jornal O estado do Maranhão, hoje, sábado
1. Inicio esta crônica com uma frase de Pedro Bial, o apresentador da Globo que desistiu de ser um razoável repórter para ser o bobo-da-corte do programa mais execrável da tevê brasileira: o BBBrasil .Ele mesmo confirmou isso quando disse: “ Eu não assisto porque não gosto de me ver. Mas para domar o formato tive de me despir da condição de jornalista para ser um Zé Mane, junto com os outros.” Ora, se Pedro Bial teve que se tornar um Zé Mané para participar do programa , os Zé Manés que assistem a tal programa passaram a ser o quê?”
Que bom se fosse apenas estúpidos, idiotas, imbecis ou tudo que vem logo abaixo de Zé Mané ( com o perdão do genial Mané Garrincha que não merecia ter seu nome de craque enlameado por alcunha tão depreciativa). O buraco é mais embaixo, pois semana passada um Zé Mané do programa estuprou outra Zé Mané, em plena seqüência do show, segundo consta após uma balada patrocinada pela Casa. Pensando bem, o termo Zé Mané chega a ser até inofensivo diante da realidade dos fatos, eis que, no caso, esconde impulsos sexuais animalescos incapazes de serem reprimidos racionalmente - e que são tratados pela emissora de tevê e pelos que os assistem como se fosse um espetáculo tão lúdico quanto uma festinha de aniversário de crianças. Portanto, ao invés de serem simplesmente Zé Manés, os participantes do programa e os que se deliciam com isso , não passam de potenciais estupradores.
Sim, porque tão estuprador quanto o executante é aquele que sente prazer com isso. Estupro, a rigor, não se refere apenas ao coito arrancado sem o consentimento da vítima como também à corrupção do conceito da dignidade humana, do nível cultural e da ética nas relações com o público. Como já disse alguém “ Nada existe de mais sórdido na aventura do ser humano sobre a Terra que o espetáculo ao vivo da degradação de sua individualidade (o que alguém pode possuir de mais puro ) em troca de um punhado de dinheiro.”
Ao fim, de quem é a culpa pela exibição de estupradores exibicionistas ao vivo? Mais gente do que se pensa - inclusive aqueles em quem votamos e que nos representam -, mas a direção da tevê pode sempre alegar que está entregando um programa ao nível dos idiotas que o assistem. Pois o que pode pretender de melhor um Zé Mané do que ter a pureza de suas crianças estupradas diante de uma câmera de tevê?
Caro escritor Ewerton
Parabéns pela sua crônica de hoje [sábado passado], a não desmerecer daquelas do nosso grande poeta José Chagas, a quem você substitui no jornal. Faltou apenas, para o meu gosto, falar um pouco mais da maravilha - escolhida entre as seis da nossa capital - que é hoje a praça do nosso poeta imortal, que usou de uma celebrada licença poética para cantar os sabiás que, como sabemos, não cantam nas palmeiras. Essa praça. e você deve saber disso, já que é também um andarilho contumaz da nossa velha cidade, está dominada hoje pelos depedradores do seu patrimônio há não muito recuperado e sem que as autoridades não tomem nenhuma providência para coibir esse hediondo crime contra os nossos foros de capital cultural. Será mesmo? Eles arrebentam tudo com os seus patinetes ( é esse o nome?), afrontando ou mesmo insultando, quando lhes fiz ver que aquilo não era o local para esse "divertimento” entre aspas, o velho poeta que lá estava passeando com as duas netas antes de ir à missa das seis na Igreja dos Remédios.
E quanto às outras "maravilhas", algumas delas abandonadas totalmente pelo poder público? Você deve lembrar-se do que quiseram fazer com o Convento das Mercês, não? Eu o conheci em ruínas, quando lá passava pelas madrugadas em companhia do poeta José Maria. Hoje é um dos mais belos e válidos patrimônios do nosso patrimônio, e que, há não muito, pretenderam destruir por obra e graça daquela inveja que parece ser o traço maior de parte dos nossos políticos, entregues à incúria e ao descaso dos que deveriam amá-la, mostrando esse amor em obras e fatos. O Cine Praia Grande resiste galhardamente, apresentando o que de melhor é realizado no cinema mundial. Espero que não muito breve, algum amigo meu, embora por mim desconhecido, arranque o meu depedrado busto da praça que injustamente leva o meu nome, atirando-o despedaçado do alto da amurada da Beira-Mar. Um abraço com respeito e admiração do seu
Nauro Machado
Nauro Machado
ewerton.neto@hotmail.com
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