quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A BELEZA DAS PALAVRAS





Artigo publicado hoje, quinta-feira, no jornal
o Estado do Maranhão


A “Palavra do ano” de 2015 não foi uma palavra, mas um emoji ( uma imagem pictográfica que simboliza um rosto chorando de alegria). 


                                                 



O que sugere que chegamos a uma época em que a beleza de uma palavra não esteja mais no seu significado, ou sonoridade, mas na sua imagem.
            E qual seria a palavra mais bela da língua portuguesa? Provavelmente não foi escolhida ainda, mas da língua inglesa sim, e isso aconteceu há uns oito anos atrás. 42000 pessoas de diferentes países escolheram a palavra mother (mãe), como a mais bela. Mas será que é definitiva a escolha? Seria realmente mother a palavra mais bela?
            Refletindo sobre as palavras que a secundaram em termos de preferência estas foram, pela ordem: Pasion (paixão); Smile ( sorriso); Love ( amor); Eternity (eternidade); Fantastic ( fantástico); Freedom ( liberdade)...etc. Dá para perceber que seus equivalentes em português seriam apreciados igualmente e que muitas dessas palavras estariam também entre as escolhidas se o objeto fosse nossa língua. Particularmente, lembro que fui possuído de singular empatia – que dura até hoje – pela palavra freedom  quando a vi, pela primeira vez, na adolescência, num poema de Shelley e nem sabia o que significava. (É possível que visse na sonoridade da palavra récem-descoberta a capacidade de traduzir melhor a dimensão de um sentimento tanto mais amplo quanto mais capaz de renovar-se...)                                            



Mas aí é que  está, uma palavra deve ser considerada bela a partir de sua sonoridade ou pelo que representa? Considere-se que certas palavras, em qualquer idioma, têm uma sonoridade poética e musical que independem do seu significado, como, por  exemplo butterfly , do inglês. Não precisa ser artista para intuir que seu equivalente em português, borboleta, não soa com o mesmo poder de fogo. Daí que poderíamos chegar a uma fórmula pretensiosa e definitiva quanto a isso. Palavra bela = seu significado + sua sonoridade.

            Empunhando esse conceito ficaria mais fácil encontrar a tal palavra. Pelo significado, por certo, chegaríamos às palavras óbvias, acima citadas: Amor, Paixão,  Infinito.  Já, pela sonoridade, Vendaval, Melancolia, Delírio etc. não tão óbvias assim, porque exigem para ser apreciadas que nos dissociemos daquilo que representam.  Existe palavra mais bonita e contraditória que Lúcifer, com sua sonoridade poética e sedutora e, no entanto, significando o domínio do mal, ou o próprio diabo? Fosse Lúcifer o nome de um anjo do bem, muitas das namoradinhas brasileiras suspirariam por galãs de novelas com esse nome.
            Escutei em algum lugar, mais de uma vez, que a palavra saudade seria a palavra mais bela da língua portuguesa. Nenhum outro idioma a possui num único termo, com a mesma carga de sentimento, intraduzível. De fato, a palavra saudade certamente satisfaria a fórmula acima, tanto em significado como em sonoridade, porém, ainda assim, hesitaria em especular que  seja a mais bela. A palavra mais bela talvez devesse ser aquela que, potencializada pelos sentimentos intraduzíveis da esperança e da crença na superação humana, individual e coletiva,  fosse incapaz de ser contida num símbolo – poderia ser até mesmo uma palavra não dita, ou ainda, aquela que reverbere melhor pelo não-dito que pelo dito.



                                                      





            Quem duvida de que, nestes dias trágicos de tentativas de sufocação da beleza e da vida pelo horror, em Paris,  uma das palavras mais belas do idioma francês, FRATERNITÉ ( fraternidade) ressoe ainda mais bela?

                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com                                                    http://www.joseewertonneto.blogspot.com


Nenhum comentário:

Postar um comentário