Artigo publicado, hoje, sábado, na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal O estado do Maranhão
No futebol,
esse esporte tão fascinante quanto imprevisível, em que o campeão nem sempre é
o melhor (muita gente se esquece disso) o que é melhor: ser o campeão ou ser o
melhor?
O bom,
evidentemente, é ser, além de melhor, campeão. Isso, infelizmente, não é para todo mundo. Em termos internacionais
assim já foi o Santos de Pelé, o Barcelona, de Messi, a Seleção Brasileira de
58, 62, 70 e 98. Outros times ou seleções maravilhosas não conseguiram ser
campeões: a Hungria de Puskas em 54, a Holanda de Cruyff em 74, a seleção
brasileira de 82. Assim também grandes jogadores como Di Stefano, Zico, Platini
etc. jamais conseguiram ser campeões do mundo, mas jamais serão esquecidos,
muito pelo contrário. A história sempre se lembrará deles, bem mais até do que
daqueles que foram simplesmente campeões.
De algum
tempo para cá, desde quando se
implementou no futebol brasileiro a filosofia, hoje predominante, do
futebol de resultados somou-se a essa visão futebolística um apêndice que ganha
contornos cada vez mais epidêmicos: a exaltação da torcida como personagem. Na
prática, times de grande torcida, incapazes de formar times de craques passam a
ser fanatizados (com o suporte escancarado e oportunista da mídia –
principalmente da rede Globo) não pelo
que seus jogadores executam dentro de campo, mas pelo que acontece fora dele.
Assim, ao invés de um time ser idolatrado pelo seu plantel de craques, passa a
ser exaltado por causa de sua imensa
torcida e, com isso, degenera-se o que de
melhor deveria ser buscado no espetáculo
esportivo, em favor da relevância a aspectos comezinhos e peculiares ao
anti-futebol : a supervalorização da ‘raça’ de jogadores sem talento, o amor à
camisa (?), torcida com poderes para levantar o time ( como se isso fosse
possível ), paixão descomunal , etc. Ou seja , do bom futebol cada vez menos se
fala.
De repente, por
exemplo, a marcha atual do Coríntians, o time brasileiro de maior torcida no
Sul do país, em busca de um título mundial é propagada insistentemente pela
mídia como se estivéssemos diante das seleções brasileiras dos bons tempos, capazes de arrebatar pelo
entusiasmo uma nação inteira (igual cobertura televisiva, jamais foi concedida
à trajetória de outros times, como São Paulo, Inter, e, mais recentemente, o
Santos). Tal ‘exagero’ seria concebível se
permanecesse restrito ao interesse financeiro; imoral, mas compreensível se
pensarmos no quanto uma empresa que monopoliza o destino do futebol no Brasil,
como a rede Globo, investe nesses times para auferir a contrapartida do lucro.
O lastimável,
porém, para o futebol como esporte, é que isso implica, necessariamente, um
preconceito contra os times de menor torcida. Quando se propaga que “amar o
Coríntians é um gostar diferenciado”, além de se forjar um embuste, falta-se
com a verdade. É fácil raciocinar. Que paixão
de torcedor é maior, a daquele que,
Maria vai com as outras, prefere torcer por um time badalado e rico, ou a daquele que, contra tudo e
todos, torce, por um time pequeno,
sujeitando-se a se divertir ou sofrer com as potenciais agruras de um time que não tem espaço na imprensa e é
constantemente vilipendiado, em suas conquistas, pela arbitragem tendenciosa por
este Brasil afora? Quem torce mais pelo seu time, o torcedor do Coríntians ou o
da Portuguesa Desportos? Arrisco-me a dizer que, na pior hipótese ambos são
torcedores do mesmo quilate e deveriam
ser respeitados igualmente pela mídia, proporcionalmente às suas paixões
equivalentes.
(Antecipando-me
ao risco de que possa haver da parte do leitor uma interpretação equivocada do
que está sendo tratado, apresso-me a
enfatizar que o objetivo desta reflexão não é desprestigiar o amor de um torcedor pelo seu time de imensa torcida
– e, quiçá sua ‘obsessão’ em torno disso - mas a de ser um humilde alerta para que essa anomalia
não seja aproveitada como moeda de troca, por políticos e empresários oportunistas,
em desfavor dos próprios torcedores. Como todos sabem isso aconteceu no recente
episódio em que um estádio caríssimo foi doado pelo Estado ao Coríntians, às
custas do dinheiro do contribuinte sob a alegação de que assim se estaria se
satisfazendo a vontade popular. Quando
corrompe-se a verdade das relações torcida x time x sociedade com objetivos
escusos, nem mesmo os torcedores do próprio
time beneficiado saem ganhando. )
Lembrando mais uma vez que o que diferencia um time do
outro dentro de campo não é fato de dispor
de maior torcida, mas o que é capaz de mostrar
em cima do gramado, sobretudo em termos de qualidade futebolística , torçamos
para que neste fim de semana, finalmente, o Coríntians Paulista possa mostrar aos seus
torcedores e a todo Mundo , um futebol digno das glórias que fizeram a
admiração do futebol brasileiro. Como disse o jornalista Juca Kfoury – que, por
sinal, é corintiano – domingo sairá obrigatoriamente o campeão do mundo. Não necessariamente, o
melhor.
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