terça-feira, 9 de agosto de 2011

SANLUIZENSES

artigo publicado no jornal O estado do Maranhão, seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, sábado passado


Rumo aos quatrocentos anos, a bordo da estação Sanluizana, algumas reflexões vadias, mas nem tanto.  

                   1. Pronto! Acabaram de descobrir a solução para os buracos de rua, o trânsito congestionado e os semáforos que não funcionam: mais dez vereadores para a câmara municipal. Segundo informações, a custo, em breve,  de um milhão e meio de reais. Portanto, em matéria de idéias para resolver os problemas estruturais e crônicos de uma população tão carente, nada como as soluções geniais dos legisladores maranhenses. No âmbito estadual quando a coisa está ruim, criam-se municípios. Na capital, quando a coisa está pior, criam-se vereadores.

                   2. Deu na imprensa que a atual secretária do IPHAM está alertando sobre o iminente risco, para São Luis, de perda do título  de Patrimônio Cultural da Humanidade, caso não sejam feitas reformas urgentes no patrimônio arquitetônico da cidade. (Imagine se essa comissão de analistas soubesse que  os escritores da cidade têm de entrar na justiça para receber os prêmios que lhes são concedidos pelos órgãos oficiais da cidade, por ocasião dos concursos literários! E que seus advogados ainda têm a coragem de recorrer,  quando os juizes dão ganho de causa aos artistas em primeira instância.)  

                   3. E a ilha de São Luis, ao invés de apenas água, agora está cercada de pirataria por todos os lados. Segundo as manchetes dos jornais  40% da frota de táxis circulando na capital é pirata.  Outro dia, parei meu carro no centro e quase tomei um susto quando pessoas que eu nunca tinha visto mais gordas desejavam entrar no meu carro. Demorei a perceber que não se tratava de uma invasão de sem-terra, ou, melhor, de sem-carros,  mas de pessoas disputando uma condução , simplesmente achando, por hábito, que todo carro que parasse naquele local era um táxi-pirata. Expliquei-lhes que por enquanto não, mas ia começar a pensar seriamente na hipótese se as coisas piorarem. (Parece que, por aqui, para ganhar mais uns trocadinhos bastam um carro velho, gasolina e cara-de-pau.)   

                   4. E a excelente idéia de fazer da recuperação do antigo prédio do  edifício BEM o início da revitalização do centro da cidade, parou no décimo andar . Parou por quê? Por que parou?
                   No rumo contrário das decisões burocráticas oficiais que tomaram a triste decisão de fugiram do centro, foi muito reconfortante saber, na ocasião,  que o governo da capital optara pelo caminho acima, consciente de que essa debandada causava um grande mal à cidade. Só que o outrora majestoso edifício agora permanece parado no ar, escorado no passado como um pássaro ferido que tenta se levantar e não consegue. E pior, sem os belos murais de Antonio Almeida. Quer dizer então que o sacrifício da arte do saudoso e genial Antonio Almeida foi em vão?

                   5. Nada mais provinciana que a obsessão da “gente bonita” da capital (como dizem os colunistas) com a divulgação de suas viagens ao exterior. Esquecidos de que, com o fortalecimento do real, a globalização, e o cosmopolitismo das empresas, todo mundo hoje viaja para o exterior assim que lhe dá na telha ou quando sua empresa manda, os “bonitinhos” assim que põem o pé fora do Brasil, tratam logo de enviar para a imprensa fotos e textos, narrando suas aventuras pelo exterior como se fossem  desbravadores tardios e tivessem estado, ao invés de nas ruas de Paris ou Nova Iorque,  dentro de um foguete interplanetário, passeando em outro planeta. .
                   Tão jeca quanto essa é  a mania sanluizense, muito difundida  na imprensa, de - quando se pretende alguma melhoria na cidade - pleiteá-la em nome do turismo ou do turista. Ora, não é o cidadão sanluizense menor que o turista, nem deveria ser menos merecedor da atenção das autoridades por ter nascido aqui. O ambiente em que vive  (aeroporto, rodoviária, praias etc) deve ser melhorado, principalmente por causa dele, por seus direitos fundamentais como cidadão e não apenas por causa de quem chega aqui uma vez e vai embora.  Ou será que, por  ter sido tão maltratado ao longo dos anos, o conceito pessoal do cidadão sanluizense se degradou,  a ponto de se considerar em vão solicitar melhorias em seu nome?

                                                                  ewerton.neto@hotmail.com

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