LI GAUGUIN
Li Gauguin.
Pera aí, mas
Gauguin é para ser visto, não lido. Que
história é essa, cronista?
Explico,
caro leitor. Li Gauguin , mas não em livro de Paul Gauguin, o genial pintor,
mas de outro grande: o romancista Somerset Maugham.
O romance,
que muita gente já deve conhecer pelo menos do título é Um gosto e seis vinténs, que eu havia adquirido há anos, num sebo
e, como tanto outros que acumulei , aguardava a vez de ser lido. Comprei-o
respaldado no que já havia lido desse autor: Servidão Humana e O pecado de
Lisa, que tanto prazer de leitura me deram quando jovem.
Enquanto
lia, cheguei a suspeitar que o personagem principal do livro, Strickland: um
pintor que abandona a civilização e os interesses da vida comum para sair à
caça da beleza e da verdade ( ou de como ambas se tornam unívocas através da obsessão criativa) tinha traços do
que eu conhecia da biografia de Paul Gauguin. Finda a leitura, relendo sobre a
obra e ainda entusiasmado pela narrativa, minhas suspeitas se confirmaram. O
autor se inspirara em Gauguin.
Um título
estranho e um personagem complexo por trás de sua genialidade nem sempre são
suficientes para seduzir um leitor, mas Somerset Maugham é um autor que não tem
medo de transmitir a emoção contemplativa da Arte, através da simplicidade e
mesmo de alguns clichês aqui e ali, em busca de trazer o leitor para o ambiente
de arrebatamento, quase intraduzível, da
sina a que se propõe o personagem. O que consegue com louvor.
Para
complementar esta sugestão de leitura basta acrescentar esta reflexão sobre o
personagem Strickland que destaquei de um dos diálogos do romance.
(...) - E a
paixão que escravizava Strickland era uma paixão por criar beleza. Ela não lhe
dava paz. Levava-o de um lado para o outro. Era eternamente um peregrino,
assombrado por uma nostalgia divina, e o demônio que tinha dentro de si era
implacável. Existem homens cuja ânsia pela verdade é tamanha que para
alcançá-la destroem todas as bases do mundo. Strickland/(Gauguin) era assim.
artigo publicado aos sábados no portal
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