Jose Ewerton
Neto, autor de O oficio de matar suicidas
Tivesse eu que apontar 3 filmes
marcantes em diferentes fases de minha vida eu escolheria sem pestanejar: Ben-Hur na minha infância; Dr. Jivago na adolescência e A primeira noite de tranquilidade na
maturidade. (Maturidade, como se sabe, é aquele breve intervalo de vida que
sobra, após a eternidade da juventude).
Ben-Hur e Dr. Jivago foram filmes premiados com vários oscars, A primeira noite de tranquilidade,
sequer pertence aos cânones dos críticos de cinema. As razões de minha escolha
fogem à objetividade da análise dos entendidos em cinema e prendem-se às
sensações que os cristalizaram em minha memória por diferentes motivos. Isso é assunto para
outra crônica, mas que outras sensações, além das existentes somente na
infância, são capazes de perpetuarem-se a partir de um êxtase?
Ben-Hur não representou para a minha
formação infantil apenas um filme assistido e admirado, porém uma descoberta. O
glorioso impacto deu-se quando descortinei, à vista daquela tela, cenas memoráveis quase ao
alcance da mão. Lembro-me de que então, de férias em São Luís, vindo de
Guimarães onde morava, minha tia Rosa Ewerton, que era professora, me levou ao
cine Éden, onde Ben-Hur permanecia em
cartaz. A fita teve uma duração longa e ela, ou porque não tivesse se prevenido
ou porque não contasse com minha reação de não arredar o pé de frente da tela,
acabou chegando atrasada à sua aula.
Além do filme, havia mais: um álbum de
figurinhas onde se reproduziam cenas do filme e que eu passei a colecionar, e a colar com afinco , tornando possível
sedimentar ainda mais o entusiasmo alcançado.
Agora sim, eu tinha à minha mercê
para contemplação a hora em que bem entendesse, a disputa entre o bem e o mal travada entre dois heróis em que,
surpreendentemente, nenhum parecia monstro ou bandido: Ben Hur e Messala; a
corrida de bigas, o sofrimento nas galés, a sorte, a esperança , a
transcendência, a generosidade, o medo, o abraço, o milagre.
Quando vi há duas semanas nas páginas
de Veja o anúncio do filme, descobri, a seguir, que já estava em cartaz nos cinemas
da cidade. Hesitei em me decidir a vê-lo, com receio de macular todo o encanto
que um dia sentira, embora, no fundo, eu soubesse que iria. Existe um jorro incontrolável que nos leva de roldão ao
encontro do que nos magnetizou um dia, sem que possamos recuar.
Claro, não assisti o mesmo Ben-Hur,
nem senti igual deslumbramento , mas
fiquei deveras recompensado. Para ali não fora com o propósito de analisar um
filme ou de comparar uma versão à outra. Fui com a missão concedida a mim mesmo
de rever a emoção que um dia senti, para dizer: “estou eu aqui de volta, sei
que você não é o mesmo, mas vim agradecer pelo prazer que um dia me foi
proporcionado
”.
De forma que se alguém, que assistiu ao Ben-Hur da época, pedir-me um
aconselhamento sobre se deveria ir, eu responderei : Vá. Idem para quem não
tenha assistido a primeira versão. Não sei se o Ben-Hur 2016 é tão perfeito,
grandioso e épico como o primeiro, seguramente não é. Mas, diria que isso não
interessa e que o espectador terá diante de si, mais uma vez, uma narrativa mágica e envolvente. E, com
certeza, mais importante de que uma análise cinematográfica, é encontrar-se diante de uma bela história, com
todas as emoções que ela traz.
ewerton.neto@hotmail.com
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