Artigo publicado hoje, quinta-feira, no jornal
o Estado do Maranhão
A “Palavra do ano” de 2015 não foi uma palavra, mas um emoji
( uma imagem pictográfica que simboliza um rosto chorando de alegria).
O que
sugere que chegamos a uma época em que a beleza de uma palavra não
esteja mais no seu significado, ou sonoridade, mas na sua imagem.
E qual seria
a palavra mais bela da língua portuguesa? Provavelmente não foi escolhida ainda,
mas da língua inglesa sim, e isso aconteceu há uns oito anos atrás. 42000
pessoas de diferentes países escolheram a palavra mother (mãe), como a mais bela. Mas será que é definitiva a
escolha? Seria realmente mother a
palavra mais bela?
Refletindo
sobre as palavras que a secundaram em termos de preferência estas foram, pela
ordem: Pasion (paixão); Smile ( sorriso); Love ( amor); Eternity (eternidade);
Fantastic ( fantástico); Freedom ( liberdade)...etc. Dá para perceber que seus
equivalentes em português seriam apreciados igualmente e que muitas dessas palavras
estariam também entre as escolhidas se o objeto fosse nossa língua.
Particularmente, lembro que fui possuído de singular empatia – que dura até
hoje – pela palavra freedom quando a vi, pela primeira vez, na
adolescência, num poema de Shelley e nem sabia o que significava. (É possível
que visse na sonoridade da palavra récem-descoberta a capacidade de traduzir
melhor a dimensão de um sentimento tanto mais amplo quanto mais capaz de
renovar-se...)
Mas aí é que está, uma
palavra deve ser considerada bela a partir de sua sonoridade ou pelo que
representa? Considere-se que certas palavras, em qualquer idioma, têm uma
sonoridade poética e musical que independem do seu significado, como, por exemplo butterfly
, do inglês. Não precisa ser artista para intuir que seu equivalente em
português, borboleta, não soa com o mesmo poder de fogo. Daí que poderíamos
chegar a uma fórmula pretensiosa e definitiva quanto a isso. Palavra bela = seu
significado + sua sonoridade.
Empunhando
esse conceito ficaria mais fácil encontrar a tal palavra. Pelo significado, por
certo, chegaríamos às palavras óbvias, acima citadas: Amor, Paixão, Infinito.
Já, pela sonoridade, Vendaval, Melancolia, Delírio etc. não tão óbvias
assim, porque exigem para ser apreciadas que nos dissociemos daquilo que
representam. Existe palavra mais bonita
e contraditória que Lúcifer, com sua sonoridade poética e sedutora e, no
entanto, significando o domínio do mal, ou o próprio diabo? Fosse Lúcifer o
nome de um anjo do bem, muitas das namoradinhas brasileiras suspirariam por
galãs de novelas com esse nome.
Escutei em
algum lugar, mais de uma vez, que a palavra saudade seria a palavra mais bela
da língua portuguesa. Nenhum outro idioma a possui num único termo, com a mesma
carga de sentimento, intraduzível. De fato, a palavra saudade certamente
satisfaria a fórmula acima, tanto em significado como em sonoridade, porém,
ainda assim, hesitaria em especular que seja a mais bela. A palavra mais bela talvez
devesse ser aquela que, potencializada pelos sentimentos intraduzíveis da
esperança e da crença na superação humana, individual e coletiva, fosse incapaz de ser contida num símbolo –
poderia ser até mesmo uma palavra não dita, ou ainda, aquela que reverbere
melhor pelo não-dito que pelo dito.
Quem duvida
de que, nestes dias trágicos de tentativas de sufocação da beleza e da vida
pelo horror, em Paris, uma das palavras
mais belas do idioma francês, FRATERNITÉ ( fraternidade) ressoe ainda mais bela?
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