de continuarem subornando.
O nosso país sempre se enquadrou no
bloco das nações favoráveis aos corruptos, tal a permissividade e leniência
para com os bandidos. Daí a esperança incoercível na lava-jato e seus
idealizadores. Eu particularmente, porém, logo desconfiei de sua continuidade quando
cedo se levantaram contra o sucesso da mesma vultos de estampa melíflua, sorrateira e asquerosa, como o senhor Gilmar Mendes ,ministro
da suprema corte, um especialista, segundo
a imprensa, em libertar corruptos. Na ocasião comentei: “Um dia vão acabar jogando na cadeia
justamente quem se propõe a botar os corruptos na cadeia..”
Dito e feito. A indignação da
população contra os corruptos se foi, e com ela, a lava-jato. Onde as manifestações? Onde o povo nas ruas para
bradar contra o fim da mesma? Toda contundência desapareceu como se esvaecem os sonhos e as ilusões, e não
me digam que a pandemia contribuiu para isso pela transferência de foco. Ora, todos
sabem que a corrupção tem sido no Brasil
um monstro mais temível e arrasador que o Covid 19, porque mata muito mais.
Só resta acrescentar à famosa frase
definidora das mazelas brasileiras do cantor Tim Maia mais esta assertiva: “...o
Brasil é um país onde até as ilusões são corrompidas.”
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