artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão,
hoje, sábado.
"Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as
vossas pérolas, para que não suceda de que eles as pisem com os pés e que,
voltando-se contra vós, vos dilacerem."
O grande espetáculo da democracia, como assim pretende a
propaganda dos órgãos oficiais, conclamando os eleitores a saírem de sua casa
para votar têm tido, de fato, manifestações populares nessa direção.
Principalmente quando se vê idosos que deveriam ser poupados desse dever
cívico, superando suas limitações físicas e de saúde para exercerem,
orgulhosamente a tal cidadania. Ou seja, o povo faz sua parte, muitas vezes
heroicamente.
Mas é
bastante um rápido olhar, nesse dia das eleições, para o chão, repito, para o
chão das ruas para se guardar a impressão de que existe alguma coisa de muito
errada e, muito mais que errada, ultrajante, com a tal ‘festa da democracia’.
Pois lá estão, atirados nas calçadas e ruas, de propósito, milhares e milhares de pedaços de papéis
normalmente chamados de santinhos. Amontoam-se perto das sessões de votação,
sem organização e sem critério, jogados simplesmente, como depósitos de lixo
liberados e saindo pelo ladrão, podendo causar um grave acidente nas pessoas
idosas que neles podem escorregar e cair. É como como se, de repente, a tal festa da cidadania se houvesse transformado,
sobretudo, na festa da porcaria e da imundície.
E quem são
esses que emporcalham as ruas e que enodoam a consciência do cidadão? Quem
seria capaz de cometer tamanha grosseria e desrespeito com um brasileiro que
aprendeu, há muito tempo, o que é ser civilizado? Quem odeia tanto assim a sua
cidade a ponto de praticar atitude desse tipo contra a preservação, mobilidade,
limpeza e beleza de suas ruas? Ora, é suficiente atentar para o que encerra
cada uma dessas partículas de papel para se descobrir. Tome um pedaço desse
lixo, outro e mais outro. São fotos, fotos, fotos, números e mais fotos. Por incrível que pareça são
fotos de quem pretende justamente o voto do eleitor e não tem o pudor de se ver
definitivamente incorporado ao lixo que provoca, como se, de alguma forma, fizesse a proclamação preanunciada da
imundície que será capaz de praticar , desde que vitorioso a qualquer custo.
É fácil
imaginar a sina de alguém, que tendo abdicado há algum tempo de seu direito de
votar, mude de ideia aconselhado por outra pessoa, que pode ser a sua mãe, por exemplo, desejosa
de participar também da tal festa democrática. Acompanhando-a e prestes a
entrar em sua seção ele se depara com aquela monumental imundície. Milhares e
milhares de pedaços de papel atirados pelo chão voando ao sabor do vento como
se fossem moscas, emporcalhando o chão, a visão e a alma. Ele anda com cuidado,
sua mãe pode escorregar e cair. Ao pedir a Deus ajuda para sua velhinha o
ocorre lembrar-se de uma frase da Bíblia
saída da boca de Jesus Cristo: “Que não se desperdicem pérolas, atirando-as a porcos.”
Ele segura firmemente seu voto, pois acabou
de contemplar em meio ao lixo a figura, justamente, do candidato que tinha escolhido para votar. Ele retêm
seu voto, ele sabe, ele acredita que seu voto é uma preciosa pérola porque,
inclusive, vai torna-lo responsável por aquele que vai escolher, segundo foi dito na propaganda oficial. Ele se pergunta : se eu votar nesse, admitindo
que ele tenha estimulado tanta violência em forma de sujeira , não estarei na
realidade atirando pérolas a um porco?
Ele se
recusa a aceitar tudo isso. Ele desistiu e vai votar em branco. Ele não quer
depositar uma pérola sua, talvez a única que tenha, em alguém que antes até de ser eleito já está
procedendo de forma tão repulsiva.
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