segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O MAIOR INVENTO HUMANO



artigo publicado sábado, seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão

Tem gente que acha que o maior invento humano foi o avião, outros a roda ( de onde tudo começou). Meu pai – com toda razão – dizia que era a eletricidade, mas já tem gente achando que foram as redes sociais. Basta perguntar  para os cantores de sucesso do momento Anitta ou para o Naldo o que eles seriam sem elas.
Sei não, mas sem querer puxar a sardinha para a minha profissão de engenheiro,  acho que foi a média. Não, nada a ver com a classe que todos nós fingíamos pertencer antes de Lula, mas a média matemática propriamente dita, aquele cálculo meio besta no qual dividimos a soma de eventos associados a cada participante de um conjunto pela sua população e, com cujo resultado pretende-se, como num passe de mágica, representar o conjunto.


                                            


Genial, dirão alguns, pura embromação matemática diriam os  estudiosos , mas pensando bem, o que seria de nós e do nosso futuro se não fosse a média? Só ela nos permite a mais doce ilusão, que é aquela fundamentada em cálculos para lhe dar credibilidade. Só assim acessamos uma esperança legitimada provisoriamente substituindo as mentiram que nos empurram a três por quatro.
Quando a presidenta Dilma Roussef chega até Davos e diz que graças aos governos PT o  brasileiro , em média, está muito mais rico, não há como contestar, da mesma forma que na piada clássica um sujeito com a cabeça no congelador e o os pés na fogueira na média está no melhor dos mundos. E haja estatística para concluir que se o brasileiro, às custas da bolsa-família e outras bolsas – na média está mais rico , estará também ( desta vez sem precisar de cálculos) muito mais feliz na média. E então, é ou não é a média, uma invenção para trazer felicidade?


                                            


Historicamente, ninguém sabe quem descobriu a média, mas , provavelmente, Deus já a conhecia. Quando expulsou Eva do paraíso depois de botar uma serpente com uma maçã para atrair o bobo do Adão, induzindo-o ao pecado, estava na verdade apenas consertando o mal feito, fazendo média com o julgamento que mais tarde se faria dele, para que jamais se sentisse culpado por ter criado, num momento de descuido a raça humana.  Séculos mais tarde tentou se redimir pela voz de seu filho Jesus Cristo quando este vociferou contra ela: “ prefiro os quentes ou frios, porque os mornos, eu os vomitarei”. Infelizmente já era tarde demais . Ela já se tinha instalado confortavelmente nos mais recalcitrantes neurônios da mente humana. Pilatos a usou quando lavou as mãos do seu sangue justo e, Jesus, talvez porque soubesse que nada mais havia a fazer, poupou-se de chamá-lo de medíocre. Deixou que a história o fizesse.
Anos mais tarde,  os matemáticos, sempre atrasados, para corrigir a aberração criada, desenvolveram a estatística e tentaram consertá-la ( à média) inventando um tal de desvio-padrão para determinar  se essa média era confiável ou não. Eram tão descrentes disso que para corrigir um desvio conceberam  um  outro .  Quem iria acreditar numa grandeza com esse nome? Desnecessário dizer que não pegou popularmente e a média continuou sendo usada a torto e a direito para bem de todos e felicidade geral da nação. O que  pretendia , na realidade,  dizer Pedro I com seu famoso grito de independência ou morte? Que não queria independência nem morte, mas sim que, na média que o Brasil continuasse  o mesmo de sempre , um país de governantes medianos e  de soluções intermediárias.


                                                


Hoje ninguém pode prescindir da média. Embora a intuição popular saiba que ela é pouco confiável e, em consequência, chame qualquer sujeito incapaz de mediano, ninguém tem    defesa contra aqueles que sabem usá-la corretamente, ou seja que saibam fazer média. A maioria dos lugares  de destaque da sociedade estão ocupadas por medíocres, mas que sabem fazer média.

Enfim, já que tudo é média desde o café com leite com que iniciamos o dia até a hora em que re-mediados dormimos , só nos resta aplaudir essa invenção que se não salva a humanidade pelo menos nos permite suportar a existência sabendo que , ao fim de tudo, todo ser humano não passa de alguém que sem saber de onde veio e nem para onde vai, tira a média disso e, em consequência vive, ou seja, tira férias  do nada que sempre foi antes de nascer. E que voltará a ser.  

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