sábado, 12 de dezembro de 2009

FELICIDADE INTERNA BRUTA

FELICIDADE INTERNA BRUTA
artigo publicado, hoje, sábado, na seção Hoje é dia de...
o Estado do Maranhão



José Ewerton Neto, membro da AML

Jose Ewerton Neto@hotmail.com





Recente reportagem da Revista Isto é dá conta de que empresas e governos, preocupados com o nível de satisfação de seus cidadãos brevemente estarão utilizando métodos científicos para medirem a Felicidade Interna Bruta de seus empregados e cidadãos. Antes de receber o seu FIB (certificado de felicidade) acho melhor precaver-se, leitor.
De antemão solicito que jamais façam isso comigo e adianto que meu estado de felicidade aumentaria muito se algum representante do governo, simplesmente, ordenasse aos seus guardas de trânsito que deixassem de enviar multas fantasmas a torto e a direito, e que aprendessem a fazer coisa mais útil no trânsito, além de apontar uma cadernetinha em nossa direção com a única intenção de multar, multar, multar.
E depois, a felicidade é um sentimento muito complexo, para ser medido não é mesmo? É de se esperar que, ao invés de medirem a nossa felicidade interna bruta, logo estejam medindo, com a brutalidade que lhes é peculiar, a nossa desilusão interna – e externa. Medir a felicidade de quem quer que seja, como já disseram os filósofos, sempre foi uma brutalidade. Mas o que é mesmo felicidade?
Lembro de que, em determinada ocasião, uma repórter perguntou a um escritor se este era feliz. Ele respondeu: “Depende; no seu conceito de felicidade, eu sou, mas no meu, não considero. Mas de uma coisa você pode ficar certa: prefiro mil vezes ser infeliz com a minha felicidade, do que maravilhosamente feliz na sua. Deu para entender? Felicidades existem lá e cá, cada um tem a que merece proporcional às suas mediocridades, mas qual delas os Governos estariam propensos a medir? Vejamos algumas mais conhecidas:

A Felicidade Idiota: É a daquele que se acha na obrigação de propagar a sua felicidade como se fosse um adorno, enfim, que acredita piamente que a felicidade pode ser ostentada como se fosse uma jóia. É a felicidade de Suzana Vieira, Hebe Camargo e de mais um punhado de celebridades, cuja ostentação de felicidade parece estar incluída nas cláusulas contratuais, para deleite de platéias ávidas por uma compensação para a tibieza de seus projetos de vida.

A Felicidade Epidêmica. É a felicidade dos que se contaminam facilmente com o
frenesi da massa popular, como se tivessem sido picados pela “doença da multidão” que, nesta época do ano, principalmente no reveillon , se transforma em “felicidade obrigatória”. São aqueles que passam a vida pulando de show para show de forró acreditando piamente que, pelo fato de se “divertirem pra valer” são donatários de toda felicidade do mundo. Tão incompreensivelmente felizes se acham que nem se dão conta do quanto são carentes e tristes, ao dependerem da felicidade dos outros para legitimar as suas.

A Felicidade Oportunista: É a de alguns governantes e líderes empresariais que utilizam uma “felicidade de fachada” para moldar temperamentos e obter lucro pessoal. Não é à toa que toda essa onda de otimismo cosmético e desenfreado tenha surgido nas empresas norte-americanas de meados do século passado quando os patrões queriam que seus empregados se transformassem em robotizados personagens de um sistema que não lhes desse tempo de refletir sobre sua condição sub-humana e sem perspectiva. É a felicidade dos que propagam o melhor dos mundos – desde que este não permita questionamentos aos seus projetos de ambição pessoal. Mais ou menos como a felicidade de José Roberto Arruda e seus asseclas, enfiando dinheiro nas meias e rezando em seguida para agradecer a Deus. Alguém já tinha visto antes tanta “felicidade”?

A Felicidade Verdadeira. É a que eu espero que você esteja sentindo agora, caro leitor, admitindo que o simples fato de ter boa saúde e memória fértil (segundo Ingmar Bergman) e, ainda por cima, estar tendo tempo para ler e meditar sobre isso, seja razão mais do que suficiente para ser feliz.

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