sexta-feira, 16 de setembro de 2016

A EMOÇÃO BEN-HUR



Jose Ewerton Neto, autor de O oficio de matar  suicidas


            Tivesse eu que apontar 3 filmes marcantes em diferentes fases de minha vida eu escolheria sem pestanejar: Ben-Hur na minha infância; Dr. Jivago na adolescência e A primeira noite de tranquilidade na maturidade. (Maturidade, como se sabe, é aquele breve intervalo de vida que sobra, após a eternidade da juventude).


                                                   


Ben-Hur e Dr. Jivago foram filmes premiados com vários oscars, A primeira noite de tranquilidade, sequer pertence aos cânones dos críticos de cinema. As razões de minha escolha fogem à objetividade da análise dos entendidos em cinema e prendem-se às sensações que os cristalizaram em minha memória  por diferentes motivos. Isso é assunto para outra crônica, mas que outras sensações, além das existentes somente na infância, são capazes de perpetuarem-se a partir de um êxtase?
            Ben-Hur não representou para a minha formação infantil apenas um filme assistido e admirado, porém uma descoberta. O glorioso impacto deu-se quando descortinei,  à vista daquela tela, cenas memoráveis quase ao alcance da mão. Lembro-me de que então, de férias em São Luís, vindo de Guimarães onde morava, minha tia Rosa Ewerton, que era professora, me levou ao cine Éden, onde Ben-Hur permanecia em cartaz. A fita teve uma duração longa e ela, ou porque não tivesse se prevenido ou porque não contasse com minha reação de não arredar o pé de frente da tela, acabou chegando atrasada à sua aula.
             Além do filme, havia mais: um álbum de figurinhas onde se reproduziam cenas do filme e que eu passei a colecionar,  e a colar com afinco , tornando possível sedimentar ainda mais o entusiasmo alcançado.




                                     






 Agora sim, eu tinha à minha mercê para contemplação a hora em que bem entendesse, a disputa entre o bem e o mal  travada entre dois heróis em que, surpreendentemente, nenhum parecia monstro ou bandido:  Ben Hur e Messala;   a corrida de bigas, o sofrimento nas galés, a sorte, a esperança , a transcendência, a generosidade, o medo, o abraço, o milagre.
            Quando vi há duas semanas nas páginas de Veja o anúncio do filme, descobri, a seguir, que já estava em cartaz nos cinemas da cidade. Hesitei em me decidir a vê-lo, com receio de macular todo o encanto que um dia sentira, embora, no fundo, eu soubesse que iria. Existe um jorro  incontrolável que nos leva de roldão ao encontro do que nos magnetizou um dia, sem que possamos recuar.
            Claro, não assisti o mesmo Ben-Hur, nem senti igual  deslumbramento , mas fiquei deveras recompensado. Para ali não fora com o propósito de analisar um filme ou de comparar uma versão à outra. Fui com a missão concedida a mim mesmo de rever a emoção que um dia senti, para dizer: “estou eu aqui de volta, sei que você não é o mesmo, mas vim agradecer pelo prazer que um dia me foi proporcionado 
                                                


”.
            De forma que se alguém,  que assistiu ao Ben-Hur da época, pedir-me um aconselhamento sobre se deveria ir, eu responderei : Vá. Idem para quem não tenha assistido a primeira versão. Não sei se o Ben-Hur 2016 é tão perfeito, grandioso e épico como o primeiro, seguramente não é. Mas, diria que isso não interessa e que o espectador terá diante de si, mais uma vez,  uma narrativa mágica e envolvente. E, com certeza, mais importante de que uma análise cinematográfica, é  encontrar-se diante de uma bela história, com todas as emoções que ela traz.  
                                                                                  ewerton.neto@hotmail.com

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