Artigo publicado hoje, sábado, na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado
Qual o olho mais bonito do Brasil? Durante muito tempo reinou
o de Tônia Carrero. Depois o de Bruna Lombardi. Coisa de
louco, esse olho de Bruna Lombardi, fez
até a atriz virar poetisa! “Com um par de olhos
desses, até eu” , diria Suzana Vieira ou Luciana Gimenez - coitadas!
Era no tempo
em que o olho (ambos, tanto faz) quanto mais bonito fosse mais coisa de beleza pura
era, mesmo que a dona não fosse tão pura assim – como a própria Bruna, que nunca fez questão disso. Mas se
perguntarem, hoje em dia, qual o olho mais bonito do Brasil vai dar algum
trabalho, não? Os de Carolina Dieckman? – convencionais. Os de Gisele Bundchen?
- Tão irrelevantes quanto suas nádegas. E os de Bruna Marquezine? – O melhor
olho dela, está em outro lugar, não é mesmo Neymar?. Enfim, hoje estamos
definitivamente pobres não só de futebol, como também de olho.
Não que se
queira chegar aos olhos anglo-saxões violáceos, com espasmos de arrebatamento
erótico, como os de Elizabeth Taylor - esses não existem mais, até do lado de
lá, mas, bem que gostaríamos de possuir um olho bem brasileiro, quiçá atraente...
De ressaca, parecendo uma epilepsia do mar, como os de Capitu, ou de Marta
Rocha, a quase mulata baiana, de olhos que queriam ser verdes, alguém se lembra? (Que fazer! contra o tempo
não há Rocha que resista, nem mesmo essa). O que se desejava mesmo, hoje em dia,
era que tivéssemos um olho-símbolo que ,
se não bonito, representasse bem o Brasil. Um olho que fosse, pelo menos ,
digno.
Mas eis que, de repente, surge aquele
olho que tem tudo para ser o do Brasil
de hoje. Está lá, na capa da Veja desta semana, junto com Graça Foster, da
Petrobrás (com seus olhos de óculos): o olho de Nestor Cerveró.
O que tem de
especial e brasileiríssimo esse olho esquerdo de Nestor Cerveró? Dê uma olhada,
leitor, pois está lá mesmo, na capa da revista. Não é porque seja feio e nem
porque decorrente, talvez, de um defeito físico... Isso não seria motivo para constranger
tanto. O olho se destaca, ao invés, por parecer deslocado em sua face de um
jeito sub-reptício... É um olho à parte,
um olho ladino, certamente, mas o que ofende a simetria natural não é a sua
posição deslocada, mas a forma com que se instala no rosto do homem e nos encara: um olho que tem vida própria e
que extravasa duas aberrações: primeira, a de estar ali, confortavelmente
instalado a par das acusações de corrupção que pesam sobre seu dono e segundo, a sua atitude de nos acusar de idiotas,
especialmente, àqueles que, como eu ,
colocaram suas parcas economias em ações da Petrobrás sob a ilusão de que estávamos colocando nosso
dinheiro sob o gerenciamento de gente direita.
Um olho vivo
até demais, no mal sentido, e que na ironia de um amigo meu só pode ter uma
explicação: de tanto conferir dinheiro, que não era seu, caiu pela ação da
gravidade em direção ao nariz e ali se plantou. É como se, por ser cúmplice de
um ato torpe do seu dono, o olho, ao nos contemplar como se fôssemos patetas, escarnecesse
de nós, assim como costumam fazem tantos ‘olhos brasileiros’ de hoje. Com esse
olho se parece tanto o olho oculto dos semáforos para extorquir cidadãos, como
o olho que não enxerga quem cava túnel todo dia em Pedrinhas. É da mesma medida
desse olho tanto o olho embonecado a photo-shop dos candidatos à próxima eleição, como os mesmos olhos que se fecham, logo depois de eleitos seus
donos, para não ver as condições da
saúde do povo e seus reclames contra a insegurança.
Enfim, é da
mesma família do olho que nos persegue, tanto para saber se votamos como para
pagarmos o imposto de renda mais caro do mundo, em troca da assistência social
que está aí. Mas nunca para mostrar que estamos num país onde para se corrigir
o rumo não basta uma CPI, tem que haver
a CPI da CPI, a Lei da Lei, a Farsa da
Farsa, a Pizza da Pizza. É um olho tão vil que dá vontade de reagirmos contra
ele, um dia, na base do olho por olho, dente por dente.
Mas, qual, donos
de dentes banguelas, temos mais é que baixar os olhos diante dos administradores
corruptos desta nação, que sempre olharam a gente de cima para baixo, mas, agora,
olham de qualquer ângulo e de todos os locais do rosto, sem pejo e sem pudor, pela
certeza de que vão ficar eternamente impunes. Como o olho de Nestor Cerveró. O
olho do Brasil atual.
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