artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo
jornal O estado do Maranhão, hoje, sábado
A
bordo do quarto centenário e relembrando as lendas de São Luis, ao arroz de cuxá e com uma pitadinha de
humor.
Lenda do Palácio das Lágrimas
O Palácio das Lágrimas fica
entre as ruas do Sol e a Rua da Paz. Mais precisamente na rua São João, esquina com a Rua da Paz. Aparentemente,
num prédio situado entre a Paz e o Sol não haveria motivo para lágrimas. Nem mesmo por ter sido, durante algum tempo, Faculdade
de Odontologia, já que os futuros dentistas, apenas estudavam,
não arrancavam os dentes das crianças nesse
local.
A questão parece ter começado quando
dois irmãos portugueses para cá vieram “Fazer
a “América”, como se dizia. Como era de se esperar de dois portugas , estes entenderam
que fazer a Ame-rica implicava um
contrato em que cada um faria metade do nome América: um a parte Ame, outro a parte Rica. Um enriqueceu
bastante, já o outro ( com esse negócio de ame) empobreceu cada vez mais, até o
dia em que resolveu esquecer, de vez, contrato e conselho de mãe e passou à prática
tratando de matar o irmão.
Ora, o rico era amasiado
com uma escrava negra com quem tinha vários filhos, mas nenhum era legitimado
por lei. Isso facilitou as coisas para o assassino que, tomando conta da
fortuna, passou a tratar a ex-amásia e os sobrinhos como escravos.
Não deu certo. Tão logo
cresceu e soube da história o sobrinho mais velho jogou o tio homicida de cima
do sobrado. Foi condenado à forca e diante da morte iminente saiu-se com esta: “
Palácio que viste tantas lágrimas derramadas , ficarás para sempre com o nome
de Palácio das Lágrimas!”
A razão pela qual o
vingador resolveu amaldiçoar uma construção de alvenaria que nada tinha a ver
com a bestialidade dos que lá residiram
ninguém até hoje soube explicar. Aliás, ao que se saiba a única maldição que
pegou até hoje em São Luis
foi praga de sampaino contra o Moto Clube, que virou time de quinta categoria e
hoje apanha até do Sabiá - que nem sequer
é o de Gonçalves Dias. .
Lenda de João de Una.
João era um capitão de
navio que vivia com uma única mulher, o que era muito esquisito para um capitão,
nessa época, tanto é assim que era chamado João de Una, ou seja, de uma só. Não bebia, não ia pra farra, não
comia as piranhas de cada porto, só
queria saber de navegar.
Até que um dia não
voltou mais. Ninguém entendeu, mas todos disseram para consolar a esposa que de
uma coisa ela podia ficar certa: não era coisa de mulher. O mistério permanecia
cada vez mais crucial (ninguém tinha mais dúvidas do naufrágio em alto mar) até
que descobriram, um belo dia, o navio de
João da Una, ao longe, no meio do oceano. Assim, flutuando sobre as ondas, candidamente,
sem rumo e sem disposição alguma de querer voltar. Teria João de Una se
suicidado?.
Nem precisa dizer que todos os pescadores e marinheiros de
São Luis, saíram em seus navios, botes, barcos,
bóias, botos e tubarões, atrás de onde avistavam o navio, agora com estranhas
luzes, que acendiam e apagavam. Os que conseguiram chegar mais perto vislumbravam
João da Una, mas toda vez que se aproximavam de sua imagem, este dava um jeito
de sumir, estranhamente. Tantas e tantas foram as investidas que todos chegaram
à uma única conclusão: João havia sido seduzido por uma divindade marítima e
cada vez que uma das luzes acendia era mais um filho que sua adorada feiticeira dava à luz.
Mistério e lenda
comprovados só restava dar a notícia à
sua ex-esposa que, afinal de contas, não tinha porque ficar se martirizando
eternamente. Afinal de contas, ele não a abandonara por causa de outra, mas fora enfeitiçado por uma divindade
marítima
A conversa não colou. Divindade
ou não havia uma fêmea no meio, o que a levou a bradar, prestes a morrer:
“Ora, se era para ser
traída por uma zinha qualquer não
precisava pegar uma piranha de navio, bastava ir na Rua 28. Ele é um safado
mesmo, e nunca foi João de Uma porra nenhuma, mas de várias. Vai gostar de piranha
assim, no meio do oceano!”
joseewertonneto@blogspot.com
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