A LOJA QUE
VENDIA PAIXÕES
José Ewerton
Neto
Lojas Marisa. Rua Grande. Adentrando a loja poucos hão de
perceber a emanação de algo diferente que evola através dos detalhes arquitetônicos , escadas e plataformas.
É lá que, em meio a recordações o homem pergunta à vendedora:
“ Você sabia que aqui houve um cinema?” “Sim, alguém me disse.” Ela
responde. Talvez ele esperasse uma
resposta menos óbvia. Sem importar-se com isso e extasiado pela memória
continua: “Quantas vezes aqui estive na
adolescência. Aqui vi grandes filmes e grandes artistas. Ben-Hur, Os
brutos também amam, Burt Lancaster, Marlon Brando, Sofia Loren...Você conhece
Sofia Loren, não?” “ Com certeza não, senhor. Quem é?...”
O homem decepciona-se, o deslumbramento que começara a sentir
ameaça esvaecer ao entender ser compreensível que ela não sinta nenhum orgulho
especial por trabalhar em um local onde viveram tantas belezas, paixões,
histórias, sonhos e ilusões. Muito tempo passou, e é óbvio que ela não viveu tanta
coisa, talvez seus pais, quem sabe... Súbito, entrando em empatia finalmente com
suas recordações a moça compartilha: “
Olhe ali estão algumas imagens dessa época “
De fato, em relevo junto à parede podem-se ver enormes fotos
da época em que a loja era um cinema. O homem transporta-se novamente para o
passado e percebe que jamais conseguiria transmitir à sua interlocutora tantas emoções que ele e tanta gente sentiram.
Quem sabe, se ele fosse bem mais jovem e
um bom contador de histórias...
Então, talvez ele pudesse convidá-la para ir ao cinema e ambos adentrariam não nesta
Loja Marisa , mas no monumental Cine Éden
do passado. E ambos assistiriam Amor, Sublime Amor, de mãos dadas.
Num gesto brusco o homem
se vira e, dizendo um até logo, que soa mais como um murmúrio, se vai, para que ela não perceba uma lágrima que chega.
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