“ A
boca me torna a mais triste ao lado dos olhos mortos.
Há uma
linha escura entre os lábios, no contorno de várias ondas de brisa numa
tempestade turbulenta — ela diz não me beije, não me engane. (...)
sou uma dançarina que não sabe dançar.”
Os
versos acima são de Marylin Monroe. Surpreso, leitor?
Provavelmente sim, já que, dessa atriz morta há mais de meio
século, todos se recordam apenas como atriz sex symbol.
Que, no entanto, se chamava Norma Jean e não Marilyn Monroe, que
era morena e não loura, e que estava mais para triste e solitária do que para a
doidivanas de esfuziante felicidade que aparece em tantas imagens.
O fato é que o aparente paradoxo apelativo de alguém famoso e
sedutor, com um final trágico, povoou as páginas de livros e filmes sobre a
trajetória de uma mulher que não era infinitamente bela como a comoção a
tornou, e que teria preferido, na sua intimidade, ter sido uma mulher comum com
alguém que a compreendesse e amasse.
Meses atrás, surgiram na net fotos da atriz lendo Ulisses, de
James Joyce, um dos maiores cânones da literatura. (Que nem todo escritor leu —
e a maioria que diz ter lido, não leu).
Marilyn leu o romance ou posou de intelectual para compensar a impressão
que passava de “loura burra”? E que a
fez se casar com Artur Miller, escritor consagrado, em mais um de seus amores
desafortunados?
A breve leitura de seus poemas mostra que foi uma pessoa de
sensibilidade singular, um ingrediente fundamental para ter sido uma artista na
verdadeira acepção da palavra. E se inscreve no degrau daqueles que embora
tivessem ganho muita grana, jamais tiveram isso como fundamental — como, mais recentemente,
a cantora Amy Whinehouse.
Seus versos íntimos, feitos no recôndito de sua solidão, mostram
isso: que Norma Jean não foi apenas a bela e sedutora Marilyn Monroe, mas uma
mulher que buscava um sentido mais sólido para suas aspirações de vida — o que
aumenta o progressivo fascínio em torno de sua trajetória como mulher e...
artista.
Como disse após sua morte Arthur Miller, seu marido:
“Para sobreviver seria preciso que ela fosse mais cínica ou, pelo
menos, mais próxima da realidade. Em vez disso ela era uma poeta na esquina,
tentando recitar seus versos a uma multidão. ”
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