sábado, 21 de abril de 2012

O SANTOS F.C. ( DOS SANTOS CENTENÁRIOS E CAMPEÕES)



artigo publicado hoje, sábado, na sessão Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal O estado do Maranhão


Imagine um time de futebol pelo qual não torcemos, mas admiramos. Mas que, ao fim, vamos acabar torcendo porque admiramos cada vez mais. Um time cujos jogadores joguem um futebol tão espetacular que o torne maior do que as paixões regionais ou clubísticas.
                        Que não se apressem os leitores em imaginar que poderíamos estar falando do Barcelona atual, de Messi, Xavi, Iniesta etc. Bote mais excelência nisso e estamos tratando  do Santos F.C., esse time de futebol que acaba de comemorar cem anos de existência e que teve um dia em suas fileiras um garoto de dezesseis anos chamado Edson Arantes do Nascimento (êpa, Pelé!) a comandá-lo nessa aventura incomparável, de evoluir  de time pequeno, do interior e sem torcida, para transformar-se, em poucos anos, no melhor time do mundo, durante toda uma década.    
                        Não pensem, porém, que o Santos foi o melhor porque ganhava títulos quando, ao invés, ganhava títulos porque era o melhor. (Uma coisa nem sempre tem a ver com a outra e como faz diferença!). As estatísticas da imprensa, que mostram resultados de ocasião para tentar equivaler, por exemplo, o São Paulo F.C. de três títulos mundiais, ao Santos de Pelé, Coutinho, Pepe, etc. cometem uma atrocidade. O Santos só não ganhou mais títulos internacionais, como a Libertadores da América, porque, simplesmente, não quis. Abandonou a competição, e nisso foi seguido pelos demais times brasileiros, quando tentaram lhe impor jogos contra os desqualificados  Emelecs e Cobreloas da vida. (Na época, os ardilosos cartolas sul-americanos aumentaram o número de competidores da Taça, incluindo o vice-campeão, para que todos pudessem ver Pelé jogar de graça). Tanto não precisou disso que o Santos foi homenageado pela FIFA, em 2001 como o melhor time das Américas do século XX.
                        Livre para exibir a arte de Pelé e cia. onde houvesse espetáculo o Santos, dava-se ao luxo de suspender guerras, como aconteceu  entre duas nações africanas. Eis mais dois exemplos breves, para se ter uma idéia da magnitude de um time de soberana aceitação universal.
1.                 Após ter sido expulso durante um jogo, na Bolívia, Pelé foi intimado a voltar a campo pelo próprio juiz que lhe pedia alvoroçadas desculpas, já que se via na iminência de  fugir sob escolta policial, porque a torcida, revoltada, ameaçava invadir o estádio.   
2.           No interior paulista, depois de dar três lençóis seguidos em adversários distintos Pelé chutou a bola a gol e esta, caprichosamente, não entrou. O juiz validou o gol e quando os zagueiros correram para cima dele, este, candidamente  respondeu: “Pra mim foi gol e acabou.” Ninguém reclamou .





                        Lenda? Folclore? Parece que sim, mas a culpa não é da realidade, por não ter conseguido se impor, mas do sobrenatural por tê-la ultrapassado em existência. E da predestinação também, talvez.  Como explicar que a epopéia vitoriosa do time não tenha cessado de vez, após a “ressaca” da era Pelé, quando o time passou a comer o pão que o diabo amassou,  apanhando de todo mundo? Por um longo período esteve em vias de ser obscurecido pela sombra de antigo time pequeno, recrudescendo  com toda fúria.   
                                    Só mesmo essa predestinação explica porque o time praiano jamais adotou, mesmo nesses momentos mais sombrios, o futebol defensivo e de resultados, o futebol de brutamontes que,  egresso do Rio Grande do Sul, passou a fazer a cabeça de técnicos, comentaristas, jogadores e torcedores,  e se  espalhou feito praga por esse Brasil afora. E foi assim, devido a essa predestinação, que o time superou  o estio de vitórias e aos poucos renasceu: primeiro com  Pita e  Juari, depois Giovani, mais tarde Robinho e Diego e agora Neymar e Ganso. Que time brasileiro hoje pode se dar ao luxo de dispor em seu elenco de jogadores de talento tão excepcional, egressos da própria escolinha, que, no caso do Santos, parece guardar uma aliança entre o destino e o craque?
                        E o que mais for dito, a respeito dessa sina, pouco será acrescentado. Maior glória que ganhar campeonatos é não se render à apatia geral de talento que reina no futebol brasileiro, onde times submissos a técnicos cujo objetivo é ganhar a qualquer custo, encobrem a mediocridade de suas equipes sob o falso emblema de grupo de “garra”. Graças a Deus parece que isso jamais acontecerá com esse time. Está no DNA. 
                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com

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