segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

E O PALAVRÃO VIROU PALAVRINHA

Artigo de sábado de O estado do Maranhão,
seção Hoje é dia de...


E O PALAVRÃO VIROU PALAVRINHA

“ Eu quero saber se o povo está na merda e quero tirar o povo da merda
em que se encontra”
Lula, presidente do Brasil

José Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com




Como deve ter sido longa a trajetória da merda até chegar à boca de um presidente da república! Porém, calma, senhores, não queiram imaginar dejetos evoluindo ao longo dos séculos para chegar aos lábios de um ser humano importante. Até porque se existe algo imune à passagem do tempo deve ser ela, a merda. Provavelmente, continuará a mesma para sempre, quem sabe para nos lembrar o quanto seremos eternamente associados à imundície. Mas não estava falando do objeto físico e sim da palavra. E esta, quer queiramos ou não, evoluiu e muito.

Sim, porque antigamente a palavra merda era considerada um termo tão chulo que beirava a obscenidade pronunciá-la em celebrações e eventos públicos. Nessa época, , prezava-se o linguajar culto, aquele que ao sair da boca de alguém diferenciava uma pessoa importante do comum dos mortais. Digamos que, era inadmissível que alguém, escolhido por uma nação para dirigi-la, pronunciasse um palavrão num evento. Era vergonhoso, acintoso, imoral!
Depois da fala espontânea e recente do nosso presidente, em São Luis, ficou fácil concluir que os palavrões evoluíram e muito. Se antes eram restritos ao linguajar das cozinhas, dos porões e das alcovas, agora se mostram abertamente nos salões. Não precisam mais se esconder através de metáforas e eufemismos, e expõem uma verdade incontestável: o palavrão não existe mais, virou palavrinha. Se alguém duvida, basta pensar em alguns.

Porra: Será mesmo que algum dia, estas letras cinco letras significaram apenas esperma? Hoje, como todos sabem, essa expressão serve para tudo: adjetivo, pronome e substantivo ( tem gente que prefere ser chamado de porra, ao invés do próprio nome). Serve também como ponto de exclamação, vírgula, e até como figura de linguajem indefinida ( aquela que você pronuncia numa conversa como se fosse um resmungo, e que tanto serve para substituir um pensamento como para evocar o que não se tem para dizer):
“- Porra!”
“ “O que foi mesmo que você disse?”
“- Porra!”
“Puxa vida! Ainda bem, que existe alguém sempre prestando atenção à conversa para, no fim, fim sintetizar tudo de forma tão maravilhosa!”

Sacana: Um dia foi sinônimo de cafajeste, calhorda, safado e por aí vai. Sua chegada ao reino dos xingamentos deu-se para substituir a acusação de canalha, já que a conhecida expressão, mostrava-se incapaz de traduzi-los com perfeição. O contínuo aprimoramento deles, dos canalhas, fez com que, por sua vez, o termo sacana hoje não passe hoje de um elogio, quase sempre afetuoso. Como o das mulheres, que adoram elogiar seus ex-namorados chamando-os, carinhosamente, de sacanas, enquanto choram:
“Só sei que para mim ele sempre foi um grande sacana, principalmente na cama!”
O que significa que ela continuará por muito tempo apaixonada pelo dito cujo.

Filho da puta. Esse tipo de xingamento já levou muita gente à morte. Hoje, já não tem o menor resquício da conotação ofensiva que tinha, mesmo porque o objeto da ofensa - a puta – está sendo cada vez mais exaltado pela mídia e pela sociedade. Todos admiram as putas: de Bruna Surfistinha ( que virou best-seller e depois filme ) às do Big-Brother. Tanta admiração faz com que, incentivadas pelas mães, a maioria das meninas comece o aprendizado da profissão desde cedo, assistindo programas infantis de Xuxa ou imitando os rebolados eróticos das dançarinas de forró.

Ora, aceitando-se que os palavrões não tenham autonomia para se desenvolver à revelia dos homens, é fácil deduzir, fechando a questão acima, que se os palavrões viraram palavrinhas não foi porque, de fato, evoluíram, mas porque a humanidade tornou-se muito pior em termos de ética e moral. Que palavrão seria capaz de se encaixar num governador que mete dinheiro público nas meias e cuecas e depois vai agradecer a Deus? E que, ao contrário do que fazem alguns de seus iguais no Japão (que envergonhados, suicidam-se) quer mais é se perpetuar no poder?

Por mais que alguém se esforce para encontrar um palavrão que nele se aplique, será difícil encontrar no linguajar mais chulo ou rasteiro de nossa língua, um só que caiba em José Roberto Arruda e seus asseclas. Donde se conclui que se o brasileiro evoluiu positivamente em conhecimento técnico e científico, deu para trás em termos de caráter e dignidade pessoal. É triste, mas novos palavrões precisam ser urgentemente inventados!

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