sábado, 1 de dezembro de 2012

VÁ SE FODER!




Artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal O Estado do Maranhão



“ O pior palavrão vira pó e palha. Diante de um canalha.”

                Agora é científico. Estudo afirma que falar palavrões, ajuda resistir à dor física. Ou seja, um puta que o pariu!, um vá se f...!,ou um filho de uma égua!,  ao invés de serem obscenidades são, nada mais nada menos, que recursos postos pela evolução  à serviço do ser humano, para que este descarregue suas frustrações e sofra menos, inclusive fisicamente.
                Tal estudo foi desenvolvido pela Escola de Psicologia da Universidade de Keele, na Inglaterra e publicado pela revista especializada NeuroReport, ano passado concluindo que não há nada como um bom palavrão para amenizar a dor .
                Essa notícia é deveras alvissareira, principalmente por aqui, onde recentemente foi noticiado que nos hospitais falta remédio para socorrer os doentes.  Fico imaginando um sujeito,  morto de dor, chegando ao Socorrão e o médico de plantão,  já inteirado da nova descoberta, receitando.
                - Se não tem remédio, enfermeira, mande  ele xingar .
                - Xingar o quê?
                - Ora, mande  ele xingar qualquer coisa: Deus, o  mundo,  o juiz de futebol,  o mais alto que puder.
                O doente, claro, não se faz de rogado
                - Médico filho da puta! Enfermeira piranha! Hospital de merda!
                O  doutor,  impassível,  a tudo  fica escutando, calmamente.
                - Doutor, ele não para de xingar! – diz a auxiliar.
                - Deixe-o à vontade.  Quanto mais ele xingar, melhor.
                Finalmente, o doente cansa. O médico, com ar vitorioso, pergunta para a enfermeira. 
                - E agora, enfermeira, como está o nosso doente?
                - Ele diz que a dor aliviou.           
                - Eu não disse? Chame o próximo.


2. Os médicos terão de se especializar nisso cada vez mais. Aos poucos haverão de surgir  os  mais talentosos, ou seja,  aqueles capazes de receitar o palavrão mais apropriado para cada tipo de dor. Ao invés de Novalgina: sacana sem-vergonha!, ao invés de Buscopan:  cadela vagabunda!, ao invés de Atroveran: corno safado!.  O médico dos hospitais públicos, principalmente, terá de evoluir para ser um profissional  com  alta dose de psicologia para obter, sempre,  a melhor resposta para o sofrimento. Imagine a economia  que o Ministério de Saúde terá com isso! Imagine  a alegria dos corruptos com a sobra! 
 Um problema surgirá, no entanto. Como é fácil constatar, os xingamentos, com o tempo, tendem a se tornar inócuos, ou seja, com prazo de validade vencido.  Quem ainda se julga ofendido ao ser chamado de Sacana? Qual a mulher que reage negativamente, como antes, ao ser chamada de puta? (Esta semana, a idolatrada  Ivete Sangalo , proclamou, muito orgulhosa na revista Playboy  ,  que toda mulher tem que ser uma quenga). Qual o mandatário  que se ofende hoje ao ser chamado de corrupto canalha se, pouco tempo depois, o próprio povo o reelege? O problema com esse tipo de remédio é que, de repente, pode ser necessária  uma alta dosagem. Novos xingamentos precisariam ser inventados, mas, como?  
                                                       
                                                          
3.Pensando bem, acho que a solução poderá vir dos anti-palavrões.  Mas o que seria um anti-palavrão? Justamente, o que se convencionou se chamar – em tempos muito remotos - de virtudes. Deu para entender? O que ofende mais alguém hoje em dia: ser chamado de cafageste ou de humilde? De sacana ou de honesto? De corrupto ou de pobre? De santa ou de puta? (Basta entrar nas redes sociais virtuais para constatar a multidão  de meninas  de treze anos,  reclamando de bullyng nas escolas por terem  sido chamadas, pejorativamente,  de virgens). Ser um glorioso sacana, por sua vez,  é o auge da reputação que um homem respeitado pode desejar : seja ele um caminhoneiro ou um freqüentador das colunas sociais.   
Enfim, bastaria  atualizar a palavra ofensiva e  xingar à vontade: o que interessa é que a ofensa seja capaz de ofender  alguém  na medida certa. Para aliviar a própria dor.
                                                                              ewerton.neto@hotmail.com                                                                                                  http://www.joseewertonneto.blogspot.com

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