artigo publicado na seção Hoje é dia de...
Caderno Alternativo, jornal o Estado do Maranhão, hoje, sábado
Tudo, mas tudo mesmo tem prazo de validade. Até o tudo, até a
eternidade. Quando alguém diz na igreja que vai amar alguém por toda a
eternidade, está claro que essa eternidade é relativa: ao vigésimo chifre, à
centésima discussão, ao milésimo xingamento nas redes sociais etc. etc. Quanto
ao tudo, seu prazo de validade talvez nem dure até o ponto de você descobrir
que tudo e nada, no fundo, são a mesma coisa.
Porque esse
tal de prazo de validade, esse sim é que deveria ser a marca mais exigida e
preciosa das coisas e dos homens, esse é que deveria estar exposto de forma
visível, acompanhando a identificação, nas carteiras de identidade. “Político
do PT. Prazo de validade: vencido!”. Não ficaria muito mais fácil para o
eleitor?
Porém, até daquilo que você
come , fazem tudo para ocultar o prazo de validade, numa provável insinuação de
que sua vida, e, consequentemente, seu
prazo de validade, não significa muita coisa para quem quer que seja.
Basta ir ao
supermercado pegar um produto e prestar atenção. Cadê o prazo de validade? Haja
procurar, pois não existe padronização de local: pode estar no fundo do invólucro,
na tampa, no verso da tampa ou até, pasme! – boiando no meio do liquido, caso
se trate de cerveja, por exemplo. Nas embalagens de plástico, você tem que adivinhar
o prazo de validade decifrando um código, o que significa colocar o recipiente em
direção ao sol para adivinhar, porque a luz elétrica do shopping, definitivamente
não serve. A coisa é tão complicada que certos
produtos deveriam vir com um manual de instruções para poder acessá-lo.
Mas isso não
é tudo. Além do prazo de validade, existe ainda o que poderíamos chamar de sub- prazo de validade, que é aquele tempo após o qual o produto mesmo
enfiado na geladeira, se deteriora e começa a ficar pronto para lhe causar uma
possível morte. Você atentou para isso? Claro que não, eu também não atentava. Só
comecei, dizia, a me preocupar com isso depois que passei uma semana num
hospital por conta de uma infecção causada por um suco à base de soja cujo
prazo pós-aberto (escrito em letras miudinhas e indecifráveis) era de dois
dias, quando eu pensei que pudesse durar semanas, ao sabor do friozinho da
geladeira. Sim, porque se um prazo de validade é difícil de achar, imagine o tal
do subprazo! É como se houvesse uma
competição entre o prazo de validade e o subprazo para ver qual dos dois se
esconde melhor.
Assim é o
prazo de validade, caríssimo leitor: um mistério devidamente autorizado pelos
órgãos de defesa do consumidor deste país, cujos legisladores jamais pensaram na sacrossanta
ideia de padronizar um local específico nas embalagens ou de, pelo menos,
determinarem o óbvio: um tamanho de letra que seja legível sem lente de
aumento. Em sua tardia defesa, leitor, alguns prazos de validade, muito a
propósito:
1.Prazo de
validade de um Órgão de Defesa do Consumidor. No Brasil dura algumas horas até
você chegar à conclusão de que é melhor ser consumido pelo produto do que pelo
órgão que se propõe a defende-lo.
2.Prazo de
validade de um produto de consumo. Totalmente indecifrável, mas, com certeza,
sempre menor que o tempo que você leva para descobrir onde ele está escrito.
3.Prazo de
validade de um prazo de validade. Como neste país antes mesmo que a coisa
exista, já existe alguém tentando levar vantagem em cima de você (antigamente
chamada Lei de Gerson) , por pior que seja um produto o seu prazo de validade
vale menos ainda que o produto.
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