Existem termos
populares que você nem imagina que tenham sido originados de nomes próprios.
Seus donos acabaram se imortalizando apenas
por causa dessa popularização, o que significa
que ter executado um grandioso feito não é condição sine qua non para ter um
nome eternizado. Charles Boycott é um exemplo disso.
Ele foi um capitão francês que viveu de 1832 a 1897 e teria
ficado obscurecido sob os mantos da história não tivesse sido encarregado pelo conde de Earnes para cobrar impostos
extorsivos de trabalhadores empobrecidos .
Pois Boycott foi tão açodado em sua tarefa , que teve sua cobrança solenemente
ignorada pelos habitantes da região. E,
assim, se tornou o primeiro ‘boicotado’ da história.
Simplesmente aconteceu que, a
uma atitude corajosa de repulsa coletiva
a uma cobrança, faltava um termo que a traduzisse,
o que faz pensar que novos nomes poderiam ser criados para expressar melhor
certas atitudes de quem as executa. O futuro
nos agradeceria se as criássemos:
1.Michelismo. Muitas das ações do
nosso presidente, ou todas juntas, ainda não acharam um termo apropriado para traduzir
a prodigalidade em traquinagens que o personagem encerra!
Como representar com uma só palavra
a atitude de quem chama de bandido àquele que recebe com abraços e beijos,
altas horas da noite em sua residência? Ou cujos homens de confiança manuseiam
malas de dinheiro com endereçamento obscuro? Ou ao mandatário que compra o
apoio de deputados para fugir da cadeia, usando para isso emendas
parlamentares? Que tal chamar a tudo isso de Michelismo?
Isso facilitaria enormemente a comunicação
futura do brasileiro já que, ao que tudo
indica, as falcatruas continuarão. Podemos imaginar daqui a 30 anos um deputado, eufórico, antecipando a grana de
sua emenda aprovada e ofertando-a à sua digníssima esposa “Nosso
Natal chique mais uma vez está garantido!” “Como conseguiu , meu amor? “ Ora, querida,
Michelismo, pra variar. Isso nunca acabará neste país. Felizmente para nós!”
2.Buenada ou Galvanada. Um neologismo
criado a partir das patriotadas de Galvão Bueno (cujo teor se eleva na
proximidade das Copas) poderia definir melhor,
através de uma só expressão, esse tipo de patriotismo de araque e de encomenda que tem sido a marca das
transmissões de futebol na tevê . Buenada ou Galvanada ficaria ótimo.
Substituiria com precisão o que hoje fica entre exibicionismo e histrionismo podendo
sobrepor-se até mesmo ao preconceituoso e
execrável bahianada com que nossos irmãos do sul brindam os nordestinos, toda vez que alguém comete uma asneira .
3.Geddelânia.O termo sumiço já
existe. De esposa, de marido, de dinheiro e de celular etc. Só ainda não existe
uma palavra capaz de expressar o sumiço de 55 milhões de reais.
Geddelânia, inspirada em Geddel
Vieira, o autor da façanha, poderia ser
criada, então, para nomear esse fantástico lugar, onde 55
milhões de reais se amontoam e não aparece dono. Ao invés de Pasárgada, o
paraíso proposto pelo poeta Manoel Bandeira onde ‘qualquer homem teria a mulher
que gostaria na cama escolhida’ teríamos a Geddelânia como esse lugar paradisíaco
da grana farta e sem dono. Assim, ao se indagar a alguém na fila da Loteria, o
que faria com um prêmio caso fosse sorteado a resposta passaria a ser: adquirir
uma Geddelânia. E, assim, resumiria tudo: sumiço, fartura de grana alheia e
impunidade.
José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas
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