sábado, 13 de abril de 2013

POBRE FUTEBOL = TEVÊ + MANIPULAÇÃO



artigo publicado hoje, sábado, na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão




Virou moda discutir no Brasil ao invés de qual o melhor time de futebol, qual é o que tem a maior torcida. O que surge como uma das  manifestações  mais evidentes da crise por que passa o outrora pujante futebol brasileiro.
Bons tempos  aqueles , na década de sessenta, em que o melhor time de futebol era o Santos de Pelé, e acabou.  Ninguém queria saber, então,  se esse Santos era dono de pequena torcida, todos o admiravam e por admirá-lo acabavam torcendo por ele. Dizia-se que todo brasileiro torcia pelo Santos, e isso era verdade. Torcia-se pelo bom futebol e não pela quantidade de gente que ia assisti-lo, enfim, o espetáculo era o que se passava  dentro de campo e não nas arquibancadas.
De algum tempo para cá, as estatísticas sobre os times preferidos são feitas com irritante freqüência como se estivessem promovendo uma pesquisa eleitoral, e a preferência de um torcedor fosse algo tão descartável como a preferência atual por determinado político. A  lógica , perversa para um futebol com o passado do futebol brasileiro é bem simples. Já que não há mesmo bom futebol discute-se  o volume de torcedores e, por tabela, qual é o time que  vai ganhar mais dinheiro da Rede Globo. O torcedor atual, longe de agir  como o do passado que enchia o peito e dizia: “ Meu time tem Zico e Leandro” ou “ O meu já teve Pelé e Coutinho”  simplesmente estufa sua camisa e diz : “ O meu time mais torcida  que o teu, tanto é assim que  a Rede  Globo ‘enche ele’ de dinheiro.”


Pobre futebol brasileiro! A partir de quando teria começado essa aberração? Uma resposta evidente para aquele que não é bobo, acompanha futebol e  sabe sumarizar o que se  depreende dos fatos e das entrelinhas é de que tudo teria começado quando a Rede Globo, na ânsia de dar as cartas no futebol brasileiro  enfiou um pontapé na união que havia entre o Clube dos Treze e passou a privilegiar, de maneira ostensiva, apenas dois clubes, pretensamente os de maior torcida. E, foi assim, que um clube tradicional como o Botafogo, que já nos deu Garrincha, Didi, Jairzinho etc.  com um histórico invejável de vitórias ( até cinco anos atrás o time que mais jogadores havia cedido à seleção brasileira) passou a receber da televisão uma cota  ‘mesquinha’ que mal chega à quarta parte do que é pago ao Coríntians. Dá-se assim, a bem do oportunismo comercial, a adulteração do princípio bíblico segundo o  qual “ao que tem mais será dado e ao que não tem , até o que tem lhe será tirado”. Que futuro estará reservado às futuras glórias do Botafogo - competitivamente aos privilegiados - se para ele estará reservado eternamente uma fatia menor do bolo (sabendo-se que a maior fonte de renda dos clubes brasileiros vem da televisão?)   Ora, isso pouco interessa ao monopólio que se apossou do futebol, mas sim que privilegiando financeiramente a apenas dois times, investe menos e fatura mais tornando mais fácil perdurar a manipulação do futebol como um todo.
Fica fácil entender, portanto, porque as pesquisas se repetem a todo instante   - como a querer comprovar que há respaldo popular na ação açambarcadora da Rede-, mesmo às  custas de uma imposição de falsa realidade que ofende a inteligência,  como as divulgadas recentemente dando conta de que o Coríntians Paulista teria hoje praticamente a mesma torcida nacional que o Flamengo e de que ,no  Nordeste – pasmem! – essa torcida já chega a ser três  vezes maior do que a do Vasco da Gama, terceiro colocado. 
                                                

 Menos, diria um ser minimamente racional em meio a esse tiroteio de mentiras. Afinal de contas, a qual torcedor a pesquisa está se referindo: ao torcedor de verdade, que vai ao estádio, e que sabe o nome dos jogadores  do seu time ou àquele que se diz torcedor de uma agremiação apenas porque dela ouviu alguém falar repetidamente na tela - típico  Maria vai com as Outras? Pois se esse tiver sido o ‘torcedor de ocasião’ pesquisado é possível que o Coríntians possa ter hoje, sim,  a  torcida nacional igual ou superior à do Flamengo , porque diante do bombardeio sonoro e visual perpetrado pela mídia no final do ano, noticiando as vitórias do time, caso se perguntasse a qualquer cachorro de rua ele responderia, latindo ou não,  que é corintiano. (Nem carece falar das tristes conseqüências desse bombardeio midiático  a se refletirem, meses depois, na morte de um jovem, na Bolívia,  e numa crise jurídica internacional). 
Pois a estatística, já dizia um grande cientista, é uma matemática ao gosto do freguês. Como também são - por que não?  - as torcidas flutuantes que vão e vem ao sabor do que determinam as redes de televisão, que manipulam como querem a preferência popular e que já conseguiram eleger  para presidente da república até  um aventureiro como Fernando Collor de Melo. E que se dane  o bom futebol!

                                                                              ewerton.neto@hotmail.com
                                               http://www.joseewertonneto.blogspot.com

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