sábado, 14 de janeiro de 2012

AS CINCO MARAVILHAS DE SÃO LUIS












Mas, não eram sete? Sei disso, caro leitor e sou capaz de enumerá-las a partir de uma votação que contou com a participação de seis mil pessoas em todo o Brasil: a Rua Portugal, o Convento das Mercês, a Igreja da Sé, o teatro Artur Azevedo, o Palácio dos Leões, a Praça Gonçalves Dias e a Azulejaria.
                        Acontece que existe mais, muito mais:

‘                      1. O Espigão-Matador. Quem já visitou sabe que o espetáculo é paradisíaco, quando começa o pôr-do-sol. Recomendam-se, no entanto, alguns cuidados para que se possa usufruir de tanta beleza. Em primeiro lugar que se levante bem o pescoço, porque a Ponta dÀreia , que já foi uma praia, é tão cercada de prédios por todos os lados que nem sempre se distingue o sol. Em segundo lugar que, após espiar o crepúsculo, deve-se, por precaução, sair correndo. Não do pôr-do-sol, claro, que não está nem aí para admiradores, mas do próprio espigão que costuma se irritar  com a quantidade de gente que transita por cima dele, tanto é assim que já matou dois.
                        Com métodos imprevisíveis de ataque que tanto pode ser uma pedra gigante rolando pela ribanceira, como um escorregão no fundo do mar, lembremos que, propositadamente, as autoridades não pensam em colocar proteção alguma o que  torna o espigão-matador, para sempre, um dos mais emocionantes espetáculos da cidade.

2. O Mercado Central. No passado já foi chamado de Mercado Grande mas, na verdade, não chega a tanto, eis que as frutas e verduras, por falta de espaço, se espalham pelas calçadas, cisternas e - com notável freqüência -, nos sapatos e bolsos de quem por lá circula. Compondo uma magnífica manifestação de diversidade   racial socializada já que o açaí escuro reside com o arroz branco no mesmo depósito de legumes, o Mercado Central de São Luis é o testemunho universal de que a limpeza pública não é essencial para a convivência pacífica entre ratos, tomates e beringelas. Razão porque goza da preferência  e admiração dos turistas que por lá passeiam – e sempre voltam - encantados com a proliferação dos produtos típicos da região, entre eles, periguetes, gigolôs, guardadores de carros e,  se você der sopa, de seu dinheiro. Encante-se!


3. O Enterro do Bacanga. Obra-prima do planejamento e da engenharia maranhense, o Enterro (Aterro?) do Bacanga com seu interminável avanço de terra e barro pelo mar adentro, deve ter sido concebido como uma obra de arte capaz de dar inveja às pirâmides do Egito, no deserto.  Onde havia barcos, fez-se barro, onde havia barcos, fez-se o Forró do Arlindo. Ao invés da previsão nordestina que dizia  “O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão”por aqui deu-se que o mar virou deserto e o deserto virou sertão, se lembrarmos das noites musicais enluaradas que se prolongam pelas madrugadas, sob o som eclético de reggae, forró e brega, ou de todos ao mesmo tempo. Enfim, um  espetáculo de harmonia perfeita entre paisagem e som de altíssima qualidade.jamais visto em qualquer outro lugar do mundo . Vez por outra, alguém morre, gemendo sob a ação de uma peixeira. É um fundo musical perfeito! 

4.  O Edifício Bem-Mal. Imponente, majestoso, o edifício do antigo Banco do Estado do Maranhão, também chamado edifício BEM, já não está tão bem assim. Mas continua destacando-se aos olhos dos turistas pelo seu simbolismo já que o principal “charme” arquitetônico desse edifício é a eterna indecisão que se transmite às suas vigas de concreto, comovendo quem o observa. De que se trata? Para onde vai? O que vão fazer com ele? Está querendo subir ou descer? Se alargar ou sumir?
Conscientes de que justamente essa é  a sua principal atração as autoridades pretendem, pelo visto, deixa-lo eternamente assim, fazendo do prédio uma espécie de Torre de Pisa.  Provavelmente, pretendem que no próximo aniversário secular da cidade, ele lá esteja, do mesmo jeito, soberbamente indeciso, mostrando para o resto do mundo como se cria e se conserva um monumento  turístico.

5. A Praia da Pontinha de Areia. São Luis  já possuía a Praia Grande, a primeira praia do mundo que não é praia. Hoje, por obra e graça da especulação imobiliária desenfreada sob a complacência  das autoridades, criou-se uma atração turística singularíssima: a quase praia. Melhor dizendo, a Pontinha de Areia, aquela que já foi uma praia e hoje se resume a um pequeno amontoado de grãos de areia, cercado de prédios horrorosos por todos os lados, inclusive na própria região de praia. 
Como o povo desta cidade é masoquista e deve ter assistido com prazer ao assassinato da sua ex-praia preferida, resta aos turistas (sempre tão privilegiados e decantados pelos órgãos  oficiais ) ficarem encantados com esse privilégio  inusitado e singular: terem uma praizinha particular no quintal de seus apartamentos de férias, onde podem depositar também, tranquilamente, o escoamento de seus dejetos. 
                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com

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