sábado, 25 de janeiro de 2014

TORNOZELEIRA NELES!




artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão


A idéia elementar, evoluída  há séculos para bem da sociedade,  de que bandido tem que permanecer na cadeia, neste país encontra enorme dificuldade em se concretizar. Se por um lado, faltam cadeias em todo o território nacional, por incúria administrativa, sobram idéias para suprir essa falha, sempre inspiradas no jeitinho brasileiro de que “se não dá para resolver o essencial, tratemos de amenizar o drama” que é o mesmo de dizer  “já que existe tanto bandido nas ruas,  um a mais um a menos  não vai fazer diferença”. Ou seja, como sempre  as vítimas que se explodam.

Pois é partindo daí, desse jeitinho brasileiro,  que surgem as mais ‘brilhantes’ idéias para aliviar o problema, desde  penas alternativas para soltar bandidos  a até, por último, colocar tornozeleiras  nos pés dos ditos cujos para identificá-los, deixando-os à solta. Como se fizesse diferença, para alguém que vai  morrer, ser queimado por um marginal com ou sem tornozeleira. 

Já que precisa ser assim: Tornozeleira neles!,  mas não custa prever o que resta acontecer.

1.Como são tantos os bandidos neste país e tão poucas as cadeias  não é exagero acreditar que logo passaríamos a ter uma ‘inflação’ de tornozeleiras por aí muito maior do que aquela dos tempos de Collor de Mello. Em dois, três ou cinco anos no máximo, a tornozeleira passaria a ser um acessório de moda mais comum do que tatuagem, por exemplo. E haja marmanjo entrando de tornozeleira em fila de loteria, em churrascos de fim de semana, em festa de aniversário ou em missa de sétimo dia.

                                       

A turma das redes sociais e dos rolezinhos, sempre ávida por novidades, disputaria entre si para ver quem circularia com  a tornozeleira mais bonita e os concursos de modelo dos shopping-centers brindariam não mais a magrinha menos feinha, mas aquela com a tornozeleira mais vistosa.   

2. Haveria tanta tornozeleira pra tudo quanto é lado que os bandidos comuns ficariam irreconhecíveis, destacando-se, porém, quem tivesse tornozeleira de grife, ou seja, original da cadeia, ao invés da imitação adquirida em qualquer esquina. Este, logo assumiria seu prestígio: seria disputado por um monte de mulher em qualquer balada e seria o mais respeitado pelas gangues. Enfim, o marginal de respeito já sairia da cadeia  direto para o estrelato, digamos assim,   sendo fácil imaginar seu sucesso ao chegar em casa e , principalmente, ao ser festejado pela turma do bairro. “Tá vendo essa tornozeleira, mãe? Essa  ganhei matando e estuprando gente na cadeia, não é tornozeleira pirata que vagabundo compra de qualquer  china.”.


                                 
           


Para poder diferenciar um bandido chique, tipo político corrupto (mensalão e adjacências) teriam de ser  confeccionadas tornozeleiras especiais.  Neste caso, o bandido chique, antes mesmo de ser condenado, e sem precisar passar sequer uma noite na cadeia, receberia a tornozeleira em casa, levada por uma comitiva de figurões. Não é difícil  imaginar também o que poderia acontecer com o dono de uma tornozeleira dessas, ao ser interceptado na avenida, em sua Hilux, por um pobre guarda desavisado.
- Documentos, por favor!- diz o guarda.
- Você não sabe com quem está falando.
-  Desculpe, por acaso você é algum político?
- Melhor que isso. Não apenas sou  político, como tenho tornozeleira.
-Como?? – o guarda hesita.


                                           


- Tá vendo esta aqui em meu pé?
- Uma tornozeleira, mas....
- Nem mas nem meio mas, presta mais atenção!
-Estou confirmando, é sim: Tornozeleira  Especial! Oh, por favor, desculpe senhor, queira me desculpar, não me leve a mal, sou apenas  um pobre soldado!
E assim por diante. Mas se essa é a solução: Tornozeleira, neles!
                                                               ewerton.neto@hotmail.com                                                                                                                  http://www.joseewertonneto.blogspot.com

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