sábado, 27 de março de 2010

DE EX-LEILAS A EX-TESSÁLIAS

Texto publicado em O Estado do Maranhão,
hoje, sábado, seção Hoje é dia de...



DE EX-LEILAS A EX-TESSÁLIAS


José Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com




Estava outro dia em frente a uma banca de revistas, especialista em revistas novas e usadas quando deparei com duas Playboy, próximas, que apresentavam na capa, em uma delas a foto de Leila Lopes e no outro a de Tessália Serighelli. A de Tessália, ex BBB, é a ultima edição da revista e a outra, de 97, ainda em bom estado. Curiosamente, nas duas, a foto de capa não tinha apelo erótico, mas apresentava apenas o rosto das duas mulheres.
A revista mais antiga, com Leila Lopes, exibia o retrato de uma mulher bonita, mais para o lado cândido – na época ela criou fama como professorinha, na novela O rei do Gado. Talvez estivesse aí a fonte de insinuação erótica: a sensual fêmea escondida por trás da aparente ingenuidade da professora, a ser investigada nas páginas internas, um prato para preencher as fantasias masculinas. No ensaio, ela faz força para executar muito bem o seu papel de prostituta.
( Prostituta? Talvez os leitores considerem esse termo muito forte, afinal de contas, posar nua não é suficiente para caracterizar uma prostituta. Ou não? Recorrendo ao dicionário Larousse vemos que prostituta é aquela que se prostitui, sendo prostituir o ato de fazer algo conflitante com os próprios valores, por dinheiro; degradar-se ou aviltar-se. Portanto, o cronista está correto, mas esse não foi o motivo de ter escolhido propositadamente o termo, mas sim, o de aproveitar o ensejo para extrair daí uma verdade: estamos numa sociedade onde o que choca não é a atitude, mas a palavra ou a circunstância em que se fala. ) Voltando ao ensaio, ele é bonito, mas nada extravasa em termos de luxúria: Leila não tem o apelo erótico de uma Juliana Paz, por exemplo. Decididamente, estava mais para professorinha do que para vulcão sexual. Estou falando dela no passado, porque... Será que alguém se lembra dela? No fim do ano passado, morreu. Suicidou-se.
Já Tessália, que agora povoa o batalhão das celebridades sexy, ao exibir também sua nudez por dinheiro, tem em comum com a outra uma aparência doce. Seu ensaio resulta no que os especialistas chamariam de competente, porém, pouco sedutor. Assim como a primeira, Tessália apenas tenta cumprir o seu papel de subir na vida às custas de sua razoável beleza. Para isso tem um blog na Internet, para isso se candidatou ao BBB e se imbecilizou em companhia de gente estranha e estúpida, para isso rolou pelas camas com os machos, para isso se sujeitou a ouvir insinuações de um picareta chamado Pedro Bial. “Jogo da vida”, ela diria, o que, para ela, é suficiente para cumprir a sina que povoa o imaginário da maioria: Ser bonita, cavoucar celebridades pela Internet, cair num reality-show, posar nua, faturar uma grana, virar ex-BBB para o resto da vida e...
Não, não sejamos mórbidos ao imaginar que Tessália possa ter, um dia, o mesmo destino da outra. Suicidar-se um dia? Como e por quê? Para quê? Por que uma mulher bonita tentaria contra a própria vida? Não, decididamente Tessália não tem motivos, posou para a Playboy, vai virar Ex BBB, aconteça o que acontecer, pelo menos, terá a felicidade medíocre, de tantas.
E, no entanto, pelos mesmos motivos, quem pensaria, na época, que Leila Lopes se mataria? Que fã conceberia que ela um dia faria isso, aos quarenta e um anos, ainda bonita. Quem poderia explicar sua atitude? Lembro de alguns detalhes da carta que escreveu, antes de sua morte, e que li, numa revista: falava em Deus, dizia que não se suicidaria por necessidade financeira, mas por cansaço. Estava simplesmente cansada da vida e agora queria Deus. Apenas isso.
Não explicou, porém, porque razão precisaria morrer para chegar ao deus que, agora, ansiava. Entre uma das razões aventadas pelos amigos mais próximos para explicar sua atitude uma delas é a de ter feito, pouco antes de sua morte, um filme pornô. Depois disso, alijada do cenário artístico global, passou a sofrer uma condenação moral implícita no ambiente onde ainda queria sobreviver, o que a fragilizou definitivamente.
Donde se conclui que o mesmo meio que estimula o sexo
desenfreado em suas novelas, que mostra cenas de sexo em público nos seus reality shows, que exibe piadas obscenas para crianças, e que (ao mesmo tempo em que condena) insinua a pedofilia através de gestos e danças eróticas de crianças; esse mesmo ambiente repudia aqueles que assumem abertamente a “coragem” de se prostituir. Ou seja, estimular a prostituição e incentivar a pedofilia e outras aberrações sexuais é permitido, mas ter a coragem de assumi-las é condenável. Tal hipocrisia é do mesmo teor do comportamento da sociedade que, no passado, fechava as casas de prostituição que se intitulassem rendez-vous, admitindo as que passaram a se intitular motéis, que proliferaram do mesmo jeito.
Resta desejar que Tessália, a nova iniciante, a bem de nunca se suicidar, conviva naturalmente com as possibilidades do meio que escolheu, e que aprenda cada vez mais a ser hipócrita. Que não assuma jamais diante da própria filha que foi prostituta num programa de baixo nível, e que entenda definitivamente que o meio televisivo, que escolheu para subir na vida, é uma religião que não admite verdades. Assim como a Rede Globo sequer fez menção à sua ex-artista quando morreu, homenageando-a ou tendo uma breve compaixão pelo seu destino, que Tessália continue a ter vergonha também da realidade e conviva naturalmente e para sempre, (como tanta gente faz e gosta) sob a divindade da ilusão e da hipocrisia.



DE EX-LEILAS A EX-TESSÁLIAS


José Ewerton Neto, membro da AML

ewerton.neto@hotmail.com




Estava outro dia em frente a uma banca de revistas, especialista em revistas novas e usadas quando deparei com duas Playboy, próximas, que apresentavam na capa, em uma delas a foto de Leila Lopes e no outro a de Tessália Serighelli. A de Tessália, ex BBB, é a ultima edição da revista e a outra, de 97, ainda em bom estado. Curiosamente, nas duas, a foto de capa não tinha apelo erótico, mas apresentava apenas o rosto das duas mulheres.
A revista mais antiga, com Leila Lopes, exibia o retrato de uma mulher bonita, mais para o lado cândido – na época ela criou fama como professorinha, na novela O rei do Gado. Talvez estivesse aí a fonte de insinuação erótica: a sensual fêmea escondida por trás da aparente ingenuidade da professora, a ser investigada nas páginas internas, um prato para preencher as fantasias masculinas. No ensaio, ela faz força para executar muito bem o seu papel de prostituta.
( Prostituta? Talvez os leitores considerem esse termo muito forte, afinal de contas, posar nua não é suficiente para caracterizar uma prostituta. Ou não? Recorrendo ao dicionário Larousse vemos que prostituta é aquela que se prostitui, sendo prostituir o ato de fazer algo conflitante com os próprios valores, por dinheiro; degradar-se ou aviltar-se. Portanto, o cronista está correto, mas esse não foi o motivo de ter escolhido propositadamente o termo, mas sim, o de aproveitar o ensejo para extrair daí uma verdade: estamos numa sociedade onde o que choca não é a atitude, mas a palavra ou a circunstância em que se fala. ) Voltando ao ensaio, ele é bonito, mas nada extravasa em termos de luxúria: Leila não tem o apelo erótico de uma Juliana Paz, por exemplo. Decididamente, estava mais para professorinha do que para vulcão sexual. Estou falando dela no passado, porque... Será que alguém se lembra dela? No fim do ano passado, morreu. Suicidou-se.
Já Tessália, que agora povoa o batalhão das celebridades sexy, ao exibir também sua nudez por dinheiro, tem em comum com a outra uma aparência doce. Seu ensaio resulta no que os especialistas chamariam de competente, porém, pouco sedutor. Assim como a primeira, Tessália apenas tenta cumprir o seu papel de subir na vida às custas de sua razoável beleza. Para isso tem um blog na Internet, para isso se candidatou ao BBB e se imbecilizou em companhia de gente estranha e estúpida, para isso rolou pelas camas com os machos, para isso se sujeitou a ouvir insinuações de um picareta chamado Pedro Bial. “Jogo da vida”, ela diria, o que, para ela, é suficiente para cumprir a sina que povoa o imaginário da maioria: Ser bonita, cavoucar celebridades pela Internet, cair num reality-show, posar nua, faturar uma grana, virar ex-BBB para o resto da vida e...
Não, não sejamos mórbidos ao imaginar que Tessália possa ter, um dia, o mesmo destino da outra. Suicidar-se um dia? Como e por quê? Para quê? Por que uma mulher bonita tentaria contra a própria vida? Não, decididamente Tessália não tem motivos, posou para a Playboy, vai virar Ex BBB, aconteça o que acontecer, pelo menos, terá a felicidade medíocre, de tantas.
E, no entanto, pelos mesmos motivos, quem pensaria, na época, que Leila Lopes se mataria? Que fã conceberia que ela um dia faria isso, aos quarenta e um anos, ainda bonita. Quem poderia explicar sua atitude? Lembro de alguns detalhes da carta que escreveu, antes de sua morte, e que li, numa revista: falava em Deus, dizia que não se suicidaria por necessidade financeira, mas por cansaço. Estava simplesmente cansada da vida e agora queria Deus. Apenas isso.
Não explicou, porém, porque razão precisaria morrer para chegar ao deus que, agora, ansiava. Entre uma das razões aventadas pelos amigos mais próximos para explicar sua atitude uma delas é a de ter feito, pouco antes de sua morte, um filme pornô. Depois disso, alijada do cenário artístico global, passou a sofrer uma condenação moral implícita no ambiente onde ainda queria sobreviver, o que a fragilizou definitivamente.
Donde se conclui que o mesmo meio que estimula o sexo desenfreado em suas novelas, que mostra cenas de sexo em público nos seus reality shows, que exibe piadas obscenas para crianças, e que (ao mesmo tempo em que condena) insinua a pedofilia através de gestos e danças eróticas de crianças; esse mesmo ambiente repudia aqueles que assumem abertamente a “coragem” de se prostituir. Ou seja, estimular a prostituição e incentivar a pedofilia e outras aberrações sexuais é permitido, mas ter a coragem de assumi-las é condenável. Tal hipocrisia é do mesmo teor do comportamento da sociedade que, no passado, fechava as casas de prostituição que se intitulassem rendez-vous, admitindo as que passaram a se intitular motéis, que proliferaram do mesmo jeito.
Resta desejar que Tessália, a nova iniciante, a bem de nunca se suicidar, conviva naturalmente com as possibilidades do meio que escolheu, e que aprenda cada vez mais a ser hipócrita. Que não assuma jamais diante da própria filha que foi prostituta num programa de baixo nível, e que entenda definitivamente que o meio televisivo, que escolheu para subir na vida, é uma religião que não admite verdades. Assim como a Rede Globo sequer fez menção à sua ex-artista quando morreu, homenageando-a ou tendo uma breve compaixão pelo seu destino, que Tessália continue a ter vergonha também da realidade e conviva naturalmente e para sempre, (como tanta gente faz e gosta) sob a divindade da ilusão e da hipocrisia.



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