sábado, 4 de maio de 2013

ETERNIDADE: A HISTÓRIA VERDADEIRA



artigo publicado na seção Hoje é dia de...Caderno Alternativo,
jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado




A  eternidade  deve ter realmente começado quando  Deus, cansado de tê-la ao redor, sem nenhuma serventia (sequer a de ser uma companhia agradável)  explodiu de ira.
                - Agora basta! Já estou cansado dessa tua aporrinhação sem fim. Vá-se à...
                A imensa ira de Deus só poderia mesmo desandar numa fúria em dimensões  jamais vistas,  e  foi então,  que aconteceu essa tal explosão a quem, nós, humanos, demos  o  nome de big-bang  e da qual somos apenas mais uma de suas míseras fagulhas.  No instante seguinte, Deus, certamente  mais calmo, deve ter pensado que ‘antes só do que mal-acompanhado desse tal de Universo’,  mas aí já era tarde.
                A eternidade, portanto, deve ter começado ‘oficialmente’ nesse ponto, quando esse algo que já não era mais o nada ( o Nada é um fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é Nada esse Nada que realmente é - como diria um certo poeta português)  teve consciência do tudo e do todo. “Queimo, logo existo”, deve ter pensado também, enquanto ardia, algum átomo de Hidrogênio um pouquinho mais inteligente do que os demais, quem sabe inspirado pelo fogaréu que o consumia. 

                                                                    
  
                Dá para imaginar como ela, a eternidade, deve ter ficado em polvorosa ao  ter sido revelado, de uma hora para outra, seu perfil de embusteira. Principalmente quando viu Deus providenciando sua substituição provisória por uma entidade chamada tempo. Viu-se então na contingência de ou explicar-se  ou  sumir por uns tempos. Claro que, diante da recém-apreendida ira de Deus, foi o que resolveu  fazer: “nada de explicar-me, vou ficar rondando esse tal de tempo  para ver que merda isso vai dar”.

                2. Foi por isso que só se voltou  a pensar  em eternidade muito tempo depois, mais especificamente quando um ser  muito bronco, (o macaco que nos antecipou)  lá pras bandas de um minúsculo planeta  chamado  Terra, queria se perpetuar  por trás de sua fêmea,  pensando “esse negócio é tão bom que nunca mais devia parar” . Antes que levasse um safanão da macaca -  que só veio aprender  o que era gozar árduas estações mais tarde -  sedimentou-se pela primeira vez , no cérebro de alguém, o embrião do que podia ser eternidade, embora, claro, o animal não tivesse a mínima  consciência disso.


                                                                   


                Pois foi com a eternidade na cabeça que nasceram milhões de anos depois,  linguajem, palavras, religiões,filosofias , angústia existencial  etc. A eternidade, providencialmente, vinha bem  a calhar  para dar suporte a todas essas idéias ainda mais que o tal do tempo já  dava sinais progressivos de cansaço para explicar determinadas coisas, ou, sendo mais direto:  para explicar o inexplicável. Expressões inventadas com o único propósito de ‘dourar’ a crueza  da vida como paixão, felicidade, infinito, e outras ilusões careciam da velha eternidade para poder explicar-se e pronto, a ETERNIDADE (essa vontade de perpetuar determinadas coisas e, mais que isso, de se perpetuar)  estava de volta  e  assim reinou  durante toda a era antiga e moderna.

3.Sucedeu,porém que, assim como o macaco-homem que a concebeu,    a eternidade também evoluiu, tornou-se pós-moderna e  hoje aprendeu a executar o jogo da existência , para não provocar outra fúria de Deus.
‘Sou uma eternidade pós-moderna, ao gosto do freguês’  parece dizer a nova eternidade.  Quer  eternidade maior que a corrupção no Brasil? Ou, a permanência numa fila de um Hospital Público? Ou, por outra, existe eternidade mais infinita que a de alguém no trânsito engarrafado desta capital, ao meio-dia?”

                                                     

                Enfim, hoje a eternidade está de volta, personalizada e disfarçada ao invés da anterior universal e abrangente, e não vê a hora de chegar-se a Deus, proclamar sua vitória e dizer “ Eu não disse que, apesar dos pesares, mesmo sem ser confiável eu era preferível para sua companhia do que esse tal de tempo? Não era melhor ter previsto  a merda que ia dar?”
                                                                                              ewerton.neto@hotmail.com
                                                                              http://www.joseewertonneto.blogspot.com

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