SUSPIROS DE
UM GÊNIO
José Ewerton
Neto
Luís Buñuel, um dos gênios do cinema,
foi o autor de um das melhores
autobiografias já publicadas intitulada Meu último Suspiro, não só pela sua beleza literária como também
pelo elevado grau de conhecimento de vida, autenticidade e sinceridade.
Resumo aqui apenas 6 desses tantos
“suspiros” geniais
1.Sobre o terrorismo e o patriotismo.
Tenho desprezo por aqueles que fazem do terrorismo uma arma política para uso
de uma causa qualquer, por aqueles que matam e ferem para atrair a atenção do
mundo. Tenho horror a eles. Parece-me ignóbil qualquer ostentação patriótica. Não
suporto o patriotismo ostentatório. Nada me parece mais abominável do que
os hinos nacionais.
2.Sobre Federico Garcia Lorca e
Salvador Dali.
De todos os seres humanos que
conheci, Federico é o mais marcante. Não falo nem de seu teatro ou de sua
poesia. Falo dele. A obra-prima era ele. Podia ler qualquer coisa, a beleza
sempre jorrava de seus lábios. Era como uma chama.
Quando penso em Dali, apesar das
recordações de nossa juventude, apesar da admiração que ainda me inspira uma
parte de sua obra me é impossível perdoar-lhe o seu exibicionismo ferozmente
egocêntrico e, sobretudo, seu ódio declarado à amizade.
3.Sobre viagens.
Nunca viajei por prazer. A atração
pelo turismo – tão disseminado à minha volta, não existe para mim. Não
sinto nenhuma curiosidade pelos países que não conheço e jamais conhecerei. Em
compensação, gosto de retornar aos lugares onde vivi, aos quais me prendem
recordações.
4.Sobre partidos.
Embora simpatizante e fazendo parte
da Associação dos Artistas Revolucionários, nunca aderi ao partido. Não gostava
das longas reuniões, não podia suportar a ordem do dia, as considerações
intermináveis, o espírito de célula.
Mantive minhas simpatias pelo partido
comunista até o fim dos anos 50, Depois disso fui me afastando cada vez mais. Seja
onde for o fanatismo sempre me repugna.
5. Sobre o fim.
Se me dissessem: restam-lhe 20 anos de vida, o que quer fazer de cada um
dos dias que vai viver? Eu responderia: dê-me duas horas de vida ativa e 22
horas de sonho, contanto que possa lembrar-me destes – porque os sonhos só
existem através da memória que os alimenta.
6.Sobre bares.
O bar é, para mim, um local de meditação e recolhimento
sem o qual a vida é inconcebível, um exercício de solidão. Antes de mais nada tem que ser tranquilo, bastante
escuro, muito confortável. Toda música, mesmo distante, tem que ser severamente
proscrita, contrariamente ao hábito infame que hoje se propaga no mundo.
( obs do cronista: Imagina se vivesse
hoje no Brasil e fosse obrigado a escutar dupla musical sertaneja!)
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