artigo publicado sábado, seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão
Tem gente que
acha que o maior invento humano foi o avião, outros a roda ( de onde tudo
começou). Meu pai – com toda razão – dizia que era a eletricidade, mas já tem
gente achando que foram as redes sociais. Basta perguntar para os cantores de sucesso do momento Anitta
ou para o Naldo o que eles seriam sem elas.
Sei não, mas
sem querer puxar a sardinha para a minha profissão de engenheiro, acho que foi a média. Não, nada a ver com a
classe que todos nós fingíamos pertencer antes de Lula, mas a média matemática
propriamente dita, aquele cálculo meio besta no qual dividimos a soma de
eventos associados a cada participante de um conjunto pela sua população e, com
cujo resultado pretende-se, como num passe de mágica, representar o conjunto.
Genial, dirão
alguns, pura embromação matemática diriam os
estudiosos , mas pensando bem, o que seria de nós e do nosso futuro se
não fosse a média? Só ela nos permite a mais doce ilusão, que é aquela
fundamentada em cálculos para lhe dar credibilidade. Só assim acessamos uma esperança
legitimada provisoriamente substituindo as mentiram que nos empurram a três por
quatro.
Quando a
presidenta Dilma Roussef chega até Davos e diz que graças aos governos PT o brasileiro , em média, está muito mais rico,
não há como contestar, da mesma forma que na piada clássica um sujeito com a
cabeça no congelador e o os pés na fogueira na média está no melhor dos mundos.
E haja estatística para concluir que se o brasileiro, às custas da
bolsa-família e outras bolsas – na média está mais rico , estará também ( desta
vez sem precisar de cálculos) muito mais feliz na média. E então, é ou não é a
média, uma invenção para trazer felicidade?
Historicamente,
ninguém sabe quem descobriu a média, mas , provavelmente, Deus já a conhecia.
Quando expulsou Eva do paraíso depois de botar uma serpente com uma maçã para atrair
o bobo do Adão, induzindo-o ao pecado, estava na verdade apenas consertando o
mal feito, fazendo média com o julgamento que mais tarde se faria dele, para
que jamais se sentisse culpado por ter criado, num momento de descuido a raça
humana. Séculos mais tarde tentou se
redimir pela voz de seu filho Jesus Cristo quando este vociferou contra ela: “
prefiro os quentes ou frios, porque os mornos, eu os vomitarei”. Infelizmente
já era tarde demais . Ela já se tinha instalado confortavelmente nos mais
recalcitrantes neurônios da mente humana. Pilatos a usou quando lavou as mãos
do seu sangue justo e, Jesus, talvez porque soubesse que nada mais havia a
fazer, poupou-se de chamá-lo de medíocre. Deixou que a história o fizesse.
Anos mais
tarde, os matemáticos, sempre atrasados,
para corrigir a aberração criada, desenvolveram a estatística e tentaram
consertá-la ( à média) inventando um tal de desvio-padrão para determinar se essa média era confiável ou não. Eram tão
descrentes disso que para corrigir um desvio conceberam um outro
. Quem iria acreditar numa grandeza com
esse nome? Desnecessário dizer que não pegou popularmente e a média continuou
sendo usada a torto e a direito para bem de todos e felicidade geral da nação.
O que pretendia , na realidade, dizer Pedro I com seu famoso grito de
independência ou morte? Que não queria independência nem morte, mas sim que, na
média que o Brasil continuasse o mesmo de
sempre , um país de governantes medianos e de soluções intermediárias.
Hoje ninguém
pode prescindir da média. Embora a intuição popular saiba que ela é pouco
confiável e, em consequência, chame qualquer sujeito incapaz de mediano,
ninguém tem defesa contra aqueles que
sabem usá-la corretamente, ou seja que saibam fazer média. A maioria dos
lugares de destaque da sociedade estão
ocupadas por medíocres, mas que sabem fazer média.
Enfim, já que
tudo é média desde o café com leite com que iniciamos o dia até a hora em que
re-mediados dormimos , só nos resta aplaudir essa invenção que se não salva a
humanidade pelo menos nos permite suportar a existência sabendo que , ao fim de
tudo, todo ser humano não passa de alguém que sem saber de onde veio e nem para
onde vai, tira a média disso e, em consequência vive, ou seja, tira férias do nada que sempre foi antes de nascer. E que voltará
a ser.
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