domingo, 3 de agosto de 2025

A FELICIDADE ANDA MEIO INFELIZ

ENCONTRO COM A FELICIDADE

José Ewerton Neto  

“E agora? Tem mesmo certeza de que vale a pena ser feliz, caro leitor?...”

 

Felicidade ou morte, ao invés de Independência ou Morte, por exemplo, é o título de um livro de autoajuda de muito sucesso.

Portanto, caro leitor, “Seja feliz ou morra” parece até ordem de alguma autoridade constituída deste país, sob pena de acabar na cadeia ou pagar mais imposto de renda, o que, convenhamos, é ruim, mas ainda é preferível a morrer.

         E agora? Tem mesmo certeza de que vale a pena ser feliz, caro leitor?

 Para resolver essa parada fomos encontrar a Felicidade. Ela própria, em pessoa. Estava pronta para desabafar.

         - Não aguento mais.

         - O quê, precisamente, Dona Felicidade?

         - Tanta gente atrás de mim. Tanta procura, tanta adulação, pensei que isso fosse acabar depois da Pandemia. Essa gente acha que virei o único remédio para as mazelas do mundo. E o pior é que   sequer se dão ao trabalho de querer saber quem sou. 

         - E quem você é?

         - Isso é o que eu gostaria de saber. Todos tentaram explicar em vão: filósofos, religiosos, cientistas...  Se felicidade é isso que todo mundo pensa que eu acabei sendo, desconfio de que eu mesma nunca fui feliz e   jamais serei.

         - Se a Sra. me permite, essa melancolia abate   depressa   pessoas sensíveis como a senhora.

         - Se fosse apenas isso... A questão é que, mesmo sem saber quem sou, de repente, me julgam capaz de resolver todos os problemas do mundo.   Até das mortes. Ora, eu não sou Deus! Definitivamente, estou possessa com tudo isso!

         -Poxa, dona Felicidade! Não sei o que dizer.... Talvez...  Bem, só me resta sugerir...

         - O quê, pelo amor de Deus!

         - Que tal procurar   um analista, Dona Felicidade? Isso pode ser depressão.

         - Jamais! Conheço-os muito bem: eles me usam como se eu fosse vacina. Dizem: “Procurem dona Felicidade, ela resolverá seus problemas”. Ora, para que servem então?

         - Hei de convir que a Sra. tem razão. Só desejaríamos que, pelo menos, a Sra. continuasse feliz, para o bem da humanidade.  Senão...

         - E quem lhe disse que me incomoda ser infeliz? Acredite, com tanta gente falando asneira a meu respeito, até que gostaria de ser infeliz, só para que me deixassem em paz, compreende? Estou prestes até a adotar um lema para mim: Infelicidade ou morte!

 

 

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