domingo, 1 de junho de 2025

TUDO É VIROSE

 



A entrada do novo século simplificou tudo de forma avassaladora:  Tudo é VIROSE. ”

 

Bons tempos aqueles em que quando você sentia febre, dor de cabeça, resfriado ou diarreia o médico lhe examinava e identificava a origem da doença, cujas causas mais comuns popularmente eram: infecção, má digestão, pulmão afetado, contusão, causas psíquicas, etc etc

A entrada do novo século simplificou tudo de forma avassaladora:  Tudo é VIROSE.

O médico, concentrado no celular, nem mais lhe fita direito. Antes mesmo que você comece sua fala ele já interrompe a ladainha de seus males dizendo: Deve ser Virose. Vou lhe passar alguns exames só para confirmar.

Desconsolado, você esboça alguma reação

- Doutor, que remédio então devo tomar?

- Viroses não são curáveis com remédios, mas fique tranquilo. Você vai ficar bom mais dia menos dia.

Como seu mal-estar continua, você trata de obter   o resultado dos seus exames o mais breve possível. Novamente diante do médico, este, depois de contemplar as imagens por brevíssimos dois segundos, conclui:

- Não lhe falei? Sabia que era virose.   Está liberado.

- Mas...  Que tipo de virose? Como se chama? Que posso fazer para combate-la?

- Não existe ainda vacina específica para ela. Só posso lhe garantir   que você não é o único e que essa danada está atacando na cidade toda. Procure relaxar e dar tempo ao tempo.

Sem remédio você sai do consultório mais frustrado do que ao chegar, isso porque acabou de saber que essa tal   virose que lhe acompanha em todos os   seus instantes  de agonia não tem sequer um nome para chamar de seu.  É Virose e ponto final.  

 

2. Tenho um amigo que depois de tanto ser diagnosticado com virose (sua família, seus amigos e até o cachorro de sua casa), adquiriu tanta experiência em medicina que automaticamente   diagnostica como Virose a tudo que acomete os múltiplos clientes que lhe procuram à cata de orientação na farmácia onde trabalha, como enfermeiro

De uns dias para cá anda pensando em abrir um consultório e exercer legalmente (pelo conhecimento de causa) o ofício da Medicina. Sabe que quando receber os doentes terá prontas   95% das respostas possíveis.

Pensa, inclusive, em   apor diante de seu consultório   uma placa com os dizeres: Diagnóstico em poucos segundos, sabendo que estará possibilitado a identificar até as doenças de origem sentimental, como dores de cotovelo ou de corno. 

Neste caso a experiência lhe facilitará o diagnóstico.

“ É um vírus muito comum hoje em dia que, em épocas festivas como Carnaval e são João, se propaga que é uma beleza! O remédio é relaxar. “


segunda-feira, 26 de maio de 2025

UMA ENTREVISTA


 


ENTREVISTA  CONCEDIDA  À REVISTA LITERÁRIA VIRTUAL SACADA LITERÁRIA.

ENTREVISTADOR: POETA PAULO RODRIGUES  


1 Paulo Rodrigues – José Ewerton Neto, o Fernando Pessoa afirmou: “A literatura, como toda arte, é uma confissão de que a vida não basta”. Você pensa a literatura da mesma forma que o Pessoa?

 

José Ewerton Neto – Não. Inclusive não sei porque as pessoas têm tanta admiração por essa frase que originou outra, de Ferreira Gullar, muito repetida. Ora, penso que a vida não basta para todo mundo já que ninguém quer morrer. Não basta para o artista, como também não basta para o médico, para qualquer camelô, para o mais humilde carroceiro e, nem por isso, todo mundo é artista. Acho que a literatura existe -  ou a arte em geral - como expressão da necessidade que  algumas pessoas têm de transmitir algo pensado e que lhe foi revelado como um dom, graças à sua capacidade imaginativa. Como todo trabalho na vida e todo exercício profissional alguns fazem isso com talento, a maioria não. Simples assim. Não acredito nessa interpretação de que alguém só porque escreveu uma poesia (que ninguém sabe ainda se é boa) ou tentou escrever uma história (idem) só por isso possa de antemão inferir que foi dotado de um destino especial, transcendente e distinto de todos os demais   seres humanos que não são artistas.     

 

 

 

2 Paulo Rodrigues – Você é um grande romancista, contista, cronista e também um poeta potente. Há proximidade entre a prosa e a poesia? Como observa essa questão?

 

José Ewerton Neto – O ‘grande’ fica por conta de sua delicadeza, mas, sem dúvida, diria que há muita proximidade e até que ambas sejam gêmeas, oriundas da mesma mãe, a Literatura. Acontece que,  muitas vezes, alguns leigos ou até mesmo escritores incautos tendem a achar que se trata da mesma coisa ou que quem exerce uma, pode  exercer a outra. Nem todo grande poeta ou grande escritor exerceu,  a todas as luzes, como Edgar Allan Poe, Jorge Luis Borges e Machado de Assis incursões vitoriosas em ambos os gêneros. O poema que mais gosto em língua portuguesa é A Mosca Azul, de Machado de Assis, mas   tem gente do mundo literário que nem sabe que Machado foi um grande poeta. Voltando à sua pergunta a principal distinção que vejo entre os dois gêneros está na sua execução e prática que,  no caso da poesia, pode ser menor em tamanho (tornando-se, a princípio, mais breve). Assim não demanda, quase sempre,  a mesma carga de dedicação, disciplina e tempo, o que faz com que a proliferação do exercício poético redunde, pela disseminação e fragmentação, em mais erros que acertos. Lembro uma frase de um grande violonista que dizia que o Violão era o instrumento mais fácil para se tocar mal e o mais difícil para se tocar bem. Julgo que o mesmo se pode dizer da poesia e a grande profusão de poetas na Internet comprova isso. Há muita quantidade, qualidade nem tanto, infelizmente. (Embora eu considere salutar essa proliferação e fragmentação, sempre  preferível à falta de adesão ou à indiferença) .

 

 

 

 

3 Paulo Rodrigues – Ewerton, o romance O prazer de matar foi premiado no Concurso Cidade de São Luís e publicado pelo SIOGE. Fale um pouco sobre ele.

 

José Ewerton Neto – Este romance marcou minha estreia na cena literária maranhense numa época em que minhas obrigações profissionais como engenheiro metalurgista, trabalhando na Alumar, mal me davam tempo de  escrever crônicas publicadas nos jornais. Acontece que, por essa época,  tive de fazer uma cirurgia e aproveitei a convalescença para colocar nas páginas uma ideia que tivera: de um personagem inusitado, matador simplório e, ao mesmo tempo trágico,  que se oferecia para matar suicidas por falta de outra opção para sobreviver. Por sugestão do saudoso amigo e escritor Jomar Moraes enviei os originais para José Louzeiro, que, para surpresa minha, recomendou o livro com palavras que vieram a compor a contracapa da primeira edição premiada. Isso me estimulou a que dois anos depois tirasse férias de 20 dias para poder escrever outro romance com uma nova ideia e nascia assim A Ânsia do prazer, também laureada. O curioso é que entre a primeira edição do romance, em São Luís,  até uma terceira edição nacional pela editora Arte Pau Brasil, SP,  com o título O oficio de matar suicidas, aconteceram dois casos, na vida real, semelhantes aos relatados no livro, o que comprova o dito de Oscar Wilde de que a vida é que  imita a ficção,  muito mais que o vice-versa.  

 

 

 

 

4 Paulo Rodrigues – Na poesia, o livro Cidade Aritmética obteve, em 1995, o prêmio Sousândrade, no Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís. Fale um pouco sobre a experiência com a poesia.

 

José Ewerton Neto – Eu já havia tido uma experiência anterior no gênero com o livro Estátua da Noite, de poemas, este sim, o meu primeiro livro, editado pelo SIOGE e cuja orelha foi feita por Erasmo Dias, de quem me tornara amigo. Nessa época eu já morava no Rio de Janeiro, trabalhava na Cia. Siderúrgica Nacional e as demandas profissionais me afastavam das atividades literárias. Não fiz lançamento, nem sabia direito como era isso rsrs e o sonho da literatura parecia longínquo. Somente quando retornei a São Luís e escrevi O Prazer de matar e o livro teve excelente repercussão da crítica maranhense voltei a pensar em publicar os poemas que eu produzira anos atrás e dos quais Erasmo Dias apreciara até mais  que os de Estátua da Noite. Da composição originou-se esse livro de poemas com construções formatadas como uma Engenharia na segunda parte e com alusões à Matemática na primeira. Tenho a pretensão de acreditar que esse é um dos poucos livros de poesia, escritos no Brasil, somente com temas matemáticos.

 

 

 

5 Paulo Rodrigues – Ewerton, quando você se tornou um leitor de literatura? Qual é o lugar dos livros na sua vida?

 

José Ewerton Neto – Comecei a gostar de ler desde criança primeiro através de revistas   em quadrinhos, inclusive fotonovelas, até romances que comecei a gostar quando deparei, por acaso, nas prateleiras da estante da minha saudosa tia professora Rosa Ewerton com o livro A Marca do Zorro de Jonhston Mc Culley (um deslumbramento!). Posso dizer que a leitura foi uma das maiores dádivas recebidas durante a minha vida e pela qual serei eternamente agradecido a Deus. A leitura, com todas as possibilidades que traz é uma felicidade! e, confesso, não entendo que nas Escolas  se obrigue um estudante ainda em formação à leitura obrigatória de livros antes de lhe dar condições, primeiro,  de ler aquilo que lhe traga prazer. Claro que um mestre tem por obrigação sugerir a leitura de determinados livros, mas sugerir é uma coisa, obrigar outra e a leitura só se tornará a felicidade (que tive e tenho) se vier junto ao “prazer” de estar lendo o livro que se tem nas mãos.  

 

 

 

 6 Paulo Rodrigues – Como você enxerga o romance contemporâneo brasileiro e maranhense?

 

José Ewerton Neto – O romance maranhense praticado em São Luis, não tem a mesma vitalidade da produção poética. As condições de subsistência, como se sabe, são precárias para um escritor local que pretenda extrair seu ganha-pão da prática de narrativas longas já que estas demandam muito mais tempo e dedicação. Essa pode ser uma das explicações para isso. Bons romancistas maranhenses de envergadura nacional são Ronaldo Costa Fernandes e José Sarney e ambos não residem aqui. Nosso país tem ótimos autores mas sinto que o romancista brasileiro, diante da concorrência internacional (que é muito boa, até porque os livros que vêm de fora traduzidos, já foram referenciados) permanece no dilema entre   agradar o público ou a crítica, e acaba muitas vezes não se estabelecendo em nenhuma dessas vertentes. Dos romances brasileiros muito comentados recentemente Li Torto Arado que não me agradou. Ganhei de presente e pensei que não fosse gostar de Bambino a Roma, de Chico Buarque ( por causa da leitura que fizera de seus primeiros romances)  mas esse livro me surpreendeu agradavelmente.

 

7 Paulo Rodrigues – Fale para os leitores sobre o livro A Última Viagem de Gonçalves Dias e Outros Contos. É um livro de ficção? Ou é mais um trabalho de pesquisa?

 

Admiro os pesquisadores, mas além de não saber praticar acho extenuante o trabalho de pesquisa. O surgimento da ideia, apareceu justamente em uma conversa com o escritor e pesquisador Agenor Gomes (que fez um trabalho marcante no gênero sobre a vida de Maria Firmina dos Reis). Eu sugeri a ele: “Agenor, já que a última viagem do poeta dá margem a tantas contradições e mistérios, sendo , portanto, um tema fascinante, você faz um trabalho de pesquisa sobre a mesma e eu fico com a ficção, que é a parte mais fácil.”  Rs Rs.  Enfim, como tenho dito nas entrevistas, A última viagem de Gonçalves Dias tenta suprir as lacunas de uma viagem nunca suficientemente esclarecida, com forte dose de conteúdo poético, como forma, também,  de homenagear esse escritor tão querido de todos nós.

 

 

 

8 Paulo Rodrigues – Quais são os novos projetos literários do José Ewerton Neto?

 

José Ewerton Neto – Você acredita, o livro vencedor do último prêmio Odylo Costa, filho, do Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, (tão tradicional e tão desprezado, pelas autoridades) foi um título deste autor chamado O que dizem os olhos. Ficaria muito grato se alguma instituição, empresa, secretaria, ou universidade, se dispusesse a publicá-lo até mesmo como forma de servir de recado às autoridades, pois, embora o regulamento contemplasse a publicação do livro, esta não foi realizada, o que constitui uma grosseira transgressão da Lei que impõe o Concurso, criado com o propósito de estimular a produção cultural maranhense. Independentemente disso, sempre tenho títulos prontos em diversos gêneros (na crônica até por obrigação) pois sou colaborador assíduo do site do Imirante, para onde migrou o jornal O estado do Maranhão.

 

 

9 Paulo Rodrigues - Deixe uma mensagem para os nossos leitores.

 

José Ewerton Neto – Escrevam. Como disse José Saramago, para escrever um romance é muito simples: “Comece com uma letra maiúscula e no final você coloca um ponto. E, no meio, você põe a ideia”   

Porém, antes disso, há algo que considero fundamental: Leiam, leiam muito, leiam bastante, não parem de ler. Jamais.


segunda-feira, 5 de maio de 2025

OS MISTÉRIOS DO SEXO


 


MISTERIOS DO SEXO

José Ewerton Neto

.... Fumar pode encurtar o pênis quase um centímetro.

O que será que torna o sexo tão especial a ponto de em pleno encerramento do primeiro quarto de século da   pós modernidade, ainda persistir tanto desconhecimento a respeito?

Garanto, caro leitor (a) que mesmo se julgando especialista você não sabia que:

1.Fumar pode encurtar o pênis quase um centímetro.

Ou seja, leitora, se você tem como   parceiro um fumante inveterado, pretende prolongar o seu relacionamento, e anda desconfiada do tamanho PP do rapaz, recomenda-se, por prevenção, medir com uma régua o dito cujo para evitar que ele atinja em breve o limite mínimo suportável

2. No Líbano um homem pode ter relações sexuais com animais desde que sejam fêmeas. Relações sexuais com machos podem ser punidas com a morte.

Quanta descriminação contra os pobrezinhos! E o pior é que ainda não está ao alcance dos animais, participarem de passeatas LGBT contra práticas discriminatórias.

3.Devido a liberação de endorfinas o orgasmo feminino é um poderoso analgésico.

Portanto, alegar dor de cabeça não é um motivo muito justo para esposas e namoradas se negarem à prática sexual. Deve ser por isso também que lojas de artigo pornô proliferam nas grandes cidades como se fossem farmácias com seus vibradores e consolos. Tornando-se muito comum que quando as mulheres procurem seus médicos, se queixando de dores incontornáveis de cabeça, este lhes sugira: “Se seu parceiro não está ajudando Já tentou buscar remédio numa loja pornô? ”

4. A palavra clitóris vem do grego e significa chavinha.

É por isso que, para o homem, a menor distância para conquistar o paraíso é descobrir o segredo da chavinha. OU, pelo menos, o código.

5. As primeiras ereções masculinas ocorrem no último trimestre de gestação quando ainda são fetos.

Isso significa que, caso estas não ocorram, haja homem que antes mesmo de nascer já foi broxa. Isso significa também, que certas mães ao sentirem algumas pontadas mais profundas dentro da barriga tenham um sinal que o seu rebento terá um prodigioso futuro como bem-dotado.

6. Durante a ejaculação o sêmen atinge a velocidade de 45 km por hora.

Embora ainda não tenha sido registrada multa por causa disso é bom evitar fazer essas coisas dentro do carro. Tem barreira eletrônica que multa a partir de 40 km/ hora e elas não costumam estar bem aferidas.


quarta-feira, 30 de abril de 2025

A MAIOR DE TODAS AS ILUSÕES


 

A MAIOR DE TODAS AS ILUSÕES

 

José Ewerton Neto

 

 

 

 

A maior de todas as ilusões é você mesmo, caro leitor.

O neurocientista Daniel Dennet atesta, como outros especialistas, que a mente humana é apenas uma constante sucessão de ideias, lembranças, sucessões, projetos, sentimentos, disputa por atenção etc. que passa por nossa consciência, de forma não linear. Para ele a forma de dar sentido a esse turbilhão é dizer que há um Eu no comando de seus pensamentos. Mas esse eu unificado é apenas um conceito, portanto, um impostor.  

A IA respondeu exemplificando com um diálogo entre o ser humano e sua imagem no espelho quando indaguei se era verdade que o ser humano não passava de uma ilusão, depois de ter confirmado que, de fato, não passamos de ilusões.   

 

- Quem é você?

- Eu sou você.

- Nada disso. Você é apenas a minha imagem. Eu sou eu.

- Não se iluda. Eu sou você.

- Idiota! Se você for eu, quem, afinal, eu sou?

- Uma ilusão. Somente isso e mais nada.

- Ah, quer dizer então que eu como, bebo, respiro, transo, posso te mandar à puta que pariu agora mesmo e, mesmo assim, eu não sou eu. Enquanto que você, sem corpo e sem vida, por trás da lente de um espelho é a minha pessoa...

- Eu pelo menos sou sua imagem. Você nem isso, simplesmente é uma fantasia criada por você mesmo.

- Essa é boa! Vejo que você pretende me tirar do sério. Quer dizer que sequer uma imagem eu consigo ser, ou ter?

- Claro! Basta pensar. Daqui a um segundo você já terá outra imagem. Eu poderei ser sempre sua imagem atualizada, basta vir ao espelho. Já você, ao sair daqui, pensará que sua imagem ainda será a mesma de agora, esquecido de que esta já foi envelhecida pela passagem de mais um segundo.  E, assim por diante, uma sucessão de rostos se deteriorando até morrer.

- Peraí. E meu pensamento?

- Seu pensamento é uma soma de sensações que você teve, imitou dos outros ou lhe impuseram, portanto, nada exclusivo seu.

- E meu relógio? Meus pais? Meus genes? Minha carteira de identidade?

- Não são seus. Você os tem apenas provisoriamente.

- Nada existe então de meu? De minha pessoa?

- Nada, você é pó, e ao pó retornarás, lembra? Já eu não. Hoje sou você, amanhã posso ser outro, mais outro. Pelo menos sou uma imagem. Valho mais que você.

- Miserável! Vou te matar criatura, seja lá quem você for.

- Vamos lá, pegue uma pedra atire em minha direção e me quebre. E assim perderá a oportunidade de continuar olhando a ilusão que você é. O resto é memória. Quando fica.

sábado, 26 de abril de 2025

BEN HUR A PERDER DE VISTA


 


“Qual filme você assistiu mais de dez vezes e tem vontade de assistir novamente? ”

Essa pergunta, em uma postagem do   Facebook, despertou-me a curiosidade a ponto de conferir as respostas.

Acompanhei vários comentários, para mais de 70, que destacaram, para surpresa minha, alguns filmes antigos de minha preferência como Ben-Hur e A noviça Rebelde etc, entre vários outros de produção mais recente

            Tivesse eu que apontar 3 filmes marcantes escolheria um para cada diferente fase da minha vida: Ben-Hur na infância, Dr.Jivago na adolescência e A Primeira noite de tranquilidade, na maturidade.

Ben-Hur e Dr.Jivago foram filmes premiados com vários Oscars.   A primeira noite de tranquilidade sequer pertence aos cânones dos críticos de cinema. As razões dessa minha escolha fogem à objetividade dos entendidos em cinema e prende-se às sensações que os cristalizaram em minha memória por diferentes motivos.

Ben-Hur não representou para minha infância apenas um filme assistido e admirado, mas uma descoberta. O glorioso impacto aconteceu quando descortinei, à vista da tela, cenas memoráveis quase ao alcance da mão: o sofrimento e o combate nas galés; a famosa corrida de bigas, o reencontro do personagem principal com mãe e irmã despedaçadas pela lepra, o milagre e a redenção.

Ao constatar, porém a ausência de qualquer citação na referida lista a Dr.Jivago, fiquei motivado a fazer o seguinte comentário:

“Jamais assistiria a um filme dez vezes, a ponto de repeti-lo mais tarde, mesmo sendo Ben-Hur, mas sinto falta, entre os citados, de Dr.Jivago. Para mim, há várias razões para assisti-lo mais de uma vez além da concepção estrutural e cinematográfica intrínseca ao filme: os sedutores olhos verdes da heroína Lara (Julie Christie), a cena antológica de sua incursão em uma festa de ricaços em que ela, plebeia e vestida com andrajos, invade o luxuoso salão para dar um tiro no homem que a prostituía seguida de sua saída triunfal e impactante. A fotografia gélida e sombria, coerente com a opressão dos anos pós- revolução comunista russa. Tudo isso tendo ao fundo a música tema do filme:  o tema de Lara.  Belíssima!


terça-feira, 1 de abril de 2025




DE PERDIDOS A PERDEDORES

José Ewerton Neto

À primeira vista isso parece simples como constituinte do fatídico humano...

 

Perdido. Sem saber quem é, nem de onde veio, nem para onde vai. E cercado de perdas por todos os lados.

É esse o homem?

Sob um ângulo científico, sim. Caso não se socorra de sua fé religiosa para responder à primeira parte das questões fundamentais de sua existência, para as quais a Ciência jamais encontrou resposta.

Mas o pior é que, queira ou não queira, também é um perdedor nato e é disso que se ocupa Kathrin Shuls em artigo intitulado Permanência publicado na revista Época, tempos atrás. E, embora as Perdas sejam fatos corriqueiros em nossas vidas, fingimos não nos dar conta disso.

Estatisticamente dados de uma pesquisa mostram que um cidadão comum perde cerca de nove objetos por dia, o que significa que quando completarmos 60 anos teremos perdidos cerca de 2 mil coisas. Durante toda sua vida você passa cerca de seis meses procurando por objetos perdidos. Somente em celulares perdidos nos USA uma década atrás foram gastos 30 bilhões de dólares, imagine hoje!

À primeira vista isso parece simples como constituinte do fatídico humano, mas essas pequenas perdas não passam de presságios de perdas ainda maiores - da autonomia, da capacidade intelectual e, finalmente, da própria vida. Por isso quando perdemos coisas, mesmo triviais, ficamos tão chateados. Independentemente do que desaparece a perda nos coloca em nosso lugar, nos faz confrontar a desordem, a perda de controle e a natureza efêmera da existência, diz a autora.

Até chegarmos a maior das perdas, a dos entes queridos. Tantas vezes, inconscientemente, saímos à procura daqueles que perdemos e que jamais encontraremos, porque, diferentemente de outras perdas, a morte é a perda sem possibilidade de encontro.

Nossa sina prosseguirá, irreversível, até que em determinado dia deixaremos, afinal, de sermos perdedores. É quando passaremos de perdedores a perdas para os que continuam vivos, a quem só restará para reflexão a frase latina Consummatum Est (Está consumado!) pronunciada  por Jesus Cristo quando estava na cruz e sabia que a sua missão redentora havia sido cumprida -  referindo-nos não mais ao que se foi mas ao que restar de  nossa própria existência.

 

 

domingo, 23 de março de 2025

EMILY, DAS PAIXÕES UIVANTES



EMILY BRONTE, DAS PAIXÕES UIVANTES

José Ewerton Neto

...o morro dos ventos uivantes   é um aprendizado sobre a paixão.

3 anos atrás o livro O morro dos ventos uivantes, de forma um tanto surpreendente porque é um clássico, permaneceu por vários meses na lista dos mais vendidos no Brasil. (Clássicos da literatura, como se sabe, não permanecem tanto tempo na lista dos best-sellers).  Tive a ventura de ler esse romance mais de duas vezes e de ter assistido outro tanto de suas diferentes versões cinematográficas, a última com Juliette Binoche no papel principal.

Se outro clássico famoso, Romeu e Julieta, é um ensinamento sobre o amor   O morro dos ventos uivantes é um aprendizado sobre a paixão. Parece a mesma coisa, mas não é. Creio ser essa uma das razões para tanta fascinação que carreia para suas páginas. A primeira vez que o li, na adolescência, fiquei arrebatado de forma inusitada. Certamente, havia em seu enredo e sua narrativa algo de mágico, sombrio e, ao mesmo tempo,  sedutor.

Pois foi através desse arrebatamento que cheguei à criadora desse romance, Emily Bronte, quando anos mais tarde fui pesquisar a sua biografia.

Parece que a estou vendo agora, na casa onde morava, ou nas charnecas, ao lado, onde os morros uivavam e era fácil ver fantasmas vindo dos cemitérios que circundavam seu rancho. A mente sonhadora, de moça oprimida por um pai autocrático e severo, que tinha como único divertimento com suas duas irmãs, conceber cenas de teatro que escreviam em caixas de papelão.

 A terna Emily, que não se casou e morreu cedo, falecendo antes de completar 30 anos, de tuberculose, ao se recusar a receber cuidados médicos. Que passava seus dias com o olhar fixo na janela, onde batiam os ventos, transportando-se para o único lugar possível fora do lar onde as confinavam, vivificando as cenas com que revestiria o romance que a imortalizaria. Um drama em que as paixões beiravam o paroxismo, resvalavam para o doentio, mas jamais atingiam o ponto da insanidade ou do puramente tenebroso ou fantasmagórico. Humano, demasiadamente humano, como diria o filósofo escritor

Uma moça débil, mas formosa, de beleza melancólica e suave, dotada de um coração que guardava paixões tão intensas que foi capaz de transformá-las em furacões uivantes para deleite de seus eternos leitores


 

quinta-feira, 20 de março de 2025

ENTRE BALA E BULLYNG


O nome pegou: bullyng. Quando o termo se propagou no início do século ainda se usava nos colégios chateação, aporrinhação, perseguição, maltrato ou, no popular, escrotidão. Mas tudo na vida evolui e parece ser de menor sofrência hoje em dia dizer que se sofre bullyng ao invés de dizer que se está sendo perseguido. Enfim, o estudante brasileiro, definitivamente está entre balas (perdidas)  e bullyngs. 

Mas se ainda tiver alguém que não sabe ainda o que é bullyng , nada como refletir sobre os 3 tipos mais comuns para não confundi-los:

BULLYNG TIPO 1 : É o bullyng clássico, como imaginamos à primeira vista, mesmo que não saibamos a tradução exata: uma apelido aqui, outro ali, um empurrão indelicado, a implicância pura e simples sempre com a intenção de deixar a vítima em desvantagem.

BULLYNG TIPO 2: É o bullyng disfarçado, mas que todo mundo aceita como sendo inerente às organizações onde se trabalha. Fazer o quê? É o assédio sexual, a imposição de ser revistado na saída das fábricas como se fosse um ladrão, é ser tratado pelo chefe como moleque de recados, é puxar o saco do chefe escancaradamente. Este pensa que é um elogio, mas para você não passa de bullyng, ainda pior do que o do Tipo 1. É aquele que você impõe a si próprio, para sobreviver neste mundo de puxa-sacos.

BULLYNG TIPO 3: É o bullyng imposto pelas autoridades a uma  comunidade ou a um povo. É ter de aceitar impostos absurdos, multas de trânsito extorsivas, filas intermináveis de SUS, educação de quinta categoria. É se obrigar a ter por ídolos Anitta, cantores sertanejos, Gabi Gol. e ex- BBBs É te obrigarem a votar em quem você não quer  e ter sempre que escolher um menos pior. 


 

quarta-feira, 19 de março de 2025

ACERTE NO AMOR

 



645 O NÚMERO PENSATIVO COMENTA 








KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

domingo, 9 de março de 2025

MULHERES GEOMÉTRICAS

 



MULHERES GEOMÉTRICAS

 José Ewerton Neto

A mulher esférica é um coração que vibra em todas as direções como um pião girando”


Como singela homenagem às mulheres neste dia   especial os três   poemas abaixo talvez digam mais que uma crônica habitual sobre o ser feminino:  sua exuberância, sua simbologia e seus símbolos...  Extraídos   do livro Cidade Aritmética, deste autor, nessa eterna busca de interpretá-las na transcendência sutil de suas representações. 

 

A MULHER CÔNICA

 

MULHER cuja altura dela foge /Toda vez que em círculos de prazer se deita/ a acariciar às escondidas o mais profundo poço de si mesma

 

Altura que dela foge e, de repente, às ribaltas, aos voos, às asas /quase lhe leva junto num momento de ternura e rosas

 

Porém, ao bater com a cabeça no céu/ sua altura para num ponto, uma cruz / Mas não ela, que pacientemente faz do novelo desse sonho, seu capuz.


A MULHER ESFÉRICA


A mulher esférica é um coração que vibra /
em todas as direções como um pião girando

em torno do próprio espanto/ longe de seu lugar e hora.
Como um ponteiro que descompassado cai da abóboda do tempo

é logo capturada pela dança da ilusão e do sonho...
E roda ribanceira abaixo ou acima/ ao sabor dos impulsos de amor e dor.

 

 

 

A MULHER CILÍNDRICA

 

A   mulher cilíndrica é um gato/ que aos círculos sobe, foge/

Mas ao rodar não se lembra que é escrava do próprio giro

 

E nem adianta arranhar/ as transparentes paredes

desse anel que se projeta num céu que não acaba

 

Muito menos recordar/ que esse anel tem fronteiras/

É crescer, crescer, até que, de repente, a vida surja como tampa.

 


terça-feira, 4 de março de 2025

ENCONTRO COM O ESPÍRITO DO CARNAVAL




ENCONTRAMOS O ESPÍRITO CARNAVALESCO


Diziam que o espírito carnavalesco se ausentou dos últimos carnavais porque não se faz mais carnavais como antigamente. Fomos atrás para tirar essa dúvida e – surpresa – não foi difícil encontra-lo.

O mesmo de sempre, animado, mas com uma diferença. Já não canta mais as músicas carnavalescas como eram antes. Vejamos:

1.Como era:

“ Olha a cabeleira do Zezé. Será que ele é, será que ele é? Será que ele é bossa nova, será que ele é Maomé. Parece que é transviado, mas isso não sei se ele é”




.

Agora: Olha a cabeleira do Vittar, será que ele é, será que ele é. Será que ele é dançarino, será que ele é travesti. Parece que é tudo isso, mas nem isso eu sei se ele é.            

 

  2. Como era:

“Oh, jardineira, por que estás tão triste? Mas o que foi que te aconteceu? Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros, depois morreu! ”.

 

Agora: Oh, periguete, por que estás tão triste? Mas o que foi que te aconteceu. Foi o coroa que quebrava teu galho, deu dois suspiros, depois morreu.

 

3. Como era:

“Vestiu   uma camisa listrada e saiu por aí, em vez de tomar chá com torrada ele bebeu Parati. Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão e saia dizendo mamãe eu quero mamar, mamãe eu quero mamar, mamãe eu quero mamar. 

 

Agora: Pegou sua moto surrada   e saiu por aí. Em vez de tomar mel com cachaça cheirou um monte de pó. Levava um   canivete no cinto e um trinta e oito na   mão... E saiu dizendo Papai eu quero matar, papai eu quero matar, papai eu quero matar!

 

4. Como era:

“Acorda Maria Bonita. Levanta vem fazer café. Que o dia já vem raiando e a polícia já está de pé. ”

Agora: “Acorda Maria Bonita. Levanta sai atrás de café. Que minha grana já não tá dando, e a Polícia tá no meu pé. ”