sábado, 22 de agosto de 2015

SEU PRAZO DE VALIDADE




artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado

Tudo, mas tudo mesmo tem prazo de validade. Até o tudo, até a eternidade. Quando alguém diz na igreja que vai amar alguém por toda a eternidade, está claro que essa eternidade é relativa: ao vigésimo chifre, à centésima discussão, ao milésimo xingamento nas redes sociais etc. etc. Quanto ao tudo, seu prazo de validade talvez nem dure até o ponto de você descobrir que tudo e nada, no fundo, são a mesma  coisa.
            Porque esse tal de prazo de validade, esse sim é que deveria ser a marca mais exigida e preciosa das coisas e dos homens, esse é que deveria estar exposto de forma visível, acompanhando a identificação, nas carteiras de identidade. “Político do PT. Prazo de validade: vencido!”. Não ficaria muito mais fácil para o eleitor? 



                                           





 Porém, até daquilo que você come , fazem tudo para ocultar o prazo de validade, numa provável insinuação de que  sua vida, e, consequentemente, seu prazo de validade, não significa muita coisa para quem quer que seja.

            Basta ir ao supermercado pegar um produto e prestar atenção. Cadê o prazo de validade? Haja procurar, pois não existe padronização de local: pode estar no fundo do invólucro, na tampa, no verso da tampa ou até, pasme! – boiando no meio do liquido, caso se trate de cerveja, por exemplo. Nas embalagens de plástico, você tem que adivinhar o prazo de validade decifrando um código, o que significa colocar o recipiente em direção ao sol para adivinhar, porque a luz elétrica do shopping, definitivamente não serve.  A coisa é tão complicada que certos produtos deveriam vir com um manual de instruções para poder acessá-lo.

                                                



            Mas isso não é tudo. Além do prazo de validade, existe ainda o que poderíamos chamar de sub- prazo de validade,  que é aquele tempo após o qual o produto mesmo enfiado na geladeira, se deteriora e começa a ficar pronto para lhe causar uma possível morte. Você atentou para isso? Claro que não, eu também não atentava. Só comecei, dizia, a me preocupar com isso depois que passei uma semana num hospital por conta de uma infecção causada por um suco à base de soja cujo prazo pós-aberto (escrito em letras miudinhas e indecifráveis) era de dois dias, quando eu pensei que pudesse durar semanas, ao sabor do friozinho da geladeira. Sim, porque se um prazo de validade é difícil de achar, imagine o tal do subprazo!  É como se houvesse uma competição entre o prazo de validade e o subprazo para ver qual dos dois se esconde melhor.
            Assim é o prazo de validade, caríssimo leitor: um mistério devidamente autorizado pelos órgãos de defesa do consumidor deste país,  cujos legisladores jamais pensaram na sacrossanta ideia de padronizar um local específico nas embalagens ou de, pelo menos, determinarem o óbvio: um tamanho de letra que seja legível sem lente de aumento. Em sua tardia defesa, leitor, alguns prazos de validade, muito a propósito:

            1.Prazo de validade de um Órgão de Defesa do Consumidor. No Brasil dura algumas horas até você chegar à conclusão de que é melhor ser consumido pelo produto do que pelo órgão que se propõe a defende-lo.

            2.Prazo de validade de um produto de consumo. Totalmente indecifrável, mas, com certeza, sempre menor que o tempo que você leva para  descobrir onde ele está escrito.

            3.Prazo de validade de um prazo de validade. Como neste país antes mesmo que a coisa exista, já existe alguém tentando levar vantagem em cima de você (antigamente chamada Lei de Gerson) , por pior que seja um produto o seu prazo de validade vale menos ainda que o produto.
                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com

                                                           http://www.joseewertonneto.blogspot.com

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