artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo,
jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado
A eternidade deve ter realmente começado quando Deus, cansado de tê-la ao redor, sem nenhuma
serventia (sequer a de ser uma companhia agradável) explodiu de ira.
-
Agora basta! Já estou cansado dessa tua aporrinhação sem fim. Vá-se à...
A
imensa ira de Deus só poderia mesmo desandar numa fúria em dimensões jamais vistas, e foi
então, que aconteceu essa tal explosão a
quem, nós, humanos, demos o nome de big-bang e da qual somos apenas mais uma de suas
míseras fagulhas. No instante seguinte,
Deus, certamente mais calmo, deve ter
pensado que ‘antes só do que mal-acompanhado desse tal de Universo’, mas aí já era tarde.
A
eternidade, portanto, deve ter começado ‘oficialmente’ nesse ponto, quando esse
algo que já não era mais o nada ( o Nada é um fingidor, finge tão
completamente, que chega a fingir que é Nada esse Nada que realmente é - como
diria um certo poeta português) teve
consciência do tudo e do todo. “Queimo, logo existo”, deve ter pensado também,
enquanto ardia, algum átomo de Hidrogênio um pouquinho mais inteligente do que
os demais, quem sabe inspirado pelo fogaréu que o consumia.
Dá
para imaginar como ela, a eternidade, deve ter ficado em polvorosa ao ter sido revelado, de uma hora para outra, seu
perfil de embusteira. Principalmente quando viu Deus providenciando sua
substituição provisória por uma entidade chamada tempo. Viu-se então na
contingência de ou explicar-se ou sumir por uns tempos. Claro que, diante da recém-apreendida
ira de Deus, foi o que resolveu fazer: “nada
de explicar-me, vou ficar rondando esse tal de tempo para ver que merda isso vai dar”.
2.
Foi por isso que só se voltou a pensar em eternidade muito tempo depois, mais
especificamente quando um ser muito
bronco, (o macaco que nos antecipou) lá
pras bandas de um minúsculo planeta chamado
Terra, queria se perpetuar por trás de sua fêmea, pensando “esse negócio é tão bom que nunca
mais devia parar” . Antes que levasse um safanão da macaca - que só veio aprender o que era gozar árduas estações mais tarde - sedimentou-se pela primeira vez , no cérebro
de alguém, o embrião do que podia ser eternidade, embora, claro, o animal não tivesse
a mínima consciência disso.
Pois
foi com a eternidade na cabeça que nasceram milhões de anos depois, linguajem, palavras, religiões,filosofias , angústia
existencial etc. A eternidade,
providencialmente, vinha bem a calhar para dar suporte a todas essas idéias ainda
mais que o tal do tempo já dava sinais
progressivos de cansaço para explicar determinadas coisas, ou, sendo mais
direto: para explicar o inexplicável. Expressões
inventadas com o único propósito de ‘dourar’ a crueza da vida como paixão, felicidade, infinito, e
outras ilusões careciam da velha eternidade para poder explicar-se e pronto, a ETERNIDADE
(essa vontade de perpetuar determinadas coisas e, mais que isso, de se
perpetuar) estava de volta e
assim reinou durante toda a era
antiga e moderna.
3.Sucedeu,porém
que, assim como o macaco-homem que a concebeu, a eternidade também evoluiu, tornou-se
pós-moderna e hoje aprendeu a executar o
jogo da existência , para não provocar outra fúria de Deus.
‘Sou uma
eternidade pós-moderna, ao gosto do freguês’ parece dizer a nova eternidade. Quer eternidade maior que a corrupção no Brasil? Ou,
a permanência numa fila de um Hospital Público? Ou, por outra, existe eternidade
mais infinita que a de alguém no trânsito engarrafado desta capital, ao
meio-dia?”
Enfim,
hoje a eternidade está de volta, personalizada e disfarçada ao invés da
anterior universal e abrangente, e não vê a hora de chegar-se a Deus, proclamar
sua vitória e dizer “ Eu não disse que, apesar dos pesares, mesmo sem ser
confiável eu era preferível para sua companhia do que esse tal de tempo? Não era
melhor ter previsto a merda que ia dar?”
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