Artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal O Estado do Maranhão
“ O pior palavrão vira pó e palha. Diante de um canalha.”
Agora
é científico. Estudo afirma que falar palavrões, ajuda resistir à dor física.
Ou seja, um puta que o pariu!, um vá se f...!,ou um filho de uma égua!, ao invés de serem obscenidades são, nada mais
nada menos, que recursos postos pela evolução
à serviço do ser humano, para que este descarregue suas frustrações e
sofra menos, inclusive fisicamente.
Tal
estudo foi desenvolvido pela Escola de Psicologia da Universidade de Keele, na
Inglaterra e publicado pela revista especializada NeuroReport, ano passado concluindo
que não há nada como um bom palavrão para amenizar a dor .
Essa
notícia é deveras alvissareira, principalmente por aqui, onde recentemente foi noticiado
que nos hospitais falta remédio para socorrer os doentes. Fico imaginando um sujeito, morto de dor, chegando ao Socorrão e o médico
de plantão, já inteirado da nova
descoberta, receitando.
-
Se não tem remédio, enfermeira, mande ele
xingar .
-
Xingar o quê?
-
Ora, mande ele xingar qualquer coisa: Deus,
o mundo,
o juiz de futebol, o mais alto
que puder.
O
doente, claro, não se faz de rogado
-
Médico filho da puta! Enfermeira piranha! Hospital de merda!
O
doutor, impassível, a tudo fica
escutando, calmamente.
-
Doutor, ele não para de xingar! – diz a auxiliar.
-
Deixe-o à vontade. Quanto mais ele
xingar, melhor.
Finalmente,
o doente cansa. O médico, com ar vitorioso, pergunta para a enfermeira.
-
E agora, enfermeira, como está o nosso doente?
-
Ele diz que a dor aliviou.
-
Eu não disse? Chame o próximo.
2. Os médicos
terão de se especializar nisso cada vez mais. Aos poucos haverão de surgir os mais
talentosos, ou seja, aqueles capazes de receitar
o palavrão mais apropriado para cada tipo de dor. Ao invés de Novalgina: sacana
sem-vergonha!, ao invés de Buscopan: cadela
vagabunda!, ao invés de Atroveran: corno safado!. O médico dos hospitais públicos, principalmente,
terá de evoluir para ser um profissional
com alta dose de psicologia para
obter, sempre, a melhor resposta para o
sofrimento. Imagine a economia que o Ministério
de Saúde terá com isso! Imagine a
alegria dos corruptos com a sobra!
Um problema surgirá, no entanto. Como é fácil
constatar, os xingamentos, com o tempo, tendem a se tornar inócuos, ou seja,
com prazo de validade vencido. Quem
ainda se julga ofendido ao ser chamado de Sacana? Qual a mulher que reage
negativamente, como antes, ao ser chamada de puta? (Esta semana, a idolatrada Ivete Sangalo , proclamou, muito orgulhosa na
revista Playboy , que toda mulher tem que ser uma quenga). Qual
o mandatário que se ofende hoje ao ser
chamado de corrupto canalha se, pouco tempo depois, o próprio povo o reelege? O
problema com esse tipo de remédio é que, de repente, pode ser necessária uma alta dosagem. Novos xingamentos
precisariam ser inventados, mas, como?
3.Pensando
bem, acho que a solução poderá vir dos anti-palavrões. Mas o que seria um anti-palavrão? Justamente, o
que se convencionou se chamar – em tempos muito remotos - de virtudes. Deu para
entender? O que ofende mais alguém hoje em dia: ser chamado de cafageste ou de
humilde? De sacana ou de honesto? De corrupto ou de pobre? De santa ou de puta?
(Basta entrar nas redes sociais virtuais para constatar a multidão de meninas de treze anos, reclamando de bullyng nas escolas por terem sido chamadas, pejorativamente, de virgens). Ser um glorioso sacana, por sua
vez, é o auge da reputação que um homem
respeitado pode desejar : seja ele um caminhoneiro ou um freqüentador das
colunas sociais.
Enfim, bastaria atualizar a palavra ofensiva e xingar à vontade: o que interessa é que a
ofensa seja capaz de ofender alguém na medida certa. Para aliviar a própria dor.
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