artigo publicado no jornal O estado do Maranhão
O que
acontece quando se juntam “Sutil arte”
com “ligar o F**da-se”? Errou quem disse que nada acontece ou pensou em algo
estapafúrdio. Quem se dispôs, como eu, a ver a lista de mais vendidos da Veja e
deparou com esse ajuntamento de palavras chegou à conclusão (com alguma dificuldade) que
se trata do título de um livro.
Já vão longe os tempos em que os
títulos dos livros de autoajuda nos assediavam apelando para referências
religiosas solidárias do tipo “Jesus, o maior psicólogo que já existiu” ou com conversas
para boi dormir do tipo “Você vale o que você pensa”. Parece que a
autoafirmação, nesta segunda década de século, dispensa conselhos filosóficos
ou religiosos. A coisa vai melhor quando se introduz, forçosamente, uma alusão
ao sexo.
Isto posto, impacto alcançado, só resta ao
potencial leitor a tarefa de tentar entender que diabos é isso que estão lhe
oferecendo. Intrigado, me dediquei à árdua tarefa. Avante!
O que significaria ligar o F**da-se?
Até onde eu sabia esse ato não precisa ser ligado na tomada. Ou precisa? Vá lá,
é sabido cientificamente que as vaginas quando excitadas produzem algum grau de
eletricidade, mas como se daria o ato de inseri-las, digamos assim, num fluxo
elétrico?
????
Eipa! Eis que surge outra
opção. Vai ver que o F**da-se não está
sugerindo um movimento, mas subtendendo uma imprecação: a de mandar o mundo às
favas. Parece que estamos diante de um autor que nos dará apoio nesse propósito
(...Mas, cá pra nós, precisa ajuda para isso?)
Huuumm! Como poderia ser também uma
proposta de auxílio para quem queira suicidar-se. Se o verbo está no modo
reflexivo isso significa que encontramos alguém disposto a ensinar o leitor a
se F***, ou seja, a morrer... Heureca!
Metade da questão resolvida, eis que me deparo com a outra parte mais
complicada do entendimento. O mais bizarro agora nem é mais o tal “Ligar o F**”, mas conceber uma explicação
para o que vem antes. Pois o autor categoricamente insinua que, por trás disso,
há uma arte sutil.
Sim, senhores: Nada de Shakespeare, nada dos aforismos de
Millor Fernandes ou de Mencken, arte sutil, nos dias de hoje é ligar o F**da-se!
Confuso, agora, mais que antes, me
deu uma maldita vontade de comprar o livro só para resolver o mistério, o que acabaria
fazendo, caso não contemplasse na lista, outra vez, a mesma palavra. Vi que o
sexto da lista também vai pela mesma onda sexual e o título do livro é “Eu sou foda”, de um tal de Caio
Carneiro. (Portanto, temos F*** pra dar e vender numa lista de livros mais do
que numa edição do BBBrasil)
Enquanto meditava sobre
o que levaria alguém a comprar o livro de um sujeito que se julga foda, sem ser
o Messi ou o Cristiano Ronaldo, me deparei, afinal, com outro título da lista,
este sim, de enorme valia para o momento de ‘dúvida existencial’ que eu
passava. É o terceiro mais vendido, com o título Porque fazemos o que fazemos, de certo Sergio Cortella, certamente um aparentado de Deus para saber
tanta coisa a respeito da gente que nem
mesmo a gente sabe.
Talvez ele conseguisse
me explicar, afinal, o que leva pessoas inteligentes e aparentemente normais a escrever livros
com título como esses.
José Ewerton Neto é autor de O entrevistador de lendas
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