sábado, 2 de janeiro de 2010

CONTRATO DE FIM DE ANO

Artigo de hoje, sábado de O estado do Maranhão,
seção hoje é dia de...


CONTRATO DE FIM-DE-ANO

Jose Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com




Já que os seres humanos insistem em tratá-los como a seres vivos, capazes de fazer e acontecer, faz algum tempo que os anos novos, preventivamente, assinam em presença de Deus, um contrato de prestação de serviços de 365 dias. Eis, recentemente assinado, e em primeira mão, o de 2010:

1. O ano de 2010 compromete-se a fazer de conta que acredita que os excessos e as aberrações que os humanos cometerão, logo após sua chegada, são em sua homenagem, e não mero pretexto para dar vazão aos seus instintos etílicos. Idem promete não atrapalhar o reveillon, deixando-os se comportarem, mais uma vez, como se a mera passagem de um segundo - em tudo semelhante a infinitos outros - tenha algum significado especial ou seja capaz de mudar o que quer que seja.

2. O ano de 2010 promete trabalhar todos os dias do ano, chova ou faça sol, independente de ser feriado ou dia útil, mesmo contrariando interesses de baianos e cariocas, de políticos que só trabalham três dias por mês, ou de jogadores de futebol que só jogam um dia por semana e ainda se acham no direito de se considerarem cansados.

3. O ano de 2010 exime-se, peremptoriamente, das conseqüências que lhe serão atribuídas por conta de uma obrigatoriedade anual. Por exemplo, lembra que o Imposto de Renda, o IPVA, o IPTU, e as promessas e juras de emagrecer, são invenções incrustadas em uma necessidade que têm mais a ver com a cobiça e as obsessões dos homens, do que com a passagem corriqueira dos anos através dos tempos.

4. O ano de 2010 compromete-se a mandar a quantidade de água necessária que os homens venham a precisar. No entanto, lembra de que não o fará da exata forma que querem. (Ou seja, se a quantidade de água e vento enviada virar uma tempestade, ou um tsunami, em São Paulo ou em Santa Catarina, a responsabilidade não será sua, mas de quem nunca soube se prevenir a contento)

5. O ano de 2010 compromete-se a realizar a Copa do Mundo, mas avisa que não privilegiará essa ou aquela nação por conta de rezarem ou de dizerem, por exemplo, que “Deus é brasileiro”, como faz o Brasil. Lembra que a vitória dependerá, como sempre, de quem fizer mais gol, do juiz que roubar mais, ou de quem escolher seus melhores. Em resumo, não aceitará que tragédias coletivas ( tipo choro e ranger de dentes na Avenida Paulista ou em Copacabana ) lhe sejam atribuídas por conta de quem preferiu técnicos ruins( Dunga ) a jogadores bons ( Ronaldinho Gaúcho)

6. O ano de 2010 compromete-se a agir conforme reza seu contrato. Ou seja, simplesmente passará através da eternidade, e será indiferente a previsões e expectativas. Em resumo, jamais dará mais um minuto para um e menos para outro, mais rugas para uns e menos para outros, como pretendem certos arrogantes. Como a atriz Susana Vieira que exigiu da imprensa compreensão para suas atitudes “conforme a aparência, e não a idade”. Certamente, por nunca ter tido tempo suficiente (nem anos) para se enxergar em frente a um espelho.

7. O ano de 2010 compromete-se a enviar luz e calor no mesmo volume de sempre, apesar das previsões em contrário. Mas lembra que isso será insuficiente para iluminar os buracos-negros em que se transformarão as mentes, cada vez mais obscurecidas por programas como o Big-Brother, já anunciado. Exige, portanto, que ninguém o responsabilize por novos apagões, de origem psíquica.

8. O ano 2010 compromete-se a ficar até o final de sua jornada sem perda de seu entusiasmo. Mas, insiste em confirmar que não fará horas-extras, jamais admitindo que lhe aconteçam coisas como as que aconteceram ao ano de 1968 que virou, muito tempo depois, O ano que não terminou.
Como encerrará seu trabalho no último segundo do ano, avisa que quem quiser prender seu corrupto que o faça no dia e na hora certa. Assim sendo, não permitirá que se diga depois que José Roberto Arruda escapou para 2010, através do tempo e da falta de memória, quando a história confirmará, que se isso se der, será pela absoluta falta de vergonha de toda uma nação condescendente.

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