Escrito pela própria Ilha:
“Hoje, 8 de setembro de 1612 resolveram
me batizar de São Luís. Nada melhor que começar, portanto, a escrever meu
próprio diário. Assim como inventaram um nome para mim, sei lá as histórias que
ainda poderão inventar a meu respeito.
Sou uma ilha. Na verdade, nunca
liguei muito pra esse negócio de ser um pedaço de terra cercado de água por
todos os lados. Isso nunca fez diferença para mim, a não ser que basta estender
os braços em qualquer direção que encontro água. Sou uma felizarda, portanto!
Não sei até hoje dizer quando, de
fato, nasci e me criei e porque virei ilha. Dizem que foi de tanto o mar bater
no continente que adquiri esse formato. Bote tempo nisso. Sei que tenho
milhares e milhares de anos, o que não é tanta velhice assim para pedaços de terra como eu, só sei que me separo do
continente por um pequeno trecho de água chamado de Estreito dos Mosquitos. Dos
mosquitos? Isso mesmo. Imagino que botaram o nome de Mosquito a esse estreito porque
nesse lugar as ferroadas doíam pra
burro. Será? Já que mosquito é o que não falta em todo lugar que tenha água,
terra e mangue, como minha superfície, portanto.
Como ia dizendo, resolveram me
batizar hoje. O nome que escolheram foi São Luís., em homenagem ao rei da
França, que nunca vi mais gordo . Isso embora eu já tivesse o nome de Upaon
Açu, que me foi dado pelos Tupinambás
que viviam há muito tempo por aqui e que acho até mais bonito. Upaon Açu, significa Ilha Grande o que não
soa nada mal pra mim não é?
E por que essa gente vir de tão longe
para me apelidar de São Luis, se eu já tinha nome? Aí é que está, essa turma não
veio de tão longe, sem segundas, terceiras e quintas intenções. Certamente não
vieram só por causa de meus belos olhos, que é essa a minha paisagem de sol ,
mar , praia, horizonte à beira do mar, linda de morrer, sem falsa modéstia.
Na verdade, faz mais de século que,
de vez em quando, eles começaram a aparecer por aqui para encher de madeira suas canoas grandes ( por eles chamadas caravelas)
, que levavam para os seus lugares de
origem. No começo causaram o maior reboliço nos nativos daqui, que nunca tinham
visto igual. Com o tempo os tupinambás tiveram de se acostumar com seus
focinhos porque com o passar dos anos volta e meia vinham dar nos meus
costados.
A si chamam de portugueses, franceses e holandeses, o diabo a quatro, ao
mesmo tempo que chamam os daqui de índios. Além das canoas grandes o que chamou logo a atenção foi a
arrogância no falar e no gritar e a pele diferente, bem mais clara, parecendo
cor de leite.
Se eles chamam os daqui de índios, os
nativos que moram sobre o meu solo, os tupinambás, chamam os portugueses de
peró, ou seja tubarões, e os franceses de ayurujuba, ou seja, papagaios
amarelos por estes serem louros ou ruivos, portanto um pouquinho diferente dos
primeiros , os portugueses, e falarem muito. Faz sentido, não é? Quem fala
demais ouve o que não quer. Até ser chamado de papagaio.
Desta vez eles, os papagaios
amarelos, chegaram em número bem maior
com 500 homens em 3 caravelas cujos nomes são Regente, Charlotte e Saint Anne Construíram
um forte, rezaram missa, cantaram, homenagearam o rei da terra deles, , Luís
XIII e, assim, em pouco tempo eu estava batizada e com novo nome.
Quanto às suas verdadeiras intenções?
Continua no próximo capítulo.
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