sábado, 20 de março de 2010

DOENÇAS MUITO ESTRANHAS ( OU NEM TANTO)

Texto publicado no jornal O Estado do Maranhão,
hoje, sábado, seção Hoje é dia de...

DOENÇAS MUITO ESTRANHAS ( OU NEM TANTO )


José Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com


Nestes dias de gripe A, uma pesquisa do jornal australiano Sydney Morning Herald relacionou dez das síndromes mais estranhas que atingem o ser humano. Todas essas doenças existem e mobilizam médicos e pesquisadores na busca de uma cura. Curiosamente, porém vê-se que a maioria delas já aconteceu no Brasil ou, pelo menos, alguma equivalente.

1. Síndrome do Sotaque Estrangeiro – Provocado por uma lesão no cérebro, o distúrbio faz com que suas vítimas passem a falar com sotaque – na maioria dos casos as vítimas sequer conhecem o novo idioma. Um dos casos mais recentes ocorreu em 2006, quando a britânica Lynda Walker sofreu um infarto e acordou falando inglês com sotaque jamaicano.
Doença muito semelhante ocorre com muitos brasileiros. Basta viajarem para o exterior: Paris, Londres, Nova Iorque etc. para propagar esse fato e ostentar – com sotaque interiorano - detalhes da viagem como se isso não fosse um fato tão corriqueiro hoje em dia. A doença não lhes permite perceber que num mundo tão globalizado como o de hoje, onde as diferenças culturais não são mais tão marcantes, nada justifica tanto alarde. Algum tempo atrás a televisão exibiu um desses doentes em visita ao exterior “chorando” de emoção porque estava vendo neve pela primeira vez na vida. Isso enquanto os de lá “choram”, mas de raiva, já que a neve, para eles, não passa do nosso equivalente em lama e aporrinhação.
Aparentemente, nossos doentes não se deram conta ainda que sofrem
desse mal, embora não se possa dizer que sofram da síndrome do sotaque estrangeiro, mas sim do complexo do sub-desenvolvido, ou do vira-lata, de que falava Nelson Rodrigues.

2. Síndrome da mão estranha. Em inglês “alien hand syndrome” ( síndrome da mão alienígena). Quem é acometido por essa doença vê uma das mãos ganhar vida própria. Os efeitos da falta de controle sobre a mão podem ser reduzidos dando a ela uma tarefa qualquer, como segurar um objeto.
Consta que alguns políticos, envolvidos com o mensalão, tentaram justificar a rapinagem do dinheiro público, apresentando-se como vítimas dessa doença. ( No caso, a anomalia teria acontecido, pela incapacidade de controlar as próprias mãos, todas as vezes em que sentem cheiro de dinheiro por perto.)
O Ministério Público ainda não se pronunciou a respeito, tanto é assim
que eles continuam à solta, mas e você? O que acha disso, caríssimo leitor?

3. Maldição de Ondina. Ondina é a ninfa das águas na mitologia pagã européia. As vítimas dessa doença perdem o controle da respiração, esquecendo-se de respirar e, muitas vezes, morrem sufocadas. Alguns, preventivamente, têm de dormir com um ventilador. Descoberta há 30 anos a síndrome registra cerca de 400 casos no mundo.
No Brasil o equivalente de maldição de Ondina não faz o doente perder o controle da respiração, mas do ouvido. Nossos doentes, se esquecem de pensar e, com o ouvido deteriorado, invadem as ruas com sons a decibéis de dar em doido. Somente através da doença se conseguiu finalmente explicar como a barulheira infernal não lhes corrompe os tímpanos. O que nunca vai dar para explicar é a perda da noção de que nem todo mundo está com o ouvido suficientemente atrofiado, para se deleitar com a parafernália.

4. Síndrome de Cotard. Espécie de depressão extrema que leva o doente a acreditar que já morrreu, e que todos ao seu redor também são cadáveres. Em casos extremos o doente pode até ter a impressão de sentir sua carne apodrecendo, e vermes passeando pelo seu corpo.
Especialistas julgam que o primeiro caso da síndrome de Cotard aqui no Brasil pode estar ocorrendo com a famosa atriz Suzana Vieira. Crente de que já morreu e que não tem satisfação alguma a dar ao mundo dos vivos ela deve ter a impressão de que sua carne está apodrecendo ( ver fotografias recentes). Daí o seu esforço em enganar a si própria, cometendo cada vez mais bizarrices, como a de rebolar seus oitenta anos, de forma grotesca, no carnaval. Uma razão adicional para acreditar que ela sofre mesmo da síndrome de Cottard é a de que ela realmente sente os vermes passearem sobre o seu corpo. Recorde-se de que, para os moralistas, um gigolô não passa de um verme.

5. Síndrome da redução Genital – Também conhecida como Koro, esse distúrbio mental deixa a pessoa convencida de que seus genitais estão desaparecendo. Em Cingapura, 1967, o serviço local registrou centenas de casos de homens que acreditavam que o seu pênis estava sumindo. No Brasil, um caso foi registrado no Instituto de Psiquiatria da USP, quando o doente, tentou se matar com duas facadas.
Como são as coisas! Na Cingapura centenas de casos ocorreram, mas ninguém chegou a ponto de tentar contra a própria vida. No Brasil, bastou acontecer uma primeira vez para que alguém tentasse se matar. Parece bastante razoável, portanto, que, num surto de previdência, um deputado tenha solicitado um projeto de lei autorizando a distribuição gratuita de viagras para a população. Dessa forma, estaria plenamente justificada a criação de mais uma bolsa: desta vez, o Bolsa-Aparece.

6. Síndrome de Capgras – Após sofrer uma desilusão com alguém próximo a pessoa passa a acreditar que eles foram seqüestrados e substituídos por impostores. O sintoma evolui até o ponto da vítima acreditar que ela também se tornou um farsante.
Um episódio recente, de repercussão internacional, corrobora a suspeita de que a síndrome de Capgras, infelizmente, chegou ao Brasil.
Quando Lula, um ex-sindicalista e grevista, e que já fez greve de fome, se pronunciou abertamente contra aquele que se suicidou através dela em Cuba, chamando-o de bandido, a favor de Fidel Castro, pairou a sensação de que de Lula , o ex-sindicalista, foi seqüestrado e que deve existir agora alguém muito parecido em seu lugar.
E pior, quando aceitamos tudo isso: acreditamos em Dunga e na transposição do Rio São Francisco; e suportamos Ivete Sangalo, Arnaldo Jabor e o Big-Brother, não resta a menor dúvida. Nós brasileiros, vítimas de uma gigantesca epidemia, também acreditamos que somos farsantes. Não passamos de réplicas. Nosso problema maior – Deus nos salve! - não é a gripe A, mas a síndrome de Capgras.

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