sábado, 18 de maio de 2013

NO TRÂNSITO, ESSE GUERREIRO É VOCÊ



Artigo publicado hoje, sábado, na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão


Não duvide: esse guerreiro é você.  Mesmo sem armas e sem perfeita consciência disso saiba que você está indo para uma guerra, talvez, a pior de todas: a guerra do cotidiano. E é dessa que menos chances você tem de voltar vivo. Basta lembrar os seus inimigos:

1.Motoqueiros.  Eles surgirão dos quatro cantos do mundo e mais um: aquele que você menos espera. Nem adianta tentar se antecipar para prevenir: eles o cortarão pela direita, esquerda, por cima ou por baixo. Mantenha a reta, segure firme o volante, contenha-se para não ter um colapso cardíaco, chegou finalmente o sinal. Ufa!
E pensar que coisa de dez anos atrás eles não disputavam com você os raros espaços que sobravam nas avenidas, você era feliz e não sabia. Outro dia disparou um de dentro de um caixa eletrônico. Você se assustou, freou bruscamente. Nem deu tempo de  perguntar o que ele estava fazendo lá dentro com moto e tudo, já ele veio perguntando o que você queria lá também. Você tentou chamar um guarda, mas, ao invés dele, surgiu uma nuvem de motoqueiros ameaçando linchá-lo. Você, claro, desistiu de ponderar diante de argumentos tão convincentes e teve que pagar o conserto da moto (e da caixa eletrônica, idem), dando graças a Deus por ter voltado para casa. Quando ao amassado do seu próprio carro, você finge até hoje que é só uma ilusão de ótica passageira.

                                                

2.Barreiras eletrônicas e radares. Você pensava que conhecia as barreiras eletrônicas uma por uma. Pode-se dizer até que com alguma  intimidade, já que elas passaram a povoar seus pesadelos depois que você pagou uma saravaida de multas.  É capaz de dizer qual a mais afoita e até por quais  times  elas torcem. (tem uma que deve ser da  Gaviões da Fiel, porque mata com sinalizador). Tanta intimidade não evitou que elas o transformassem no inimigo público número 1. A coisa deve ser absolutamente pessoal porque até quando você passa com o pneu furado, a vinte por hora, elas o multam. Do jeito como proliferam (além delas, os radares ) , você está pensando em adotar uma e levar para casa a fim de multar as muriçocas que passaram a visitar sua casa , a cem por hora. Quem sabe, assim teriam alguma utilidade. 

                                  

3.Animais. 50 anos atrás os animais já invadiam o trânsito, mas até que você não se preocupava tanto, desde que fossem de 4 patas: jumentos , cachorros, vacas e galinhas,eram quase inofensivos. O que você passou a temer mesmo, de algum tempo para cá, são os humanos que, na disputa do trânsito, estão sempre próximos de atingir a perfeição animalesca quando pegam num volante. Então urram, esperneiam, berram, uivam, cada um  se esmerando em ser mais feroz que o outro, contando para isso com a parafernália tecnológica de seus automóveis. Se  querem zurrar usam uma caixa de som, se querem uivar , usam uma buzina, se querem espernear usam o acelerador e se querem escoicear...Bem, aí tentam xingá-lo, mas claro que você finge que não tem  ouvidos, senão se transforma em mais um.


                                           
                                             


4.Vagas.Bem que você batalhou, suou, penou, teve de escutar muito alarme de despertador e apito de fábrica,   até que conseguiu, finalmente, comprar seu carro com prestações a perder de vista e com juros que doem a vista. Só para descobrir que não existe lugar para colocá-lo, esteja o veículo se movendo ou, principalmente,  parado.  Se nas ruas já é difícil, nos estacionamentos, pior ainda. Antigamente, isso acontecia só  no Centro da cidade, agora é em shopping  center, farmácia, hospital ou cemitério.
A guerra por uma vaga você já aprendeu que é uma batalha vã, mas você não pode desistir,  você é um guerreiro. Depois de mil avisos de proibição: “Esta é para táxi”, “Esta é para moto” “Esta é para helicóptero”, você, guerreiro escolado, volta para casa e estaciona em sua própria garagem. Tem a perfeita consciência de que gastou gasolina, paciência, tempo e disposição, mas não pode deixar de ser acometido pela sensação, ainda que tardia, de como pode ser gostosa  essa sensação de vitória: a de ainda estar vivo.

                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com
                                                               http://www.joseewertonneto.blogspot.com

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