sábado, 13 de agosto de 2011

O PAI, O FILHO E O PRESENTE

artigo publicado hoje, sábado, no jornal
O estado do Maranhão, caderno Alternativo, seção
Hoje é dia de...


Nesta época, indefectivelmente,  aparecem na imprensa as mesmas manjadas listas de sugestões de presentes para os pais compostas de gravatas, computadores, camisas de time, etc. Haja criatividade para sair da rotina!
                   Esquecem que um bom presente depende fundamentalmente do pai em questão. Ora, embora tenham algumas características levemente semelhantes, como sexo, careca e barriga de cerveja, na verdade,  um pai nunca é igual ao outro, embora todos tenham uma notável identidade quando se trata de xingar  o motorista vizinho, no trânsito.
                   Para simplificar a questão e ajudar na escolha, poderíamos dividir o pai em três tipos.
                   O pai antigo (ou melhor, às antigas)   é aquele que ama tanto os filhos que não hesita em tê-los cada vez mais, de preferência com várias mães. Esquece da maioria deles com freqüência de forma que, lembra-lo disso, mesmo que seja  com um presente, não é exatamente aquilo que ele gostaria de receber. O pai moderno, por sua vez, gosta tanto de filhos que seu maior sonho é tornar-se um deles, fumando a mesma maconha, dançando o mesmo forró e batendo o mesmo carro.  Daí que não convêm, justamente nesse dia, xingá-lo de pai, sendo preferível, convida-lo para tomar umas e outras  chamando-o daquilo que ele já está acostumado: mano, cara, ou doidão.  
                   Já o pai ultra  moderno é aquele plenamente consciente do seu papel de mãe e dona-de-casa. Dotado de uma dose exagerada de amor paterno é capaz de fazer tudo pelos filhos, de preferência se estes não forem seus.
                   Suas possíveis reações.

                   1. Livros. Pode ficar certo de que o pai às antigas, pelo menos, fingirá que gosta. Você jamais o verá lendo uma única página do dito cujo,  seja de Paulo Coelho ou de Hemingway, mas, ele, certamente, ficará envaidecido com a lembrança. Gostaria de poder dizer-lhe,  na lata,  que teria preferido uma revista Playboy com a Malu Mader (que ele nunca conseguiu encontrar) mas tem plena consciência de que o entendimento perfeito entre pai e filho fica implícito na enorme lista de devedês pornôs compartilhados, de Gretchen a Rita Cadilaque.    
                   O pai moderno, mais pragmático,  lhe chamará de idiota se você cair na besteira de lhe trazer um  Chico Buarque ( com razão, aliás) . E berrará, para todo mundo ouvir,  que o único livro que leu - e gostou, foi o de Bruna Surfistinha. Claro que isso estará longe de abalar a formidável relação que vocês têm, já que chamar o outro de idiota é o tratamento preferido entre ambos.
                   Quanto ao pai ultra-moderno talvez preferisse O Diário de um banana, pensando que é sua autobiografia.

                   2. Musicais. Para agradar musicalmente um pai às antigas, um Nelson Gonçalves ou um Altemar Dutra serão muito bem recebidos. Mas você fará melhor se o convidar para inaugurá-los na Zona, em companhia de algumas “amigas”. O pai moderno, por sua vez,  ficará sensível à um Rolling Stone, ou a um Beatles mas, desconfiado de uma  potencial indireta,  correrá para o espelho a fim de checar se não sumiram definitivamente seus cinco e meio últimos fios de cabelo,  que preserva com precioso carinho há quinze anos.
                   Quanto ao ultra-moderno nem caia na besteira de lhe trazer uma Amy Whinehouse . Julgando-se o homem mais antenado da face da terra, portanto o mais alegre e otimista, considera  Amy muito triste e só vibra  de alegria quando ouve Ivete Sangalo ou Shakira. Pensando bem, é bom deixar esse negócio de musica de lado e dar-lhe um abadá do Marafolia. Seus olhos brilharão de alegria.   

                   3. Restaurante. Jamais gaste seu dinheiro oferecendo um almoço numa churrascaria para um pai às antigas. Ele não gosta de celebrações em família, justamente por não saber, exatamente, qual é a sua. Um pai moderno poderá gostar disso, em parte, desde que a sobremesa seja boa, entendendo-se como isso uma boa rodada de cocaína.  Quanto ao pai ultra-moderno, ele será capaz de aceitar  o convite com uma condição: desde que esteja presente o melhor amigo da família: o Souza. Que é colega de trabalho de sua querida esposa e que, por coincidência, desconfia que seja o verdadeiro pai do seu filho.  

                   Bem, embora esses tipos representem as espécies  fundamentais e mais corriqueiras de pai, entre elas ainda existe uma minoria de tipos: discretos, reservados, silenciosos  e que não fazem questão  de solenidades, confraternizações, e muito menos de alardear o amor de pai.   Para estes, quem sabe,  o filho  seja  o melhor presente?

                                                                  ewerton.neto@hotmail.com

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